"Sonho é destino". "Dream is destiny". You do it to yourself, you do, and that's what really 'happens'. "Tudo que não invento é falso."

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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Testando fontes, parabéns, feliz aniversário!

Testando fontes



συγχαρητήρια! ευτυχή γενέθλια ou, transliterado, synchari̱tí̱ria! ef̱tychí̱ genéthlia!!(grego)=felicitaciones!feliz cumpleaños!(espanhol)=Glückwünsche!alles Gute zum Geburtstag! (alemão)=Félicitations! joyeux anniversaire! (frances)=Congratulazioni!buon compleanno! (italiano)=gelukwensen!gelukkige verjaardag!(holandes)= おめでとう!誕生日おめでとう ou, transliterado, Omedetō! Tanjōbiomedetō!(japones)=祝賀!生日快樂 ou, transliterado, Zhùhè! Shēngrì kuàilè(chines)=축하합니다! 생일 ou,transliterado, chughahabnida! saeng-il!!(coreano)=поздравляем!с днем рождения! Ou, transliterado,  pozdravlyayem!s dnem rozhdeniya (russo)=تهانينا! عيد ميلاد سعيد! (árabe)= Congratulations, happy birthday!=(inglês)= ขอแสดงความยินดี มีความสุขในวันเกิด! Ou K̄hx s̄ædng khwām yindī Mī khwām s̄uk̄h nı wạn keid transliterado(tailandês)= честитам! срећан рођендан! Ou čestitam! srećan rođendan! (sérvio)= xin chúc mừng! Chúc mừng sinh nhật!(vietnamita)= מאַזל - טאָוו! צופרידן דיין געבורסטאָג! Ou Mʼazl - tʼáww! Ẕwprydn dyyn gʻbwrstʼág! (idische)= selamat! bahagia ulang tahun!(indonésio)= zorionak! pozik urtebetetzea!(basco)= felicitats! feliç aniversari!(catalão)= tillykke! Tillykke med fødselsdagen!(dinarmaquês)= Konpliman! kè kontan anivèsè nesans!(crioulo haitiano)!= გილოცავთ! ბედნიერი დაბადების დღე! Ou gilots’avt’! bednieri dabadebis dghe !(georgiano)= बधाई हो! जन्मदिन मुबारक हो ou Badhā'ī hō! Janmadina mubāraka hō!(híndi)= Onnittelut! Hyvää syntymäpäivää!(finlandês)= čestitam! sretan rođendan!(croata)= מזל טוב! יום הולדת שמחה!(hebraico)!= comhghairdeas! sásta lá breithe!(irlandês)= gratulatione! felix annos!(latim)= tebrikler! doğum günü mutlu!(turco)= grattis! Grattis på födelsedagen!(sueco)= ຊົມເຊີຍ! ຍິນດີວັນເດືອນປີເກີດ: ou somsoeny nyindi vandeuonpikoed(laosiano)= pongezi! furaha ya kuzaliwa!(suaile)= til hamingju! Til hamingju með afmælið!(islandês)= llongyfarchiadau! hapus pen-blwydd!(galês)= palju õnne! palju õnne sünnipäevaks!(esloveno)= gratulálok! boldog születésnapot!(húngaro)= অভিনন্দন! খুশি জন্মদিন! Ou  Abhinandana! Khuśi janmadina!(bengali)= təbriklərimizi! ad günü xoşbəxt!(arzebaijano)= gratulacje! z okazji urodzin!(polonês)= алал да му е! среќен роденден! ou alal da mu e ! sreḱen rodenden !(macedônico)= Apsveicam! daudz laimes dzimšanas dienā!(letão)= "Arete! 'orube akaîu!(tupiguarani inventado por mim agora por junção de palavras!) Parabéns!feliz Aniversário! (português de Portugal)=Meus parabéns!seja feliz e tudo de bom!(em bom “Brasileirês”...hehe)

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Primeiro era o verbo, primeiro era a interpretação; e no fim, também.

Primeiro era o verbo, primeiro era a interpretação; e no fim, também.

 Nosso pequeno mundo se esconde por símbolos e signos, ícone e ídolos (eikon, real, representante do divino, do verdadeiro e eidolon, imagem, sombra, aparência, phantasma¹) e a todo momento fazemos as traduções, as interpretações. Como agora, ao ler este texto. Fazemos as interpretações porque as coisas do mundo não nos são dadas de imediato, mas a inteligência de cada ser consegue desvendar cada mistério que lhes é peculiar.

 A própria verdade pode ser nada mais do que um mito?, indicado por uma interpretação? Não digo "a interpretação", senão estaria sendo presunçoso, e não deixando margens a outras interpretações. No entanto, deixo uma questão que me parece limitante: a verdade é um mito deste mundo?

 A humanidade vive mitos. O mito, por definição, não pode ser questionado. O mito é sempre sustentado por ritos, e rituais. E a ciência, por incrível que pareça, é o seu último ou atual rito sustentáculo. Pois, a todo momento, com ela ou sem, procura-se pela verdade: a mente sã o faz e a insana também; a científica, idem. E nos perdemos nas interpretações, e nos maus julgamentos. Lembramos: interpretar não é julgar. Interpretar é sentir a verdade e expô-la. O julgamento é algo posterior. Então, nesta busca incessante pela verdade, seguimos traduzindo símbolos, interpretando signos, e sustentando mitos.

 Deste modo, é possível se perguntar se os motivos que levam alguém a mentir, sabendo que toda mentira é fruto da má-fé mas é autorreveladora e consciente (no limite, a mentira contém a verdade de não se saber a verdade), não são os mesmos motivos que levam alguém a procurar pela verdade? Quando se busca a verdade, se percebe que ela está sempre presente, mas escondida. Quando se mente, já se conhece a verdade (o existir da), mas a prevalência de escondê-la evidencia-se. Mostra-se superior.

 No entanto, quando se interpreta, se quer a verdade, escondida e transfigurada por símbolos, signos, ícones,  sentidos... Quer-se encontrar aquilo que se parece esconder aos desavisados, distraídos ou mesmo despreocupados. Digo isto porque somente quem percebe o real por detrás de um fenômeno e sente a necessidade de conhecê-lo é arguto intérprete. É arauto do conhecimento e é um ser destemido (afinal, que é maior do que a coragem de expor o real?). O que não quer dizer que os distraídos ou desavisados sejam tolos, apenas têm outro interesse no fenômeno em questão: têm também outra interpretação.

 Evidente, escrevo para um público-alvo amplo, e me pergunto se quem pratica as artes cênicas já não se deparou com esta minha constatação como sendo óbvia, ou falha. Pois, se a verdade é um mito bem sustentado e também uma interpretação, quem trabalha encenando sabe que sua busca pela verdade se fundamenta no seu conhecer da não-verdade, do erro. Quer dizer, somente quem sabe amiúde o que é falso pode se atrever a desmascará-lo e buscar e tentar expôr o real, o verdadeiro; pode agir com locução verbal para encontrar o real: buscar tentando, ou tentar buscando. A matemática da geometria já demonstra o real, o divino: se há um lado visível, há necessariamente outro lado, por vezes invisível.

 E, então, tem-se a dificuldade de transmitir o real:  o real parece mais escondido, desaparece, no mundo de mercados. O real da ciência está numa revista, à venda nas bancas. O real não está gratuito no google. O real da filosofia está nos grandes tratados, ilegíveis porque por demais codificados. O real das artes cênicas está com os grandes atores, nem sempre bem remunerados porque traduzir a realidade pode parecer cruel à algumas culturas...Percebe-se, então, que, de fato, o real está codificado, significado, simbolizado, tem um sentido e precisa ser demonstrado. O real é phainesthai¹. Mas não precisa ser desmistificado.

 Não precisa ser desmistificado porque é justamente o mistério do mito o que inspira a consciência curiosa a descobri-lo, desvendá-lo, traduzi-lo. Ou, em uma palavra, interpretá-lo. No início, o signo ou símbolo tinha conotação religiosa; atualmente a conotação é sequiosa, é perdida e busca em si mesmo um significado. Mas como significar o próprio significado? Por isso o grande questionar da humanidade sobre o sentido das coisas parece uma tônica invariante. Não se sabe que o sentido atribuído é o sentido real. Quer dizer, a própria verdade é a própria interpretação. E invertendo os adjetivos e substantivos temos o mesmo sentido: a verdade própria é a interpretação própria. Simplesmente: a verdade é uma interpretação.

 Alguns filósofos, talvez niilistas, diriam: tudo é a interpretação do falso, porque não se pode conhecer o real absoluto, o ser-em- si, o sentido ou ideal da verdade, o verdadeiro. Pois se se conhece isto, se conhece Deus. Mas será que não é aí que Ele está? O nirvana talvez não seja este achado, esta epifania? Esta percepção de que o real é interpretação? Inclusive a mais cética das ciências, a matemática, também utiliza símbolos para representar algo que deve ser o real, e estes símbolos são todos eles convenções as quais só têm sentido quando decodificados por seus conhecedores.

 Portanto, no início, a verdade estava no verbo, e o verbo sublimou, evanesceu, deixou de passar a mensagem diretamente para ter um intermediário pela linguagem, pelos códigos, pela interpretação, pela palavra. (Mas palavras são só palavras, questionaria um cético Shakespeare). No entanto, o último código, o cifrão, parece querer esconder as verdades últimas; mas perceba, a verdade é uma interpretação. E só se tem uma boa interpretação quando se conhece o máximo das contingências que tangenciam um fenômeno.

 E sim, tangenciam, pois não se pode atingir em cheio a constante da verdade, porque ela não é especial ou relativa como a velocidade da luz e a entropia do universo, mas mitológica, portanto sustentada pelo saber ser inatingível.

 Em suma, a verdade é inatingível devido ao fato de sua compleição ser perfeita à mitologia. Repito: o mito, por definição, não pode ser questionado. Adiantando-me aos fatos, a perfeição verdadeira inexiste neste mundo, ela é também um fenômeno mitológico à compreensão do real. Ora, a apreensão da realidade com compreensão desse fenômeno é advinda de um ideal. Porquanto este ideal é mitológico, a verdade enquanto perfeição, idem é ideal. Então, atentemo-nos: o mundo ideal de Platão fora baseado no mundo real, e não o inverso. Logo, há uma equivalência evidente: o mundo da verdade, do real, é o mundo de um ideal, e a interpretação é somente a busca desse mundo real, dessa verdade.

 Assim, a verdade nunca será alcançada a contento para não se finalizar o mito, para poder continuar existindo. Fecha-se o ciclo. Na verdade, é mais um ciclo virtuoso do que um círculo vicioso. E a interpretação prossegue...mística, mítica e com reticências...
 


¹ do francês arcaico "fastosme", " um sonho, ilusão, fantasia/ aparição, assombração, fastasma;  diretamente do latim "phantasma" , " uma aparição, espectro" do grego "phantasma", " imagem, espectro, aparição; mera imagem, não realidade, vindo de "phantazein", "tornar visível, mostrar" da raiz grega "phainein", " trazer à luz, fazer aparecer; trazer para a luz, ser visto, aparecer, explicar, expor, denunciar,, parecer ser; de raiz do sânscrito "bha", "brilhar, de "bhati", "brilho, resplandecer"....

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

As faces reveladas


As faces reveladas com auxílio da filologia

No início, Drummond viu (e ouviu)
depois a perna que manca constatou
depois a cabeça cética compreendeu,
então sentiu (e consentiu)
[e eis uma face nebulosa, escondida, consentida
depois a mente imaginou
depois o vácuo idealizou
depois a língua deu um trago e propôs.
Sonhamos a sós.

As faces reveladas são oito,
E o infinito se esconde no consentimento.

Y.C.O.


Abaixo segue o texto dissecado.

Poema de Sete Faces - Carlos Drummond de Andrade.

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
 
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
 
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
 
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
 
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
 
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
 
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

Amor é metade



Amor é metade


 Amei-a a metade
Meio amei-a
Meio não a amei
 A outra metade
ela amou.

Yuri Cavour Oliveira

Ocultos sentidos


Ocultos sentidos

O óbvio me atinge
e minha esfinge
esfacelada se calcifica

Estancado no mesmo vácuo
espaço çideral apertado
destilado çessedilhado

Estrofes atrofiam ferozes fontes
de pensamento apensado
ao tempo

Escorregamos por cotovias
ajoelhados com fé
ou cafeína

Marcas extenuantes das
noções profundas sobre
o vazio

Inchamos nosso terreno balde
Cheio de baldios ingredientes
E a mente, mente simplesmente

Mas decerto continuamos acreditando
Nas reticências degringoladas
E Nos nós nos enrolamos ossificados

Padecemos do tipo de espécie dura do crânio
E o cancro de nossas almas tornam-se lamas
Quando crescemos e lamentamos

Então assim sejamos todos crianças e as nossas crias
Sejam tão simples quão positivas
Pilhas-reconfortantes filhas-transigentes

E a gente exige êxito e êxodo
Ao elixir com exegese escasso e escatológico
Partamos!, cantamos mudos

Mudemos, emolduramos tudo
Emudecidos modularemos surdos
E cegos sentiremos o mundo

Não meça esforços
Para medir esforços
E corrigir vossos próprios erros

Ao contrário!

Afirme ouvindo
músicas são repercutidas
pelos amigos sentidos
E repita pelos amigos
Quando senti-los.

Percebamos
Sentimos ocultos
Nossos sentidos.

Impossíveis


Impossíveis

Infinitos caminhos
Alfinitamos vizinhos
E finitos caminhamos
Infinetando vizinhanças
Aos finitípicos caminhantes
Em finitesimais vizinhaduras
Infinitamos caminhaduras
Quando finitos caminhossomos
Infinitado caminhandando
E finissitudes vizinhecendo
Infinitimos caminhozinhos
Para finitar vizinhõeszãos
Infinitantes caminhondulados
Finitossomos vizinhandantes
Aos infinitos caminhantes
E finitos vizinhos
Impossíveis estamos chegando
Ao fim de mais um infinito
Com finitas casas apessoadas
E a infinita caminhada
Em finito caminho vizinho

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A irreverente e séria política


A irreverente e séria política

          Neste primeiro dia de campanha irreverente no Centro, estávamos recém-chegados de um dia cansativo, de campanha na Carioca e Av. Primeiro de Março, e muita “correria” com as placas, que nunca ficavam de pé mesmo com os plaqueiros o dia todo a mirá-las. Em verdade, recebíamos a todo instante uma ligação vindo de um amigo, de um bairro mais distante que o outro, para avisar que havia uma placa caída em algum canto da cidade. Daí o responsável pelos plaqueiros da área tinha de ligar para os plaqueiros para perguntar o motivo da queda da placa móvel e o não levantamento deste importante objeto de propaganda das eleições. E, antes, a ligação sempre chegava aos coordenadores gerais, e ao candidato, sempre muito preocupado com todos os detalhes da legislação.
          E, a propósito, detalhes desde não colocar a coligação no material de campanha ou a tiragem deste, até placas caindo nas ruas ou pessoas, podem incidir em multa. Multa pesada.
          Prosseguindo, então, fomos para as ruazinhas apertadas que darão nos Arcos do Teles e que nas quintas-feiras à noite se tornam um verdadeiro local de boemia. Lá, estando no coração da cidade, perto das Barcas, da Praça Quinze, da Av. Primeiro de Março, da Bolsa do Rio, do CCBB, da Candelária, a presença do público multifacetado é evidente, bem como a quantidade de pessoas é numerosa. Ali as pessoas estão querendo fazer a hora feliz após o trabalho e/ou estudo, o famoso happy hour, e são pessoas atentas à cidade, preocupadas com questões pessoais e profissionais sumárias. E também um pouco cansadas da velha ladainha política. No entanto, essas pessoas, à noite, e já calibradas com álcool, se mostravam dispostas a conversar conosco sobre política.       Sobretudo após lerem nossos irreventes cartazes.  

          A estratégia com os cartazes foi simples. Avistamos as ruelas com bares, bares cheios e cheios de cadeiras e mesas nas ruas (são ruas quase fechadas, ali à noite não passam carros) e, assim, organizamos equipes de três em três. Éramos nove no total. Uma pessoa segurava o cartaz, o apontando para as pessoas sentadas ou em pé junto às mesas, e as outras duas abordavam as pessoas que se interessavam pelo cartaz – imensa maioria. A abordagem era para falar sobre a campanha, distribuindo folders, panfletos da campanha.
          Ao apontar na direção das pessoas os cartazes com dizeres como “Oi, eu sou a Copa, finge que sou a Educação, investe em mim...”, percebíamos comentários e zum zum zum imediatos. Podíamos ler nos lábios das pessoas a repetição da frase do cartaz e a indicação para uma pessoa ou outra da mesa que não havia reparado nesta irreverente propaganda política e, então, a conversa nas mesas mudava. O assunto passava a ser aquele do cartaz. Pronto, missão cumprida. Chamamos atenção para o nosso tema: Educação.
          Amiúde, dentro dessa equipe de nove pessoas uma delas era o próprio candidato. Em primeiro lugar ele observava a reação das pessoas aos cartazes para, então, vendo alguma reação positiva, intervir. Mas, como percebemos que a reação era quase sempre positiva, passamos à pró-atividade maior, e o candidato aparecia entregando o material de campanha, os folders, e falava um pouco de sua intenção como candidato da Educação, lembrando que a Educação ajuda a resolver toda sorte de problemas de uma cidade, desde à saúde até a violência. Uma vez que uma pessoa bem educada deve conhecer bem seus direitos e deveres.
          Mas, de fato, esse conto vai abordar um momento à parte deste dia intenso de campanha. O momento que mais me chamou atenção. Foi quando, após falar com dezenas de pessoas, distribuir panfletos de campanha e mostrar os cartazes, o candidato viu que duas pessoas em situação de rua, aparentemente, se interessavam pelos cartazes e queriam saber do que se tratava. Foi aí que o candidato se mostrou mais humanista, e parou para conversar com aquelas pessoas.
             Enquanto isso, notei que os demais voluntários daquele dia de campanha faziam cara de interrogação, não compreendiam a atitude do candidato para com aquelas pessoas em situação de rua. No limite, deviam pensar, “eles não têm domicílio ou podem ser analfabetos, e, provavelmente, não votam”. Creio que este pensamento se passou na cabeça de muitas pessoas também que estavam nos bares, assim como ouvi de uma delas por alto e cheguei por um segundo a concordar - “aquele cara não vota”, ouvi.
       Porém, conhecendo bem o candidato, sei que ele valoriza a pessoa em si, independente da condição financeira, uma vez que a condição existencial é a mesma para todos - nascemos e morremos. E compreendi que conversar com aquelas pessoas era importante para absorver um conhecimento que poucos detêm, o conhecimento do mais afastado da, e pela a, sociedade.
          Era importante ouvir aquelas pessoas também porque elas provavelmente têm muito a dizer e não tem a quem falar, quem de fora de seu pequeno círculo de convivência. Ficando com seus assuntos e angústias sem escape. Ficando à mercê de doenças psíquicas como a depressão. Ficando mesmo desesperançadas na humanidade das pessoas, que parecem a cada dia perder esta condição de ser humano. Um ser humano verdadeiramente humano. 

          Aquela conversa com aqueles dois jovens homens em situação de rua durou cerca de quinze minutos, e já era por volta de oito e meia da noite. E enquanto o candidato conversava, o restante da equipe continuava a apontar cartazes para as pessoas nos bares, distribuir panfletos e cumprir a agenda de campanha. Abordando pessoas, pedindo para acessar a página da internet, e sempre levantando a bandeira da educação, da importância de um candidato que preza pela melhoria de todo o sistema educacional.
          Mas, de repente, todos pararam e observaram a cena inenarrável de o candidato conversando com pessoas em situação de rua, pois a conversa se estendia, e não se sabia se a campanha continuaria na mesma ordem pelos  bares. E, no fim, fotos desta cena foram tiradas pela própria equipe de voluntários. Estas fotos conseguirei em breve, e as colocarei aqui, junto ao texto.
          Finalmente, creio que a equipe toda da campanha teve neste dia um lampejo do que é ser um político honesto, ou um candidato honesto. O verdadeiro animal político, o zoon politikon de Aristóteles, se importa com todas as pessoas. Não interessando se a pessoa vota ou não, se é perda de tempo, no sentido pragmático da expressão. Ele se interessa em como a pessoa está, o que ela sente, ou o que ela pensa. Afinal, naquelas conversas cotidianas nos bares, os assuntos pessoais e profissionais são discutidos por todos, mas podemos perceber que o exercício de falar das outras pessoas também é uma constante.         
           No entanto, só se fala daquelas pessoas que vivem o sucesso ou o fracasso tentando o sucesso. Fala-se das questões amorosas e afetivas. Dos casos e causos. Contam-se piadas e se ouve filosofias de botequim. O problema é que o imperativo do egocentrismo parece ser sobressaliente, e parafraseando Nelson Gonçalves, parece que “não existe o diálogo, mas um monólogo esperando pelo outro.”        
          Daí, quando um candidato tem uma atitude diferente, de conversar com o outro que é mais distante do que todos outros, o imperativo do egocentrismo é combalido pela humanidade.

sábado, 27 de outubro de 2012

Nascer na praia

Nascer na praia

Entre Arinus e Bocãos

O Sol nasce meio torto
Envolto em casuarinas
E nuvens repentinas

Ao redor um céu cindindo laranjas
flores do amanhã
Níveas nuvens anunciando;
O prelúdio bem-te-vi

E na aurora ou na alvorada
A praia nos aguarda
Para repensar junto ao mar
A frieza do pensar

Com o túmido orvalho
E o úmido murmúrio
Corujas sobrevoam a lagoinha
Despertando no amanhã
Uma tímida andorinha

E o silêncio sucumbe ao mar

Tenebroso gigante e aberto
Como a coragem em peito
Transforma qualquer silente
Em típico lugarejo

E as nesgas e crespas ondas e o ar 
Assobiam ao calar;
Não nos resta outra ideia
A não ser admirar...

Silêncio imposto pelo mar.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Re-ciclo humano


Re-ciclo humano

Ando me procurando pelas cortinas cerradas
Mas repentinas
Fechado no meu cancro me dilacero
E enveneno
Alcoólica lógica me consumindo
À noite

E a sede permanece em éter
Intacta
Vontade de te ver de perto
Rápido, repito. E rapto.
Insisto em escrever em quadrados
Ao teclado

E a rua sozinha fala "estou acordada"
À madrugada
Obrigada pela lei do silêncio
Imposto
Tecendo palavras com meias verdades,
Mentiria

E o que aduz aquela conversa
Arquivada?
É a sua menção ao sentido pungente
Da gente!
A não-resposta seria uma resposta
Mal-criada
De propósito

O assim sofrer é viver em êxtase no sempre
Qual nunca
Criando propósitos para evitar o vácuo vício
Cibernético
Mal respondendo para insistir na distância
Que afaga

Parar de pensar é logo esquecer
Deduzo e estudo
E o sentido vem se impondo aos dedos
Contanto, em tudo
O som se aguça ao pensamento e sub'verte
Omitindo a beleza

Querendo terminar a proeza da prosa
Não degola, enrola
O próprio aflito estanca tremores
E as dores
Bastam
Cessar em estanque enlace
Moral

Não querer nunca findar o descrito
Vivido
Ainda assim fazendo locuções
Tresloucando sentenças com um fim composto e inesperado
Alianças
Jornais revistos

Florestas de palavras, inundadas em belos montes
De cimento
Viram objetos lançados contra correntes de sílabas
Madeira!, Gerônimo!
Destroça os anéis da idade, ao derrubá-los
Em prazos

Contado engenhosamente por cálculos
Carbônicos
Apenas nos restam as penas das aves vogais
Que não voam
Tratamos de toda diversidade de espécie
Valiosa

E o valor só é dado no quando
Compensa
A quem tenha sentimentos pela floresta
De pé ou deitada,
Representando um mundo humano
Do desperdício da vaidade

Utilitária ideia que nos diz impensando:
Re-utilize-se.
Esquecemo-nos do bípede implume
Humanos,
Erramos ao querer mais do que o dever
Podemos?

Assim as penas foram todas caçadas e feitas chapeus
Pseudocaciques!
E um carnaval nada querido
Conversa afiada
Tornou qualquer semelhança amealhada
De índio
Um papo, em beiço
Furado

E a fuga comum ao ser atingido pela ameaça
Da vida
Repete o ciclo demasiado
Enfastioso
E a ânsia fez o favor de pôr fim ao tempo
Então não se sentia o psicológico
Cansaço

Retomava-se o fôlego por mais tempo para dar tempo
Ao tempo
E somente esta palavra mágica faria o trabalho
Pesado
De tentar recuperar a energia liquefeita
Gás
E uma lembrança reaviva a penúltima da pandora
Nobre

E com o tempo, tão somente o tempo,
Esse pesado gás nobre
Mantemos viva a chama, a proteção do jarro e da caixa da vida
A esperança

Da vida boa para a boa morte restamo-nos a sós...
Há lembranças!
Diz-se: tenha a coragem da inocência
Da criança!
Tenha a vontade da verdade,
Do poeta.

Se não tiver, ao menos tente...
De novo!
Em pé de floresta
De palavras!
De mitos!
Emulamos todos sentidos!

E conseguimos com signos
[e motivos
confabular!

Questão resiliente


Luzes que piscam no ambiente escuro
dúvidas serpenteiam

Uma menção à chuva inequívoca
Uma vontade escondida

Revela-se misterioso
Num paradoxo

Ao reler entrelinhas desconfia
E mantém-se cético

O erro não é partir
é não saber dividir

Por isso a questão resiliente:
Quem sempre vence não mente?

Pas de oublie


Le peur c'est un peu de le pire, qui le pluie a frappé à la peau.
Mais aussi est le sonner de chacun chanson de tête en de vent.
Besoin de vivre a la soir à la lune vaguement.
Pas voir une mot unisson, c'est a dire pas de voir clairement.
dit en fait, non être.

"Être ou ne pas être, telle est la question!"
est le sense s'agit, quelque une?
Inexistence ici le presence en foi de dieu.
Le bruit du mér c'est ne pas le peur...
car il est l'espoir de la vie en notre coeur.
comme une constant...

Sans menaçe, sans doute encore avec ame.
quel parler avec le silence sans soit puissance?...
si le esprit c'est nuit toujours ...et le jour c'est toi?
le tais, le tact... toi perdú...?
l'actualité...
on ne peut qu'adhérer...
echapper est mourir
pas que toir.
qui la vie se en fin...

...Mes amis... sont les enfants:
ton rire c'est vrai...
Toujours plus dure que le fait de choisir non vivre
mais le suicides avoir de raison une opinion:
est  l'obligation de courir son penser et
Au même temps ils ont oublié notre religion: le amour-propre
et le même ou mêmes amour.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Tal vez

Tal vez

Talvez tenhamos uma vida idêntica
talvez façamos o mesmo caminho
talvez nos cruzemos nas esquinas
talvez corramos nos mesmos dias
[apressados
Talvez nademos com a mesma vontade
talvez gostemos até de chocolate
talvez não bebamos café
[descafeinado
Talvez não percamos a fé
talvez cheguemos no mesmo horário
talvez sempre nos questionaremos
talvez nunca nos perdêssemos
tavez até nos conhecêssemos
[no passado
Talvez nos reste tirar o talvez

Tal vez a vi dobrando a esquina
[-Com força!
Tal vez pensei que não estivesse viva ainda
Tal vez lembrei que era muito animada
Tal vez reparou que era engraçado
Tal vez que se vestiu de palhaçada
Tal vez a encontrou no metrô
Tal vez sentiu seu perfume
Tal vez única, era o odor da pele ao sol
[Lembrava-se
Tal vez faltou-lhe a memória

Mesmo assim lembrou-se da estória
E a estória era a história
De lembrança passou a certeza
Certamente a sua presença
Fê-lo de novo inteiro!...
Vê-la de novo sorrindo...;]
Foi como um sonho, lindo!
Mas foi melhor
Porque real!

Talvez o futuro seja o presente
E o passado não seja mais que perfeito
Do que a condição de estarmos pensando
Nas mesmas indicadas possibilidades de antes
E que o imperativo não passe (de) uma vontade!...
[de presente conjunto, ou do futuro talvez

Em tal vez nos remetemos 'as boas lembranças
Então recuperamos, sim, todas'as esperanças!
E lembrando-esquecendo, percebemos, as esperanças têm asas.

Espero que estejamos compreendendo
Que nunca esquecemos quando queremos
Mas quando tentamos lembrar...
Tal, ou qual, vez!

domingo, 2 de setembro de 2012

Inteligente é o flagelo...

Inteligente é o flagelo..."o flagelo bacteriano é activado por um “motor” rotativo composto de proteínas, localizado no ponto da membrana interna onde o flagelo tem a sua origem, e é movido por um fluxo de protões, causado por um gradiente de concentrações originado pelo metabolismo da célula."

isso foi uma excelente tradução da wikipediahttp://en.wikipedia.org/wiki/Flagellum

A questão é...você pode saber se mover, mas como saber para (a)onde ir? fácil, siga o gradiente de concentração... se mova na direção que seus prótons indicam...a diferença de polaridade é tudo... opostos se atraem e por aí vai...gregos e a cara metade já viam isso... o instinto não existe, tudo é uma questão de reflexo.


sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Forrest Gump - Bom dia


  Forrest Gump - Bom dia

Se acordo de dia, dou bom dia ao dia
Ele traz sempre a luz
Às vezes acordo 'a madrugada, mas não dou bom dia
Ela, silenciosa, não me diz nada

Na mesa tomo o café, leio as notícias
Dizem-me que o mundo é cruel,
Escrevem de guerras
Uma abelha me pica, luto com ela
Corro atrás dela, ela me persegue,
E, após a dor, a recompensa
Acho meu doce favorito da despensa,
Acho mel

Vou trabalhar atrasado
Meu relógio não se move
Sempre vejo o lado positivo da pilha
O negativo me atiça
Preciso de uma bateria nova
Aprendi a cantar, não toco
Leio partitura, não critico

Almoçando penso sozinho
Tive azar ou revés
Fui para a guerra, perdi uma perna;
Dei sorte, hoje sou para-atleta
Ganhei medalha por honra
Hoje luto por ouro

Mas a luta é a vida em si
Já é um tesouro

Nessa corrida de atleta, manquitolo
Sempre me atraso, e me apaixono
Porque vejo não só no espelho a beleza
Mas em toda a natureza
Hora de partir

Pela janela observo corpos à orla
A crueldade é nua
A nudez, inocente
A maldade nós colocamos
E a bondade devemos espalhar

No rádio ao retorno, filosofo
Não basta no mundo após o moderno parecer ser bom
É preciso ser
E diria Caetano, é preciso só ser.
Só ser seu., diria eu.
E fui.

A praia

A praia

A lagoa não reflete o céu, azul
o azul não reflete a lagoa, céu
o céu não reflete a lagoa, ao sul
o reflexo é da natureza, do instinto
e isto deve nos ser comovente
repare nas sequisoas semelhanças
anote a compleição da realidade
o verde e o azul são pares
E apenas o horizonte os separa.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Porque política


"A verdade está em alguma parte, mas é inútil pensar; não a descobrirei e, no entanto, vivo dela"
Clarice Lispector


Porque política

 Que é a cidade
que é a política
que é o cidadão
que é a justiça
quem vive na cidade
é cidadão
é político
política é polis
polis é cidade
cidade é desenvolvimento
cidadão vive na cidade
cidadão tem direitos
a justiça garante direitos
e deveres
cidadão tem deveres
fazer política é fazer justiça
a justiça busca a verdade
buca a igualdade
busca isonomia
busca a diferença
busca a liberdade
busca a razão
a razão busca a verdade
por isso repito o que disse Aristóteles em IV a.C.:
"o homem é por natureza um animal político".

Yuri Cavour

Vivemos?

Vivemos?

A verdade era produto do triunfo
Hoje é produto da razão
A verdade está no passado
A razão está no passado
A razão está na verdade
A verdade tem a razão
Temos testemunhas da verdade
As testemunhas viram o passado
As testemunhas têm a razão
Têm a verdade
Por isso a justiça
A justiça usa testemunhas para contar a verdade, vista no passado
Perdemos a prática da verdade
Vivemos na virtualidade
Vivemos no que pode ser, não no que de fato é, ou foi
Vivemos na especulação
Logo, não vivemos
Não se vive sem verdade.

sábado, 11 de agosto de 2012

Se procuras alguém que não te procuras,
Não perdes tempo,
Tens a chance de encontrar outro alguém.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Pedintes


Pedintes
Sejamos honestos, ninguém gosta de ser atrapalhado quando está conversando. Quando, no entanto, um pedinte lhe interrompe a conversa no bar e você diz que não tem dinheiro, das duas uma: ou você está mentindo ou é caloteiro.
          Se estiver mentindo, há o embate na consciência, pois a mente humana é sã, e odeia mentir.  Se estiver mentindo, talvez você seja indiferente. Pensa que o meu, ou o eu, não tem nada a ver com o teu, ou o alheio. Se estiver mentindo, talvez esteja na continha, duro, sem grana para doar. Se estiver mentindo, talvez ache muita folga. Ache inconveniente. Se estiver mentindo, talvez seja do contra. Contrário à postura pedinte. Mas como conseguir algo sem tentar? Esse questionamento vale para tudo na vida.
Nu: o pedinte apenas pede. Às vezes atua, dramatiza, e até implora. Mas pede. Doar é opção. É algo moral. Tem a ver com a consciência que reflete. Mas esta uma situação deve lhe parecer inédita: chamar o pedinte para conversar e beber com você. Sim, isso eu já presenciei. E, pra dizer o mínimo, achei curioso. Não me lembro na íntegra do assunto entoado na conversa, mas evidentemente o interesse inicial é pelo estilo de vida. E esse interesse inicial é mútuo. O pedinte quer saber o que o puxador de conversa faz, e vice versa.
Então, passado o puxar e desenvolver da conversa vem a indagação: você já viu alguém fazer isso? E porque será tão rara essa cena? Será que a conversa cotidiana que você tem no bar é muito diferente da conversa do pedinte? Não lhe resta um pingo de curiosidade? Então, fica o desafio. Da próxima vez que alguém for lhe pedir trocados enquanto você está em altos papos no bar, convide essa pessoa à conversa. Se ela aceitar, será surpreendente. Até divida a conta com ela no fim. Calcule igualmente. E veremos...a pessoa vai se sentir mais humana. Afinal que diferença essencial há entre você e ela?

09/08/12



Sem querer ser apocalíptico já sendo, vejam....http://d24w6bsrhbeh9d.cloudfront.net/photo/4964621_700b.jpg

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Omnibus; Para a Educação; Para Todos

26/10/2013
Omnibus; Para a Educação; Para Todos

(repost de 2012, atualizado/modificado)

          Teorias econômicas são importantes (afinal, não se vive sem dinheiro, diria o apedeuta), e teorias políticas também. Pois bem, este artigo rememora trechos de teorias políticas que nos auxiliam a pensar um projeto de Governo e dá base, fundamenta teoricamente os nossos pensamentos do projeto para a Educação.

      Como se sabe, para Políbio, historiador grego do século II a. C., todos Estados passariam necessariamente por uma physis (um ciclo natural de nascimento, crescimento e morte), por um anakul sis politei n em grego, ou em português, um ciclo de constituições. Isto é, todas as formas de governo assinaladas por Aristóteles (IV a.C.), a quem se refere como O Filósofo, estão neste ciclo, seja a forma Democrática, a Aristocrática ou a Monárquica de governo; ou suas deturpações em Oclocracia (ou Anarquia), Oligarquia e Tirania, respectivamente.

             Em verdade, este ciclo é necessário, mas não natural; é algo episódico, repetitivo, é, portanto, um fato observável (e também um fato não desejável, ou mesmo maligno). Com este ciclo, necessariamente, da tirania se passaria à monarquia, até haver o ordenamento no Estado com um sistema melhor de governo, como uma Democracia, ou ainda melhor com uma Politeia. De fato, o único sistema de Estado estável seria àquele que escapa desse ciclo. Seria a Politeia, para Aristóteles, que assimilaria o melhor da Democracia, da Aristocracia e da Monarquia (formas viáveis, definidas de Governo, segundo Aristóteles).

         Por outro lado, a palavra Politeia pode ser traduzida por Constituição, significando a distribuição formal de autoridade para tomar decisões com um processo de tomadas de decisões universal, no qual todos os cidadãos participam.

           Acontece que cada forma de Governo, de sistema de ordenamento do Estado, tem suas virtudes, e somente a deturpação destas virtudes acarretaria o decaimento do Estado, a sua degeneração. E esta ideia tem a ver com a corrupção dos fatos que garantem a estabilidade de um governo; tem a ver com a própria corrupção dos agentes do governo.

           Textualmente, pode-se lembrar de que nessa ideia da corrupção de um bom agente pelo excesso,  sobrevalorização de seus bens individuais sobre os bens comuns, e suas pretensas qualidades individuais, há algo da chamada hubris da Tragédia Grega. E esta hubris nos remete ao conceito de Aristóteles de que a ditadura de um bom (agente de governo) sobre outros era crucial tanto para fazer o bem prevalecer quanto para arruiná-lo; de fato, a sobreposição de um bem individual sobre um bem coletivo seria fatal tanto para aquele que governa quanto para quem é governado.

       O que estamos falando é que isso pode arruinar o governo quando isso se chama corrupção no governo; isto é, querer obter o melhor para si apenas, e ainda tirando do todo, dos outros. Pois, em qualquer forma de governo no qual um bem particular de um grupo é tratado de forma idêntica ao bem do todo, há algo de um governo despótico. Em outra análise, isto se aproxima de um pensamento utilitarista.         

          É preciso explicar que a hubris grega seria, em resumo, um embate com as forças do espírito humano, por assim dizer. Porque a tentação, a oportunidade, a boa índole, a corrupção estão sempre presentes; e algumas destas forças estão tentando confundir o bom espírito, o espírito verdadeiramente humano. Outras dessas forças querem indicar o bom caminho, a tomada de decisões acertadas, justas.

              Mas os gregos não são unânimes, e tampouco estão sozinhos nesta discussão. Por exemplo, para os Romanos do medievo esta separação entre a Fortuna e a Virtus seria normal, natural. (Com Fortuna estamos nos referindo ao sentido de sorte ou azar, chance-em inglês-, ou oportunidade, que pode decair em mau oportunismo; em verdade, o conceito de Fortuna torna-se mais claro com a leitura de Maquiavel [1469-1527]; e Virtus é referência ao conceito também medieval que degenera atualmente na palavra "virtude").

            Ademais, a Fortuna seria a adversária onipresente, em qualquer sociedade, da Virtus. Assim, somente o embate das virtutes (ou virtudes) de uns com as virtudes de outros, somando assim as virtudes de todos e achando um equilíbrio, poderia vencer, ser gloriosa, impor a ordem sobre a fortuna, sobre o oportunismo indelével, degenerado, corruptor.

              Acontece que cada virtude, para não degenerar, tem de estar correlacionada com o todo, não pode pensar apenas no individual. Ela tem de subsistir de forma autorreflexiva e com reflexividade extensiva: ela tem de existir pensando-se em relação, de forma relacional, com o(s) outro(s).

  Repito, ela tem de existir pensando-se em-relação-com os outros. E é isto o que a vida política deve proporcionar: pensar com muitas pessoas, ouvir, debater, afirmar, questionar; propor. Isto tudo para, enfim, lutar para melhorar o que não está bom, manter o que funciona, e almejar novos horizontes...
            Com isso, se percebe: a degeneração das virtudes é um problema moral: se o indivíduo pensa apenas em obter o melhor somente para si, sua ética é pouco universalista; ela é individualista. Sua moral será individualista; este indivíduo, esta pessoa será, no limite, egoísta.

            Por isso, ao se pensar o processo político, e um problema político, as questões imediatistas e individualistas devem ser deixadas para segundo plano. Já as questões que garantirão o sucesso e as estabilidades futuras, tanto econômicas quanto sociais e políticas do todo, devem ser pensadas em prioridade.

              E assim, bom é um projeto para a Educação que não está escrito no tempo da physis aqui citada, que tem um ciclo de vida; mas um projeto que pensa no universal, no acesso ao conhecimento por todos, na garantia da qualidade para todos, em todos os lugares, em todas as épocas. NÃO  um projeto eleitoreiro (com "eleitoreiro" entende-se algo inventado para um candidato se eleger e depois de eleito o projeto é descontinuado). E sim um projeto de Governo, mais ainda, de Estado. Algo que  garantirá o sucesso e a estabilidade futuras.

Yuri Cavour.




O minuto

O minuto é o tempo da precisão.
não há necessidade demais, nem pudera,
tampouco menos, ainda pior seria.
E quando se fala conotativamente em precisão
Fala-se de navegação. E das oito faces dos poemas.
A andorinha que cresce estima ir
aonde o vento deixa seu sustentar
ser submisso no inconsciente silêncio.
Pára no ar para cansar a já fatídica
tornada forte, que suspira e arrebenta
um transeunte relapso, de cima a baixo.
Recolhe tudo da sabedoria, deixando-a
Desnuda. Agora, a usada palavra, esconde.

Não há mistério que ao segredo não se revele.

O medo se esconde do perigo constante
para sair da nova reentrância do gênio.
Os fios novos são longos, esguios, pois repelem
todo e qualquer intento, arrepiando más ideias.

O compacto resumo da história não passa
por cima, ou ladejando, as premissas praias.
Pois sabem todos os ambíguos solos férteis:
só perpassa alento o tal imposto inverso,
o que se passa na mente de quem rebusca
o mesmo inúmero vagar de ideais idos,
dos dias de glória, ao perdedor ilusionado.

Mensagens impactantes parecem ressoar,
mas, no farol, o forte luzente protege o náufrago
pelo tremer da incansável falcatrua dúbia.
Não cadece de carnes de espécie dura,
a limpidez está na ordem da leitura.

Quem bem enxerga, bem não-vê senãos outros.
Escolhe o quê idêntico à lógica física:
Descendo, a maré empurra o riberinho;
subindo, a rampa entorce o calcanhar;
de encontro à morte está a vida longa.

Ao difundir mentiras, a si esquece,
e o resto morfo complica, apodrece.
Fazendo o favor de limpar, o grosso,
resta, não apenas das galinhas, o osso.
O do ofício digno, não o do encosto.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Economia e o problema do século sem luzes

   Somos pequenos demais para caber(mos) no tempo. O problema é a lógica temporal. No campo da economia, ao fazermos a análise da situação econômica de um certo país, esquecemo-nos de levar em consideração a problemática da nossa breve estadia nesse mundo. Levantar dados de governos e verificar que a economia da Noruega vai bem e está com um futuro sustentável e satisfatório, a médio prazo, é simples; simples porque o prazo é não-mais-que-médio.

   Mas, a longo-prazo as coisas se complicam. Exemplos práticos: O sistema capitalista pós revoluções industriais teve seu ápice e crise em menos de 50 anos; bem como a revolução das repúblicas socialistas soviéticas obteve sucesso por menos de 50 anos. Crer que a situação econômica de uma país frio e calculista serve de comparação para com a emergência financeira de um país quente e  variável é, no mínimo, incoerente. Ao pegarmos os países-modelos capitalistas e fazermos um breve estudo histórico de como estes enriqueceram substancialmente nos últimos dois séculos, repito, dois séculos, compreenderemos porque a situação econômica dos frios países europeus é tão amena.

   Quer dizer, se, hoje, há no mundo pobreza, é culpa do capitalismo; se há riqueza, também é culpa do capitalismo. Ou dos capitalismos. Ou seja, se não houver mudança da forma de Governo não haverá mudança nas disparidades socio-econômicas? Não necessarimente, há vertentes para todos os gostos.

    Para esclarecer ainda mais, em pouco mais de duzentos anos de história de humanidade a Europa sofreu com a peste bulbônica e com diversas pequenas revoltas contra governos feudais, monárquicos, absolutistas, injustos, e quase teve sua população extinta, e, em compensação, obteve avanços nos campos políticos - bastante devido à Maquiavel-, econômicos e científicos de uma maneira geral, devido a iluminados filósofos e estudiosos afins com mentes visionárias, "além de seu tempo".

   Assim parece que se não fosse por uma centena de meia dúzia de intelectuais e visionários da época da crise da monarquia europeia, certamente ainda haveria simplórias doenças infecciosas super espalhadas, combates armados com espadas e escudos, por terras e metais preciosos, intermitentes ignorância e atraso por parte das pessoas e, consequentemente, das tecnologias. Mas isso não existe mais!... Certo?

   Entretanto, o mundo não se restringe à Europa. Porém, o mundo oriental também caminhava a passos largos em direção ao abismo do sistema governamental e sofreu bastante influência das ideias que circundavam o Velho Continente, por questões comerciais e pela integração, das esparsas sociedades, que aquelas degeneravam, na idade das luzes e da Revolução Francesa, além das subsequentes independências americanas . A dependência econômica do continente africano hoje existente nem é preciso ressaltar, os verdadeiros quoscientes e produtos de uma bem multiplicada e mal dividida exploração por madeira, metais e escravos, desde a época do descobrimento da América pelos Grandes Navegadores.

   Explicado o passado recente de nossa civilização moderna, mas não muito educada, pergunta-se ainda: a culpa não é do capitalismo e da propaganda enganosa? Enriquecer licitamente é possível? Ou enriquecer é um paradoxo do ser lícito? Provavelmente a resposta é tão simples como pouco ordinária. Em uma análise econômica enviesada, se para ganhar peso é preciso desequilibrar a balança, então enriquecer só é lícito se a sua riqueza for proprocional a equiparação das outras riquezas, em uma tendência de distribuição perfeita. Mas, lembrem-se: o sistema capitalista ideal é perfeito em desequilibrar a balança pondo pesos descabidos em um dos pratos ao retirar pequenos pesos do prato oscilador adjacente. Se, para haver enriquecimento, houvesse um meio de distribuição perfeita dos pesos, transformando seus valores, repartindo-os e tornando-os mais próximos em forma e conteúdo - e densidade- seria justa a forma do sistema, mas isso não é possível. Não é possível porque o sitema só se mantém pela desigualdade. Igual a tudo na vida?

   Em verdade, querer combater tal sistema parece um sonho, uma utopia, se soluções dignas não são apresentadas, se teorias econômicas não são elaboradas. Mas soluções existem, e somente a burocracia poderia impedir a destreza do aplicar das soluções; e somente um paradoxo pode evitar que tais soluções sejam implantadas em tal Forma de Governo: o paradoxo do fogo-amigo.

   Este recém-inventado paradoxo supõe que se houver uma tentativa para solucionar um problema criado pelo sistema capitalista-consumerista a mesma irá, ou cair no entrave político-burocrático ou apresentar-se-á como uma solução encontrada pelo próprio sistema para se aperfeiçoar, o que seria lamentável e falso em concomitância.

    Lamentável porque somente a barganha política (e isso existe em qualquer forma de governo, seja capitalista seja socialista!) poderia destravar uma votação nas câmaras alta e baixa para sacramentar uma medida de contenção criada por um político de cargo inferior ao de presidente da república.- Pois somente esse poderia aprovar uma emenda constitucional ou medida provisória, de caráter além emergencial, fundamental.- Finalmente, seria falso, porque a solução é apenas paliativa e surge de um problema que não existiria em outro sistema de governo. Correto? Não necessariamente. Depende da teoria política aplicada por este governo em outra forma: e isto explica em parte a falência da união das repúblicas socialistas soviéticas: a iniquidade persistia, mas os atores é que mudavam.

   Supõe-se que, em se tratando de política, a solução é deixar de ter vergonha na cara, ser hipócrita, e continuar fazendo de tudo para que os pobres fiquem mais pobres ainda e os ricos mais ricos ainda! Essa é a solução do louco que compreende ser o caminho a auto-destruição, a falta de misericórdia, o fundamentalismo da ignorância. O ser-humano pouco religioso.

   Mas, agir da forma oposta seria impossível, impensável, improvável, incompreensível, incomensuravelmente uma covardia, imprevisto, indigno, num mundo desacreditado, deseducado, descapacitado, desiludido, destemido de lutar, talvez até déspota.

  Evidente que não! As teorias econômicas estão aí, estudemo-las!

set 2008

Comentem à vontade e a vontade de vocês também...

requero

Requero

Quero te escrever
Tenho que escrever
Não posso esquecer
Quero lhe ver
Tenho que lher ver
Porém não é só querer
É ter
e não ter
É sofrer
e sofrer
É dor

Tenho o que não quero
Pois tenho
Dor.
E não tenho o que quero:
Te quero,
Amor!

Quero-te tão bem
E quando quero
É sério.
O querer não é o ter
Mas te ter
Eu quero.

E quero porque sei
O que espero.
Esperar não é sofrer
Só se espero
Porque quero.
Mão não quero esquecer,
Sofrer e escrevo,
E espero
Porque te quero.


Requero que te quero:
Quero-te tão bem,
Sim,
Eu quero!

Yuri Cavour



Sem querer

Eu em ti doçaria
Em mim guloseima
Eu só te quero porque mudo
E a todo preço entendo

Se é a felicidade isso
Não preciso mais do tejo
Nem de súplicas
E nada além do que vejo

Seu todo vivo olho
Seu sorriso sincero
Seu cabelo e corpo
Sim, eu quero!

Mais adentro à alma
A faz a um segundo da calma
Do medo e do sossego
Há alma viva
De cor de tijolo
Sei o que se passa

E quando vê a criatura
Serena presença
Alegra-se, se entorpe
Como um sinal da vida
Como a pureza da esperança
E do querer
Que a alma venha perto

E consegue, encanta
Assusta e atrae
Assim desliga a chave mundo
Preocupação pelo instante
Vívido não pensante

E num pulso
Pula o quadrante
Do impulso rotacista
Da letra final do amor

Yuri Cavour jun 12

Sussura-me

Sussura-me

Gosto de falar ao ouvido
Pois o sussuro não pode ser ouvido
Por quem não sente ou sabe aquilo
Que por ti tenho sentido.

Se eu pudesse comparar você,
Diria que é como a flor
Mais bela que ninguém ousou
Cheirar até o interior.
Pois, se a beleza externa é clara,
A mesma interna é a culpa
Do meu sentir abrupto.

Carinhosa e manhosa assim
Não imagino ninguém mais...

Feliz por saber esperar
Chegar, e ao momento confessar...
Quero ser mais nítido!... sem lhe ferir.
Mas o mole coração é indireto...
Uma vez atingido pela flecha, perde-se
O tato, e todo o sensível ato
consome-se.

Sem pressa, responda-me:
Confias em mim tanto quanto
Em ti confio?
-Para meu espanto!
Pois não sou um tipo frívolo,
E és um exemplar distinto.
Mas, exatamente, o mesmo que duvido
Existir por ter perdido-me.

Não sei mais para onde ir
sem pensar, um momento, em ti!

Yuri Cavour
04-08

parnásio

domingo, 8 de julho de 2012

Alguma coisa em seu olhar

Alguma coisa em seu olhar

Alguma coisa em seu olhar
Alguma coisa no jeito de se mover
Imagino talvez ao seu vestir
Talvez ao não vestir

Não é possível estar sempre de acordo
Mas de acordo com o tempo ela varia
E se rima conformando a meteorologia
Sua face é nuvem branca
Seu corpo, monte esculpido
E no mar do amanhã se põe seu olhar

Bom dia é estar próximo a ela
Boa noite é esperar o amanhã
E nunca é boa tarde, porque nunca é tarde

A voz rouca do pensamento não falha
Mas também não é bem ouvida
E transmiti-la é essencial
Transmitir a ela

Porém é difícil sabê-la
porque não tê-la
é sofrer
Como diz o provérbio inventado

E apenas mais um respaldo
Cabe ao paço, estátua
Num passo não destro
Ao cabo, não resta outro fim soldado:
É esta!

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Bóson Higgs




Salvando posts...utilizo-me mais uma vez, como em maio de 2008 do conteúdo deste blogue descontinuado aqui http://leo-motta.blogspot.com.br/2008_02_01_archive.html para salvar conteúdo antigos...viva o bóson de higgs e manteremos atualização do assunto...


A História das partículas dos últimos  trinta anos (trinta e quatro anos)

 Uma das alegações mais comuns de alguns livros de divulgação que tratam sobre supercordas é a de que a física de partículas esteve mais ou menos congelada do ponto de vista de novas idéias teóricas nos últimos 30 anos. Woit,Greene, Kaku são exemplos de textos com essa alegação: após a descoberta da unificação eletrofraca e dos métodos de cálculo nas chamadas teorias de calibre que aconteceram nos anos 60 e 70, pelos últimos 30 anos a física de partículas apenas viu confirmação do cenário teórico geral estabelecido, sem necessidade de novas idéias.

Isso é verdade em parte, mas não é toda a história. tongue Como eu quero mostrar neste e nos próximos posts, a física de partículas nos últimos 30 anos foi um terreno muito fértil para problemas desafiadores e grandes dificuldades teóricas, que acabaram por desenvolver uma série de novas e importantes técnicas que mudaram drasticamente a visão da física fundamental que se tinha nos anos 70. Algumas dessas idéias ainda serão testadas no LHC, e dada a situação extremamente obscura da nossa compreensão de alguns problemas da física de partículas, é bem provável que algo completamente inesperado possa surgir nos próximos anos, criando ainda mais excitação para novas idéias.



A descoberta das teorias efetivas

Na década de 40, Freeman Dyson descobriu que teorias de física de partículas com certas características tinham uma receita simples que permitia calcular qualquer fenômeno físico e obter uma resposta finita. As teorias que satisfazem os critérios de Dyson são chamadas de teorias renormalizáveis. Outras teorias pareciam simplesmente prever que qualquer processo físico teria probabilidade infinita de ocorrer, o que não faz sentido uma vez que nada pode ter mais que 100% de probabilidade.

O problema técnico resolvido por Dyson foi o principal motivador do desenvolvimento da teoria eletrofraca e da cromodinâmica quântica: ambas são teorias renormalizáveis. No entanto, no final dos anos 70, o gênio Steven Weinberg mostrou como fazer cálculos com qualquer teoria em física de partículas. Ficou claro que as teorias renormalizáveis são apenas um caso particular de teorias mais gerais, e que correspondem apenas a uma primeira aproximação. As teorias mais gerais são hoje genericamente chamadas de teorias efetivas (antigamente chamadas de não-renormalizáveis).

Esta descoberta impulsionou uma série de desenvolvimentos muito importantes, em especial para a física da força nuclear forte, pois é impossível usar a QCD diretamente para estudar hádrons em baixas energias. Porém, é possível escrever teorias efetivas que descrevem hádrons mas que são intimamente relacionadas com a QCD. A relação das teorais efetivas de hádrons com a QCD é a mesma entre as teorias que descrevem a magnetização dos materiais com a física atômica: ao invés de começar do problema do movimento de N átomos, ignora-se todos os graus de liberdade dos átomos, exceto o momento magnético, e constrói-se então um modelo para a interação de N momentos magnéticos. Desse modo, foi possível durante os anos 90 fazer cálculos analíticos de propriedades dos hádrons partindo da QCD. Em especial, Mark Wise, Mikhail Voloshin e Nathan Isgur descobriram no final de 1989 uma nova simetria das interações fortes, e desenvolveram uma teoria efetiva com base nesta simetria que permitiu calcular analiticamente o comportamento dos mésons que contém quarks charmed e bottom[1]. Esta teoria é conhecida como a teoria efetiva de quarks pesados (HQEFT), e antes dela pensava-se que somente cálculos numéricos complicados da QCD poderiam providenciar previsões para as propriedades dos mésons com quarks charmed e bottom. Os três receberam em 2001 o Prêmio J. J. Sakurai de Física Teórica da American Physical Society pelo desenvolvimento da teoria e suas conseqüências.
O problema da hierarquia

Um dos componentes fundamentais do modelo de unificação eletrofraca da física de partículas é a existência do chamado bóson de Higgs. No entanto, em 1979, Kenneth Wilson mostrou que a existência do bóson de Higgs constitui automaticamente um problema[2], hoje conhecido como o problema da hierarquia.
Wilson percebeu que a contribuição das partículas virtuais para a massa do bóson de Higgs é da ordem de 1019 GeV [3]. No entanto, a massa do bóson de Higgs é experimentalmente vinculada para ser da ordem de 100 GeV. A única solução é ajustar um parâmetro da teoria em mais ou menos 17 algarismos significativos para ser idêntico a contribuição das partículas virtuais:
Massa do Higgs = (parâmetro da teoria) + (partículas virtuais)

Qual a razão do parâmetro da teoria provocar um cancelamento tão perfeito da contribuição das partículas virtuais? O Modelo Padrão não tem uma resposta para essa pergunta!
Isto levou logo em 1979 Leonard Susskind [2] a propor uma alternativa a existência do bóson de Higgs, a teoria conhecida por Technicolor, que prevê a existência de uma nova força forte na Natureza. Mais tarde foi percebido que a supersimetria também resolve o problema da hierarquia, pois a contribuição de cada partícula virtual do Modelo Padrão para massa do Higgs é cancelada por uma partícula de spin diferente.
No entanto, tanto a supersimetria como Technicolor eventualmente requerem um certo ajuste arbitrário de parâmetros e simetrias discretas para poder evadir o problema da hierarquia, o que na prática não o resolve completamente, apenas o transfere para um outro lugar: a tentativa de justificar as escolhas de parâmetros nestas teorias.
Durante vários anos não surgiu nenhuma alternativa viável para supersimetria ou Technicolor, até que em 1998 Nima Arkani-Hamed, Savas Dimopoulos e Gia Dvali mostraram que se existem mais dimensões espaciais no universo então há um cenário possível que resolve o problema [4].
Descrição: http://images.iop.org/objects/physicsweb/world/13/11/9/pw1311093.gifSe há dimensões extras no universo, então a potência irradiada por grávitons que podemos observar nas 3D é menor que a potência total irradiada, devido ao fato que parte dos grávitons se propagam nas dimensões extras. Sendo assim, é possível ajustar a constante da gravitação de Newton para trazer a escala da gravitação quântica para aproximadamente 1 TeV. Isso resolve o problema pois nesse caso a contribuição dos pares de partículas virtuais seria da ordem ~ 1 TeV, que é apenas uma ordem de grandeza diferente da massa do Higgs, ao invés de 17 ordens de grandeza.
O trabalho de Nima e Cia. abriu uma nova arena para a construção de alternativas ao Modelo Padrão. Atualmente, o mais estudado é o modelo de Randall-Sundrum[5].
Nos modelos com dimensões extras há novas partículas, pois para cada partícula há um campo associado (por exemplo, para o fóton há o campo eletromagnético) que agora pode "vibrar" em mais dimensões. As vibrações nas dimensões extras são percebidas como partículas elementares, chamadas de parceiros Kaluza-Klein. Então, por exemplo, para o campo eletromagnético há o fóton e toda uma torre de excitações Kaluza-Klein de massa ~ 1 TeV. Todas essas partículas poderiam ser, em princípio, observadas no LHC (indireta ou diretamente).
É extremamente excitante imaginar que daqui a poucos anos poderemos obter de um experimento como o LHC informação sobre algo tão fundamental como o número de dimensões que existe no universo, em especial se o resultado for que há mais do que apenas 4 [6].

Em 2001, inspirados pela descoberta dos modelos de dimensões extras, Nima, Andrew Cohen e Howard Georgi encontraram outra alternativa [7]. Eles mostraram que é possível construir um modelo onde o bóson de Higgs tem uma simetria extra que "protege" a massa de contribuições de partículas virtuais. O segredo é o que se chama simetria de custódia, que impõe que se a massa do Higgs fosse zero então nenhuma partícula virtual poderia contribuir para a massa do Higgs. O resultado é que todas as contribuições de partículas virtuais passam a ser elas próprias proporcionais ao valor da massa do Higgs. Assim, se a massa do Higgs for da ordem de 100 GeV, todas as contribuições de partículas virtuais são também da ordem de 100 GeV, e não ocorre nenhuma catástrofe. Vários modelos foram construídos baseados nesta idéia, e eles vão sobre o nome genérico de Little Higgs.

Será que o LHC vai revelar que há supersimetria? Technicolor? Dimensões extras? Little Higgses? Ou será que o LHC vai apenas encontrar o bóson de Higgs do Modelo Padrão e nada mais? Lembremos que o que está em jogo aqui é a compreensão de o que na Natureza permite que exista a unificação eletrofraca, i.e. como é possível que exista uma única simetria para a força fraca e o eletromagnetismo quando o fóton não possui massa mas os bósons W e Z são pesados.

E ainda há muito mais coisas curiosas para falar... Vão ficar para um próximo post!


Nota: terei o maior prazer em responder perguntas sobre o texto, que podem ser deixadas como comentários.


Referências
  1. M. Wise, N. Isgur, Phys.Lett.B 232:113 (1989) [SPIRES]; M.B. Voloshin, M.A. Shifman, Yad. Fiz. 45 (1987), p. 463 [SPIRES].
  2. L. Susskind, Phys. Rev. D 20, 2619 - 2625 (1979) [SPIRES]. A proposta de Technicolor já havia sido esboçada, por razões diferentes, em 1976 por Steven Weinberg [SPIRES].
  3. Para o argumento do problema da hierarquia tanto importa se a unificação eletrofraca é válida até a escala da gravitação quântica ou até uma escala de grande unificação com a força forte (que é ~ 1015 GeV).
  4. N. Arkani-Hamed, S. Dimopoulos, G. Dvali, Phys.Lett.B 429, 263-272 (1998) [SPIRES].
  5. L. Randall, R. Sundrum, Phys.Rev.Lett. 83, 3370-3373 (1999) [SPIRES].
  6. Para mais sobre esse assunto, você pode ler este artigo de divulgação.
  7. Phys.Lett.B 513, 232-240 (2001) [SPIRES]. Para um artigo de divulgação sobre Little Higgs, veja aqui.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Samba descalço

Samba descalço (saltaonde)

O calçado é apertado  e estreito
mas a rua é ampla e larga
a calçada tem buracos e níveis
e sandálias com arcos livres
os tênis sempre salteados
sapatos com sola pregada
Mas há poças por todos os lados
e há moças sem medo do fato
que mesmo subindo e correndo
não há quem se lembre
que esquecer é angustiante

quando o passo é torto e destro
o compasso é livre e maestro
e o samba está se movendo
demovendo depressa na avenida
na rua, estrada, e barro
calçada, degrau e brejo
caminhando a favor do tropeço
e topando o saltibanco espesso
sem dar cabo a queda iminente
encaminhada sem queixa

recomeçar com o esquerdo
para estar um passo à frente

do começo redundante direito
manquitola o saci ao avesso
cumpre à tona, curupira, a lenda
salta sendo o cadarço sem nós
terminando os laços com vendas
e nos deixando no embaraço
quando no propício errar
se esbarra e pede silêncio
sem ao menos fazer jus ao lento
tão veloz o breve  momento
aparenta durar por eterno
mas é tênue e brando
simplifica e descalça

a pé é mesmo melhor
na areia a marca arquipélaga
a que pede um outro suspiro
e que impede o próprio ouvido
de audível passado,
a ser perpassado.
Escuta o observar sem soar
suando o pingo cristalino
rompendo triste a lente
calefacendo a fria maçã
e falecendo inssosso aonde
padece o brio do fã
do sustentáculo que descansa em pé
ao apedrejar a nova manhã
já começa a ver no afã
um recomeço de cada
pedaço doentio ao extremo
pois caminha lendo
e realinha o caminho fazendo
um contínuo pontinho do tema,
sem tremas. E teima.

p.s. Este acima é o texto original, sem tanta pontuação. O com edições se encontra aqui mesmo: http://pensoativo.blogspot.com.br/2008/06/saltaonde.html

Quem sou eu (em agosto de 2012, pois quem se define se limita, dizem)

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Mais preocupado com a criatura do que com o criador. Existem perguntas muito complicadas. Existem respostas muito complicadas. Existem pessoas que não são complicadas. Existem pessoas que tentam complicar. Eu sou aquela que procura entender; complicando un peu primeiro para poder descomplicar. Quero dizer: se eu entender o problema de forma completa, poderei encontrar a solução mais correta, eu acho. Um sonhador, dizem. Mas não creio apenas em sonhos. Gosto mesmo é da realidade, empírica ou não. Gosto de estudar sociologia e biologia. Sou acima de tudo, e pretensamente, um filósofo, no sentido mais preciso da palavra: o sentido do amor a sabedoria, ao saber. Mas a vida é para ser levada com riso e seriedade. Sabendo-se separar uma coisa da outra, encontraremos nosso mundo, nosso lugar, nossa alegria. Nossa Vida, com letra maiúscula! "o infinito é meu teto, a poesia é minha pátria e o amor a minha religião." Eu. Um ídolo: Josué de Castro; um livro: A Brincadeira (Milan Kundera) ; um ideal: a vida.