"Sonho é destino". "Dream is destiny". You do it to yourself, you do, and that's what really 'happens'. "Tudo que não invento é falso."

Arquivo do blog

sábado, 15 de novembro de 2014

Homenagem a Manoel de Barros

Por sua morte prematura, aos 97 anos, homenagem...

Retrato Quase Apagado em que se Pode Ver Perfeitamente Nada
de "O Guardador de Águas" 

I

Não tenho bens de acontecimentos.
O que não sei fazer desconto nas palavras.
Entesouro frases. Por exemplo:
- Imagens são palavras que nos faltaram.
- Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
- Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Pensar é uma pedreira. Estou sendo.
Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo)
Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos, retratos.
Outras de palavras.
Poetas e tontos se compõem com palavras.

II
Todos os caminhos - nenhum caminho
Muitos caminhos - nenhum caminho
Nenhum caminho - a maldição dos poetas.

III
Chove torto no vão das árvores.
Chove nos pássaros e nas pedras.
O rio ficou de pé e me olha pelos vidros.
Alcanço com as mãos o cheiro dos telhados.
Crianças fugindo das águas
Se esconderam na casa.

Baratas passeiam nas formas de bolo...

A casa tem um dono em letras.

Agora ele está pensando -

no silêncio Iíquido
com que as águas escurecem as pedras...

Um tordo avisou que é março.

IV
Alfama é uma palavra escura e de olhos baixos.
Ela pode ser o germe de uma apagada existência.
Só trolhas e andarilhos poderão achá-la.
Palavras têm espessuras várias: vou-lhes ao nu, ao
fóssil, ao ouro que trazem da boca do chão.
Andei nas pedras negras de Alfama.
Errante e preso por uma fonte recôndita.
Sob aqueles sobrados sujos vi os arcanos com flor!

V
Escrever nem uma coisa Nem outra -
A fim de dizer todas
Ou, pelo menos, nenhumas.
Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.

VI
No que o homem se torne coisal,
corrompem-se nele os veios comuns do entendimento.
Um subtexto se aloja.
Instala-se uma agramaticalidade quase insana,
que empoema o sentido das palavras.
Aflora uma linguagem de defloramentos, um inauguramento de falas
Coisa tão velha como andar a pé
Esses vareios do dizer.

VII
O sentido normal das palavras não faz bem ao poema.
Há que se dar um gosto incasto aos termos.
Haver com eles um relacionamento voluptuoso.
Talvez corrompê-los até a quimera.
Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los.
Não existir mais rei nem regências.
Uma certa luxúria com a liberdade convém.

VII
Nas Metamorfoses, em 240 fábulas,
Ovídio mostra seres humanos transformados
em pedras vegetais bichos coisas
Um novo estágio seria que os entes já transformados
falassem um dialeto coisal, larval,
pedral, etc.
Nasceria uma linguagem madruguenta, adâmica, edênica, inaugural
- Que os poetas aprenderiam -
desde que voltassem às crianças que foram
às rãs que foram
às pedras que foram.
Para voltar à infância, os poetas precisariam também de reaprender a errar
a língua.
Mas esse é um convite à ignorância? A enfiar o idioma nos mosquitos?
Seria uma demência peregrina.

IX
Eu sou o medo da lucidez
Choveu na palavra onde eu estava.
Eu via a natureza como quem a veste.
Eu me fechava com espumas.
Formigas vesúvias dormiam por baixo de trampas.
Peguei umas idéias com as mãos - como a peixes.
Nem era muito que eu me arrumasse por versos.
Aquele arame do horizonte
Que separava o morro do céu estava rubro.
Um rengo estacionou entre duas frases.
Uma descor
Quase uma ilação do branco.
Tinha um palor atormentado a hora.
O pato dejetava liquidamente ali.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Mudança Constança

Mudança Constança
A cada segundo, uma diferença.
A cada instante, uma mudança.
A ideia difícil da mudança constança.
Todo o mundo feito de mudança.
Todo mundo composto de andança...
Mudam-se os tempos, mudam os homens.
No entanto, resta a esperança
De que no mundo seja feita a mudança...

07/11/2014

sábado, 8 de novembro de 2014

Há desaparecimento da cultura com o mundo globalizado?

 Há desaparecimento da cultura com o mundo globalizado?

Textos revistos...



" Há a alegação de que o Estado liberal perdeu sua casca étnico-particularista e emergiu em sua forma cívica, universalista e culturalmente purificada. A Grã-Bretanha, entretanto, como todos os nacionalismos cívicos, não é apenas uma entidade soberana em termos políticos e territoriais , mas é também uma comunidade imaginada: parafraseando Spivak, o fato de um norte-americano ler no café-da-manhã um jornal em língua europeia (inglês), com fontes (alfabeto arábico) do Oriente Médio, com notícias sobre a China, de um autor do Brasil, o faz se sentir orgulhoso de ser tipicamente americano e ter a cultura superior da América." Aspas para minha própria anotação.


 Temos que a normatividade é um problema para Habermas, assim como o não reconhecimento e não legitimidade do outro; já para Spivak a própria ideia de existência criada do outro parece um problema, pois atesta-se que o outro foi criado, inventado, a partir de um sujeito anterior, sujeito este que tem a legitimidade, tanto buscada em Habermas no Estado de Direito, como eurocêntrica, e a isso Spivak atribuiria também o problema de Foucault e da intelectualidade que subsume a ideologia, tratando apenas da instituição do outro, da normatividade via discurso: a instituição do outro o menoscaba. Há o relacionamento entre os textos de Sahlins, Ulf  e Hannerz.


 Simplesmente, liga-se aos textos dos antropólogos Shalins e Hanerz o de Spivak quando esta cita Marx tratando da indivisibilidade dos sujeitos como sendo algo problemático: " Meu argumento é que Marx não está trabalhando para criar um sujeito indivisível, no qual o desejo e o interesse coincidem. A consciência de classe não opera com esse objetivo. Tanto na área econômica (capitalista) quanto na política (agente histórico-mundial), Marx é compelido a construir modelos de um sujeito dividido e deslocado cujas partes não são contínuas nem coerentes entre si...". Pois, o sujeito pós-colonial, que agora busca refazer, recontar a história, atuando enquanto sujeito de fato, é ele todo globalizado (Spivak vem da Índia e Hall de Jamaica, ambos recentes colônias britânicas .... mas ambos migram para o centro de poder do mundo, " o primeiro mundo" Europa e Estados Unidos) e ainda assim resguardam(-se) em sua psiqué e (em) seu "ethos"(,) sua cultura. Portanto, a cultura, longe de desaparecer, estaria ganhando força com o mundo globalizado, que se torna transcultural, indigeneizado...



 "Fluxos”, “limites” e “híbridos” são as palavras-chave. Mais ou menos como transcultura, multicultura ou teoria das culturas globalizadas, transnacionais, do texto do Sahlins, obviamente tem-se de fazer esta distinção e comparar com Spivak. E vimos semelhanças quanto ao problema atestado de Spivak do "locus" de quem discursa, e estas semelhanças haveria entre todos os autores com exceção talvez de Hall, porque ele já é um autor local, do mundo pós-colonial, e que superando, no termo hegeliano, a questão do locus de quem discursa, trata de afirmar a questão do multiculturalismo como sendo primado da globalização e, ao mesmo tempo, advindo do ninho do engalfinhamento capitalista, o qual tudo detém para si sobre a forma do domínio dos meios, seja de produção de cultura, de valores éticos e étnicos, de poder, de bens.



 É possível falar também de micro à macro política em Foucault, Spivak e outros... e dos antecedentes históricos que marcam o multiculturalismo...


 Ligam-se o problema da sobredeterminação econômica proto-marxista, capitalista, a questão da cultura, e do multiculturalismo... e daí Hall viria com o Estado de Direito como algo que tem de reconhecer o outro, garantir sua existência, além do problema da diáspora, que segundo os antropólogos Sahlins e Hannerz, não existe, pois o transcultural subsumiria isto, - ao meu entender, pois conecto a isto também o fato de que Hall e Spivak praticaram a diáspora rumo a Europa e EUA: falam a partir de locais de poder, e as suas críticas às diásporas são constitutivas de seus trabalhos.


 Temos esteticamente que Cultura é : todos os processos da vida comum: hall no-lo afirmaria. Portanto o (seu) caráter não é mono(-causal), mas processual. Mas hall, em contrário a Sahlins, acha que há uma tendência à homogeneização das culturas com a globalização, e, ao mesmo tempo, fortalece(imento) (d)a diferenças ou elementos diferenciadores no interior das sociedades...



 Daí seria falso o argumento de que a cultura estaria desaparecendo pela globalização, outrossim, ela poderia estar se reforçando, na micropolítica, nas mentes de jovens que migram mas mantém o desejo - que não é agenciado pelo "colonizador"- de retorno à terra de origem, aproveitando-se das vantagens do capitalismo (ganho de dinheiro e bens, poder e status, para se reforçar dentro do clã, sendo admirado como herois das lendas ao retornar, p.ex. À Indonésia após fazer dinheiro no mundo europeu).



Hall


Hall distingue multicultural e multiculturalismo: o primeiro é usado no plural, é um termo qualificativo, descreve características sociais e problemas de governabilidade nas quais várias comunidades culturais convivem e tentam construir uma vida comum, ao mesmo tempo em que tentam reter sua identidade "original". O multiculturalismo é algo substantivo. É usado no singular. E trata-se da doutrina ou das estratégias e filosofias e políticas específicas usadas para dirimir, governar ou administrar problemas de diversidade e multiplicidade geradas pelas sociedades multiculturais.


" Sri Lanka, França, Nigéria... são sociedades multiculturais, EUA, GB, de forma bastante distintas, são multiculturais. Entretanto, todos são, por definição, culturalmente heterogêneos. E o paradoxo: O estado moderno tende à homogeinização cultural...organizada em torno de valores universais,seculares e individualistas liberais..."


Sobre globalização.


 De fato, entre seus efeitos inesperados estão as formações subalternas e as tendências emergentes que escapam a seu controle, mas que ela tenta homogeneizar ou atrelar a seus propósitos mais amplos (seja lá quais forem...). É um sistema de con-formação da diferença, em vez de obliteração da diferença, citando-o.


Essa formação implica a necessidade de um modelo mais discursivo para as estratégias de resistência, ou contra-estratégias.


 Da proliferação subalterna da diferença.


 É um paradoxo da globalização contemporânea o fato de que, culturalmente, as coisas pareçam mais ou menos semelhantes entre si (a americanização da cultura, p.ex.) e ao mesmo tempo há a proliferação das diferenças. O eixo vertical do poder cultural, econômico e tecnológico está compensado por conexões laterais, o que cria uma visão de mundo composta por diferenças locais, as quais o globo-vertical é obrigado a considerar. Há differance e determinações em termos relacionais... Mas há o papel do Estado...


Papel do Estado.


 A neutralidade do Estado funciona apenas quando se pressupõe uma homogeneidade cultural ampla entre os governados. Essa presunção fundamentou as democracias liberais ocidentais até recentemente. Sob as novas condições multiculturais, entretanto, essa premissa parece cada vez menos válida.


 Repetindo, a alegação é de que o Estado liberal perdeu sua casca étnico-particularista e emergiu em sua forma cívica, universalista e culturalmente purificada. A Grã-Bretanha, entretanto, como todos os nacionalismos cívicos, não é apenas uma entidade soberana em termos políticos e territoriais, mas é também uma comunidade imaginada: parafraseando Spivak, o fato de um americano ler no café da manhã um jornal em língua europeia (inglês), com fontes (alfabeto arábico) do Oriente Médio, com notícias sobre a China, de um autor do Brasil, o faz se sentir orgulhoso de ser tipicamente americano e ter a cultura superior da América. E produzir e reproduzir "sua cultura" é a tônica invariante.



Quer dizer, de nada adianta a produção sem inter-esse dos consumidores, dotados de cultura: conhecimento próprio, significado próprio, contato. Pois, caso assim seja, há esvaziamento de sentido e não há porque produzir sequer um xampú, um café ou uma bola de futebol. Os erros devêm. Assim, o esboço de artigo é o paradoxo intencional: sem a conexão dos conhecimentos não se produz sentido. Sem o estudo do sentido não se produz progresso. Sem o significado do progresso não se produz valor. Sem valor não há moral, ética ou interesse. Sem tais itens humanos, sem interesse, não há sentimento. Sem sentimento nos tornamos máquinas. Sendo máquinas não vivemos. Sem vida só resta a morte. Mas mesmo a morte vazia seria também inócua. Por isso o significado das ações, que criam valor, conhecimento, cultura, sentimento e interesse devem entender o organizar da produção. Do sistema de produção. As ciências sociais estudam isso. Esses valores humanos. Sem organização da produção com sentido de valores, nos tornamos autômatos presos no paradoxo supraescrito. E assim, apenas produzir por produzir gera alienação. Alienação é não diferenciação do objeto. E o que diferencia o humano dos demais animais é este "reconhecimento no espelho", a diferenciação para com o objeto criado por ele mesmo. Isso é básico nas ciências sociais. O animal que não se diferencia do objeto produzido não tem diferença com relação a ele. E daí pode ser manipulado como ele... Como se conduz um cavalo...ou a tal manada... A crítica das humanidades, das ciências humanas é não se tornar escravo dos desejos e tampouco do conhecimento de sentido adotado. Logo, antes de tudo é preciso produzir sentido. Quando o sentido não é dogmático(religioso) ele tem de ser adotado, produzido. Isso implica em filosofia e religião. E como foi subentendido, as ciências sociais (geografia, história, filosofia, economia, direito, antropologia, ciência política) tentam minimamente compreender o sentido que se está criando, retomando a verdade ontológica: "eu sou". Se sou, o que me diz que sou? (filosofia) Qual o sentido do e onde estou no tempo? (geografia e história) O que consumo?(economia) O que faço em contato com as pessoas?(sociologia) o que me diferencia ou iguala dos/ aos demais? (antropologia) Quem manda em mim? quem eu obedeço? (ciência política) O que posso fazer? (direito) etc etc são questões que tratam do ser. Do sentido. Pois, sem crítica, critério, sentido, ou volição chegamos ao mundo hobbesiano, onde a natureza comanda. E não há regras, ordem, poder, valor a não ser a luta de todos contra todos. Logo, não há sociedade. Não há interesse em sociedade. Lembrando que inter-esse é amor. É o ser (essere), intermediário latino. É o amor que faz o diálogo possível, pois concilia os seres diferenciados nos níveis de existência. Que se comunicam. Que comunicam sentido. Sem comunicação de sentido, não é possivel a sociedade. Por isso tudo vejo com bons olhos que haja mais interesse em trocas de sentido. Como diria Marcel Mauss, a troca funda a sociedade. Há troca de sentido, daí valores, daí bens, e até esposas/os. Daí a sociedade organizada. Finalmente, e para quem ainda tem paciência, a obediência é a fundição do sentido. É que em tais trocas epistêmicas a obediência prevalece. Se ainda faz algum sentido o lema positivista da bandeira, para um país como o nosso obter mais ordem e mais progresso, é preciso a dominância da obediência. Que só é conhecida na troca de conhecimento das ciências humanas, sociais. Quem não detiver este timão não pode ir à lugar algum. O tal primeiro mundo é simplesmente isso. Já alcançaram o nível da abstração. Nós parecemos que não, mas não nos diferenciamos. O parecer em escala platônica é abaixo do ser. Do existir. A luta do país não a-toa é pelo existir. Isso pode explicar nossa violência quotidiana.


palavras-chave: diferença, étnico, culturalismo, multiculturalismo, "developman", híbridos, fluxos, fronteiras, indigeneização, transcultural, globalizado, cultura, pós-colonialismo, anticolonialismo em hall, subcultura, colonialismo, normatividade, sobredeterminação econômica, minorias, afirmação histórica, outro, sujeito, monoculturalismo, epistemes, modernidade tardia, redes, transnacional, imperialismo, homogeneização, lugar, origem, ressignificado, renegociação, fragmentação, crise de identidades, termo sob rasura, tradição x tradução, hibridismo, posição hifenizada, pós-nacional, reconfiguração,

Quem sou eu (em agosto de 2012, pois quem se define se limita, dizem)

Minha foto
Mais preocupado com a criatura do que com o criador. Existem perguntas muito complicadas. Existem respostas muito complicadas. Existem pessoas que não são complicadas. Existem pessoas que tentam complicar. Eu sou aquela que procura entender; complicando un peu primeiro para poder descomplicar. Quero dizer: se eu entender o problema de forma completa, poderei encontrar a solução mais correta, eu acho. Um sonhador, dizem. Mas não creio apenas em sonhos. Gosto mesmo é da realidade, empírica ou não. Gosto de estudar sociologia e biologia. Sou acima de tudo, e pretensamente, um filósofo, no sentido mais preciso da palavra: o sentido do amor a sabedoria, ao saber. Mas a vida é para ser levada com riso e seriedade. Sabendo-se separar uma coisa da outra, encontraremos nosso mundo, nosso lugar, nossa alegria. Nossa Vida, com letra maiúscula! "o infinito é meu teto, a poesia é minha pátria e o amor a minha religião." Eu. Um ídolo: Josué de Castro; um livro: A Brincadeira (Milan Kundera) ; um ideal: a vida.