"Sonho é destino". "Dream is destiny". You do it to yourself, you do, and that's what really 'happens'. "Tudo que não invento é falso."

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segunda-feira, 7 de abril de 2014

O que virá

O que virá no após o pós-moderno? A produção em excesso faz com que fiquemos doentes.

 Vivemos na fase pós-pós-moderna? Os discursos são vazios, não se sustentam em si, a cosmoética inexiste, e a performance não sendo autocrítica cai em contradição sem perceber e se refaz a todo instante por um devaneio são! Mas como ela não é autocrítica, ela se refaz sem fundamento! O tempo não é linear, é simultâneo, e o que virá é o próprio passado? Mas claro, o que está em construção não pode ser antevisto. Ou antes visto, pode?

 Institui-se o querer voltar no tempo para viver o que não se tem mais, o revival, o vintage, o moderno parecendo old, ou o aposto: a sede futurista-retrô quer voltar no tempo indo para o futuro porque ainda se alimenta de ordem e progressos modernos, mas sabe que perdeu algo valioso no passado-presente moderno. A educação técnica cedendo à humanista são imperativos! A era do consumerismo, capitalismo de consumo e exibição, é a tônica invariante! É preciso rever para não esquecer: no meio líquido, absorve-se ou livra-se de tudo por osmose. E o ar é líquido.

 Curiosamente, encontramos este debate em arquitetura, música e educação. O museu MAR no Rio, com sua transposição em onda dos estilos "neocolonial" ao século XXI ("pós-moderno?"); o mashup, um dos tipos de remix, e a transdisciplinaridade do ENEM são exemplos dignos...Todos falando a mesma língua! Que é a  própria linguagem se auto-afimando, e uma crítica à própria gramática ou ao que ela não contém em si* -pois, se contivesse seria estática-´, e ao discurso moral lógico, de lógica propositiva inconclusiva ou irreal, pois se não verificável praticamente esvai-se em discurso oco. Foucault, Derrida e Habermas no comando. Tourraine, Harvey, Milton Santos nos sorriem. Bauman ri sozinho. Ortiz se diverte. Babba gargalha ao ver a mira apenas em Hegel.

 A grande questão é esta: não é possível dar nome ao que se passa, tal wirklichkeit (realidade), pois a ideia é a fluidez, a não apreensão das categorias já existentes para explicar o contemporâneo, devido exatamente à sua mudança expressa! Consumo atrás de consumo, globalização atravessadora de portos e aeroportos, ausência de fronteiras, ideias sem dono, copyleft em prol do mercado! Isto seria ótimo se não fosse altamente contraditório e causador de vertigem! A contradição, não sendo auto-evidente, causa arrepio às ideias sólidas! Que de sólidas tornam-se líquidas e se desfazem em vapor, condensando-se instantaneamente ao fervor do mundo. Ou sublimam à la Marx. O que Fukuyama revira em Hegel à crítica de Marx e antecipara como fim da história é ultrapassado. Porém, a autocrítica que conhece a si mesma tenta evitar o paradoxo, e o capitalismo se reinventando atualiza-se à fase consumerista. A mundialização consubstancia-se na modernidade. E na esteira vem a pós.

 De certo ponto de vista, todos sabemos que a formação do Estado se configura com três elementos: território, povo e soberania. E isto posto, para a representação ou apresentação da realidade estes elementos devem existir em um dado conceito de espaço e tempo. Estes sendo Modernos, ao atualizarmos esta lógica metafísica ao presente, nos deparamos com o fenômeno da sociedade em rede, a qual nos adverte ao advento de um espaço de fluxos e um tempo virtual pós-modernos. O plural indica a indissociabilidade de ambos os conceitos, desde Eistein ao menos!

 Então, fragmentam-se o Estado, a Nação e o Povo: isto vimos no Brasil nas ruas em junho de 2013. Nada seria mais atual, portanto, do que querer a reconfiguração, querer voltar ao passado, (a)onde se perdeu a cola da identidade nacional. Como aduzimos, a soberania última é a do povo, isto é imprescritível, somente o povo pode comandar. Daí o medo das massas e multidões - do governo.

 Mas Como haver Estado de consenso, de ordem, se o povo é multifacetado e aquilo (Ordem pelo Estado) nem sequer é querido? Agora o Estado é urbi et orbis, para além de fronteiras sobre territórios, nação sob comando único de quem está no governo, mas sim um comando oculto, individual e oligopólico em escala global, semelhante ao passado monárquico. Negri assinaria embaixo com o estalo das guerras imperialistas. Então, sumariamente, Portugal indicou o caminho e o Brasil é o re-caminho por coincidência linguistica?! Somos o país do futuro, escreveu um poeta do anátema chamado Stefan Zweig e subscreveu o vigente representante da dominação pós-moderna em discurso no Rio de Janeiro, o Barack Obama...

 Acontece que, metafísica ou psicanaliticamente, ao se deparar com uma realidade, ao tempo da sua maturação, eis que ao menos duas possibilidades se entrecruzam ou dicotomizam para o convívio da mente sã: surfar sob a crista desta realidade sabendo da sua perenidade - como fazem os meros especuladores, que, se sábios ou descrentes, não creem no investimento produtivo - ou abrir terreno para a superação, o que vem do novo. Ou o novo. É assim que o novo é amálgama do antigo, do passado, do comum - conhecido. E ao mesmo tempo é algo desconhecido, pelo fator rizoma, reescreveria Deleuze - em seu século já passado. Se como observam atentamente os capitalistas do apocalipse, apostadores das bolsas apenas por diversão, suposições são esperanças no mundo de aparências, resta-nos à la Zizek surfar nesta ocupação e viver nietzscheanamente.

  Assim, ao mesmo tempo, o esperar é o saber-não-saber (Sócrates já indicara há cerca de 2,5 mil anos), e só há esperança se se sabe do fracasso. É o sucesso o fim da esperança. Então, quem espera nunca alcança, neste mundo que tenta decompor os tempos...Como se Aión e Kairós fossem vencidos por Chronos numa batalha temporal sem precedentes históricos!... com o perdão da redundância, cutuca-me Chronos.

 Porém, o risco maior é a uniformização à característica do mundo: um mundo uniforme e ocre. Sem tons, com pestanas para o cinza...Um mundo sem antropologias...

 Retomando, o novo é amálgama do velho se suposições são esperanças. Assim, se investe na bolsa despropositadamente e de um dia pro outro um bilionário deixa de existir e outro surge. Eike Batista vende-se; o What'spp é comprado pelo Facebook. Ideias atravessaram oceanos, discursos inflaram bolsas-de-valores: a realidade se mostrou inexistente e o mundo, em fluxo, migrou como água correndo via rio, ao lago e ao mar. Na contingência incontida do mundo-mar, tudo se refaz. Identidades são um todo e seu oposto perfeito. Portanto, como estabelecer uma nova cosmoética? Em verdade, a própria pergunta já se vê problemática, pois toda ética já deveria ser cosmo, o estabelecimento é algo estático e o novo... é amálgama do velho. E do Comum.

 Não há regra ou estética que nos contenha. O mundo de tempo presente e simultâneo correndo líquido, numa sinestesia de Dalí à Harvey, passando por Bauman, nos diz que ao tentarmos capturar o momento, ele se desfaz, nos dando a impressão do jet-lag. Mas não porque o tempo corre com a flecha, e sim porque as possibilidades de entendimento destoam de acordo com o local do observador. O pós-colonial manteve seu segredo. O local faz-se lugar; o lugar faz-se público, e a intimidade é estatelada. Para o bem do mundo, o segredo se mantém com Antropologia! O bem, sim, pois tentar contar o segredo é deteriorá-lo, e se não se dá importância à Antropologia, como entender a vida humana sem demasia?! A contingência dos significados ganha fatores. E estes não se decompõem. Apenas se compõem. Cada vez mais. E são ressignificados. O sentido original é sempre substituído. E o propósito ontológico dele é a própria substituição. Não havendo mais pote para conter a razão, ela transborda. Remédios são precisos para detê-la? Para instituir um limite? Os remédios são as leis, que, em grande medida, viram veneno. O excesso de razão é uma desrazão.

 Vimos que a sociedade moderna é a sociedade da lei. Tudo é legal nela. A pós-moderna traz a substituição dos juízes, o fim dos cargos vitalícios, o fim das leis canônicas, a revisão delas. Hermenêutica-aplicada. Há a constatação do erro da localização pelo mapa mundi planificado sem fronteiras e reajustes são necessários em intervalos regulares, como a accountabillity política ou como a regulação dos satélites de GPS: nem o relógio atômico é suficiente para manter o Caos controlado em tal tempo - com o perdão do paradoxo. Assim, esparsos pelos tempos contraídos, nos encontramos em local sem GPS. Desencontramo-nos. A significação, a orientação, a lógica de funcionamento esbarra na própria ideia de haver lógica, de haver função ou significado: tudo que não invento, é falso, martela Manoel de Barros. Este é o significado último do termo pós-moderno, invenção. Re-surrealismo, pós-realismo fantástico. Invenção do real... porque já se sabe viver do falso. E ele cansa. Como os políticos da política pura mas não purista.

  Assim, o falso ganha raízes e galhos porque não é podado pela Verdade, a que inspira a Justiça a mover-se. A lógica econômica se estende além da casa; a lógica pessoal transpassa à política e a lealdade é víscera semi-morta: a relação íntima é comprometida por segredos, e assim o mundo não conversa. Apenas desconversa. Acordos não precisam ser cumpridos, afinal o entendimento, viável através da linguagem, também é passível de ressignificação, de interpretação. O Direito é todo hermenêutico. O mundo moderno caducou. O pós, também fica para trás. O pós-pós moderno, talvez o pós-humano, vislumbra vida em outro planeta. Eis a exobiologia! Aforistas a parte, a tese ecológica é a que mais convém, o reciclar...

 Parece que o esgotamento dos significados na relatividade absoluta - inconclusiva em si mesma - é o limite do próprio planeta. A ausência de verde incorre em perigo à espécie. E quando sentimentos são substituídos por vontade de potência incontida, o homem mata a si mesmo, superando a morte de Deus, que era apenas a vida contemplativa. Teoria. O sentido do econômico destruiu o sentimento maior. Humanista, Ecológico. O cifrão do conhecimento é o que tilinta mais alto. E como a questão do ovo à galinha, para ter mais conhecimento é preciso mais dinheiro; e para ter mais dinheiro é preciso mais conhecimento. O conhecimento está caro e passado, em revistas científicas ou não mas datadas e pouco acessíveis por excelência.

 Não há solução justa dentro d'uma justiça economicista. A desigualdade suposta entre os homens justifica a vida de iniquidades e poluição? De que adiantam 100 mil prédios novos na China, com 1 milhão de apartamentos à venda, se não há compradores com o dinheiro do valor pedido? Quando a especulação age sobre a realidade, só se pode esperar bolhas. Bolhas machucam Aquiles calcanhares. E a esperança é o contrário do sucesso. Quem espera, nunca alcança... no mundo de aparências. Pois, o limite da aparência é a transparência. Mas, o que é muito transparente perde crédito no mundo de juros abismais. Centelhas de corrupção inflamam no ar tóxico. Sentimentos são postos de lado. Palavras desacreditadas dão o braço a torcer às ideias em transmutação.

 Ideias assim, infixas, correm o mundo rapidamente. E não se fixando em parte alguma, estão em toda parte. Como, em paradoxo, a Verdade. No entanto, dentro de um mundo de verdadeS, o plural comanda o singular. Não há simplicidade que explique o mundo, pois, perdeu-se a capacidade de comunicação - desde a queda de Babel, alguns rememoram. O que, portanto, de positivo resta ao mundo? Esquecer-se do discurso tradicional. Afinal, "tudo" é discurso antigo. Fora de curso. Mas para esquecer é preciso saber. Amnésia. Não proponho a solução ébria, de modo algum, mas aponto porque muitas pessoas a procuram.

 O esquecimento, o apagar - ou agregar - das vertigens provoca vontade de saber, e, consequentemente, vontade de mais vertigem. Gire, mundo, gire! Mas não se esqueça que recordar é viver, e vice-versa!, Diz-nos o paradoxo pós-moderno. Viver é estar em plena memória! Para tanto, é necessário dormir! Mas dormir vai de encontro ao mundo de produção desenfreada, oras! Não durmamos mais!

 O sono letárgico do mundo abarca em sonho a vontade, comandada pelo poder, detentor da realidade, refletido pelo medo, degustado pela inércia, impelida pelas forças da natureza humana, plástica, de petróleo. Esta energia insana, que pulsa à velocidade da Terra! E impulsiona o mundo à sede de guerra! Mas guerra só deveria rimar com Terra em Marte! É por isso que queremos colonizar aquele planeta?!

 A vontade de intelecto sereno é a justiça com vistas no passado. A justiça deve ser cega, plural, verde, frugal, laica, antropóloga. E atende pelo nome de Amor. Amor quase Romântico. Hipostático, o Amor é aquilo que não pode ser definido mas todos sentem, como o vento. Um movimento do ar, o que faz o mundo girar, inspirando. Amar: doar. Amar, verbo intransitivo. A justiça de um mundo a tal feitio deve ser um Ser muito, muito estranho: deve apenas ter ouvidos e pernas. Minuciosamente, ouvidos para ouvir todos que reclamam e pernas para alcançar os pedidos. O mundo girando à justiça gera paz, ou Terra. Liberdade? É o movimento do Amor, que translada!


* a gramática, assim como a filosofia, sofre com o problema da linguagem: a linguagem não contém e ao mesmo tempo contém o pensamento. O paradoxo denotativo do Conter: conter no sentido de reter e no sentido de limitar.

Quem sou eu (em agosto de 2012, pois quem se define se limita, dizem)

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Mais preocupado com a criatura do que com o criador. Existem perguntas muito complicadas. Existem respostas muito complicadas. Existem pessoas que não são complicadas. Existem pessoas que tentam complicar. Eu sou aquela que procura entender; complicando un peu primeiro para poder descomplicar. Quero dizer: se eu entender o problema de forma completa, poderei encontrar a solução mais correta, eu acho. Um sonhador, dizem. Mas não creio apenas em sonhos. Gosto mesmo é da realidade, empírica ou não. Gosto de estudar sociologia e biologia. Sou acima de tudo, e pretensamente, um filósofo, no sentido mais preciso da palavra: o sentido do amor a sabedoria, ao saber. Mas a vida é para ser levada com riso e seriedade. Sabendo-se separar uma coisa da outra, encontraremos nosso mundo, nosso lugar, nossa alegria. Nossa Vida, com letra maiúscula! "o infinito é meu teto, a poesia é minha pátria e o amor a minha religião." Eu. Um ídolo: Josué de Castro; um livro: A Brincadeira (Milan Kundera) ; um ideal: a vida.