"Sonho é destino". "Dream is destiny". You do it to yourself, you do, and that's what really 'happens'. "Tudo que não invento é falso."

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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Disto


Disto (31/12/2007)


Sou distante porque procuro enxergar adiante;

Sou diferente porque procuro entender a diversidade;
Sou do contra porque gosto das coisas que se valorizam com o passar do tempo;
Amizade: curiosa e duradoura.

Rego o presente porque sei da semente e quero o melhor fruto;
Esqueço os erros sem cometê-los, pois erro ao não arriscar.
Aprendo as lições sem fazê-las, pois faço e apago rascunhos;
Quero o medo por ter coragem de encarar, Algum dia irei falar...

Se um engano não é atendido deve haver algo escondido:
Debaixo da fronha, próximo ao lar, das ideias.
E ideais não alcançados devem frustrar se não é verdadeiro o desejo ou amar.

Deixe o vento e o mar e molhe outras costas e sopre novas ondas...
Não se crie em ilhas, fuja do tesouro, as vezes na vida são feitas de ouro.
O que no Norte dão um preço no Sul o trocam por outro...

Todo dia toda noite


Todo dia toda noite

Todo acordo sem pé,
Acho que está quebrado.
Todo dia levanto sem mãos,
Talvez estejam algemadas.
Toda noite enxergo brilhar
Mesmo com olhos cerrados.

Todo posso pegar algo pesado
Todo quer conseguir não ser alvejado
Todo inexiste no fim da infinitude
Todo deixa de ser e passa a ser
Todo.

Todo anda descalço e sem medo de tétano
Todo cansa de ver sempre o mesmo teto.
Toda tenta auscultar o sofrimento alheio
Todo é quieto e inerte e sente-se inapto
Todo esquece de ser semente de passado

Todo sente que enverga para apenas um lado
Todo sente que tem algo poderoso em mãos
Todos são como todo: a exceção é a regra.

A dor hipérbata


A dor hipérbata (possível repost)


Sinto se movendo algo de novo.
Está machucando quase seu movimento.
E, assim ainda, toca por pouco
Na ferida sem casca e nova.
Uma pouco verdadeira espécie
De tipo de mentira de dor.
Mas a sem suplícios interroga-me,
Sendo enfática, não exclama baixo
E agindo sempre vento o contra
Força a ira e a força foje.
O limite até a chamo,
Mas não busco se não encontro.
Com a definida assídua foi-se.
Necessária também foi ela:
A ação, do tamanho era do mundo.
Mas, a resposta, a reação era singela,
E, não força havia igual aquela,
Capaz de a possível desvençilhar ira
E transformá-la em traíra dela.
Era objetivo o primordial
Bem ainda alcançado que não fora
Senão pudera ser fatal.



Y. C. O.

Substância


Substância

Ah, é uma substância!
Que adentra o corpo
E provoca êxtase imediato,
duradouro e verdadeiro.
É  real sobre o sonhar,
O melhor sonho do viver.
É estar acordado e não crer,
Querer o para sempre,
Sem saber do não poder.
E simples êxtase não traduz
A sensação de puro ser,
De viver o outro em si
E o em si em outro,
Destoutro simples ser
Que vos exclama a conhecer
E querer o melhor ter!
Ter a substância nas entranhas
Cavando as veias
Rompendo as lanhas
Desfazendo as sanhas!
Para isto é preciso conhecê-la,
admirá-la e arrebatá-la!
Depois, é só reconhecer, depois gostar,
Depois amar.

Consta-se uma vez no sangue,
Dura-se para sempre na alma,
Pelo flexo coração!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Polissilábica da vontade


Polissilábica da vontade

(Era) a minha vontade infinita de querer
(Mas ela) não trazia consigo a vontade infinitiva de saber
Que a sua vontade intrasitiva de dormir
Perpassava qualquer ação ao meu ser

Dormir era dúbio e sob duplo aspecto
Seu sentido denotativo pouco controverso
Poderia causar vontade interior de uma ação superior
Sobre a ação anterior do passado composto
Por uma vogal diferença de gosto

Tudo era reticente em excesso.....

E numa instransigente demonstração de vergonha
Abríamos a cabeça sem olhares intersílabas
Ou vontades escondidas nas entrelinhas
Restavam altercadas as conjunções frágeis

Assim, contaminados por advérbios imberbes
Dávamos sentido e força às nossas substantivas
vontades de trocar objetos diretos
Mas, apostos estávamos postos
Sob locuções verbais mudas
Nossa ação não era coletiva
E as vontades passavam sede
Se os verbos de ligação não se trocavam
Mas se confundiam às preposições
Um tanto quanto circunflexas e inflexíveis
Sobrancelhas com arcos reflexos
Reflexões demasiado explicadas
Talvez o líquido sem tônico acento

E sem tantos conectivos nós vimos
Exclamadas vontades redundantes
Plurais, que surgiam a todo instante
E momentaneamente se abreviavam
Para no ponto, ou na pausa, por vírgulas
Enfatizar que era monossilábica a vontade
Sim, aspas

Rindo e rimando conforme a estrofe
Dançando conforme a música,
Detínhamos sentidos ocultos
Nos nossos sujeitos de núcleo abstrato
E por um átimo não nos tocávamos

Éramos cegos
As leituras labiais, difíceis
Mas, como surdos, nos comunicávamos por gestos
e se cada gesto é mais verdadeiro,
Ganhávamos apreço mútuo

O desejo, a vontade, contudo, se acentuava
Contanto, com tanto contato era tudo o que se esperava
E o sujeito indicado cego ou mudo não exclamava impropérios
E por isso julgava algo sério sem um valor conjuntivo
Oculto estava outro sujeito segredo
O tecido disposto era uma composta ação iminente
E toda a gente continha o sufixo querer da vontade

Assim, entreatos, só se aumentaria a ansiedade
Contida no tempo do futuro do pretérito
Ou do pretérito mais que perfeito, que, com efeito
Não causara o presente perfeito

Em verdade,
Era uma chocante vontade chocolate
Ao leite, descafeínado, e em crase
Encontrava consonontais diferenças sintáticas

E destoava à leitura do ávido personagem discreto
Não era um erro crasso, mas um provérbio parnasiano

Ao fim, sem conexões esdrúxulas e metafóricas
Partiam abraçados à leitura inadvertida
Sofriam por tanto, por tanta indireta linguagem
Parecia 'a vontade, mas faltava a coragem de disseminar;
Ao não-frívolo leitor o desejo explica-se em composição.
Tê-la, à vontade, é amá-la;
Em comparação,
Ter a vontade é amar.

Y.C.O

Coração-barco


Coração-barco

Quero-te mais do que tudo
mas não faço por onde
dizem-me que me fantasio
mas minha fantasia não me esconde
atuo e ajo pensando na ação
recuo e nego, na superação
e nesta filosofia absoluta
absolutamente encontro-me

Eu, sozinho, em consonância com o mundo
objeto de um sujeito retrógrado
alcanço o infinito impessoal
Nos nós desatados do eu...
Espero-te,
aguardo,
e, sossegado,
preencho meu seu perfiliado
Vácuo.

Mas, neste vazio impretérito,
Sinto que há um proprietário comum
Remando sobre o próprio estorno
E o entorno está à praça:
Está vindo ao retorno perpendicular,
A um lar interposto.
Assim, em agosto uma intempérie
Atravessa-me a pele e inunda estanque
Meu flutuante coração barco:
estando afundando,
agora naufragado,
encontra-se.

Y.C.O.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Tudo que penso



Tudo que penso

Tudo o que penso ser, estou
tudo o que penso estar, sou
tudo que penso entender, estendo
tudo que penso estender, estudo.

Depois desse, não preciso de mais nada
depois desse, preciso de tudo.
E nessa precisão metafísica assintótica
conduzindo-me à infinita ideia
sem tocá-la
apenas penso pensar.

E quando duvido que penso, penso que duvido.
Logo, penso que algo ou alguém me faz duvidar e pensar.
E se algo pensa por mim em duvidar, não penso.

Hobbesiada ideia destrona maligna genial cartesiana cogitação.
Quem garante que o seu duvidar pensar é uma dúvida sua, mal-gênio?
E se existe esse quem, ele não pode ser você:
 porque se sua dúvida é boa você é mau-gênio ? Não.
[É, no máximo, ingênuo; e, no mínimo, desconfiado. Pois, foi levado a descrer, ao não-conhecer.
Logo, isto outro existe necessariamente, através d'um espelho.
E reconhecer-se no espelho é a tarefa
De maior dificuldade possível
E imaginável.

 A geometria explica assim a (sua) existência necessária:
Para cada face há a face oposta, necessariamente.

Como crer no que não se conhece? E como conhecer o que não se crê? É preciso antes conhecer? É preciso de antemão crer em si?
Ou o em si já é um crer para si?
E o crer já é uma crença, um conhecer.
Sim, transformo ao sentido original. Crer é conhecer. Conhecer é crer. São tomé cria.
Conhecer é, também, por assunção coincidente metafísica, criar.
Crer é criar?
Criar é crer?
Só se crê criando?
Logo a crença é uma criação.
E a criatura crê, no limite, em si?
Parece que sim.
Mas o próprio parecer...

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Brincando com o Pequeno Príncipe




Brincando com o Pequeno Príncipe

"O essencial é invisível aos olhos."
O invisível é essencial aos olhos...
Os olhos são essenciais ao invisível
Os essenciais são olhos aos invisíveis
Os olhos são invisíveis essenciais
Os invisíveis são olhos essenciais
Os essenciais são invisíveis olhos
São, seres...

Os seres invisíveis olham essenciais
Os seres essenciais olham invisíveis
Os seres olham invisíveis essenciais
Os seres olham essenciais invisíveis
São olhos os invisíveis essenciais
São invisíveis os olhos essenciais
São essenciais os olhos invisíveis
São invisíveis os essenciais aos olhos
O invisível é olho ao essencial
O olho é invisível ao essencial
O essencial olho é invisível aos
O é aos olhos invisível essencial
O aos olhos invisível essencial é

Aos olhos o é essencial invisível!
O invisível aos olhos são essenciais
O invisível é olhos ao essencial
Olhos é ao invisível o essencial
Essencial é invisível aos olhos o
O é invisível essencial aos olhos
É o essencial aos olhos invisíveis
É o invisível olho essencial aos
É aos olhos essência invisível
E com essência não se brinca, ops, olhos, não vi!
O invisível é essencial aos olhos...
"O essencial é invisível aos olhos".

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"
Tu te tornas eternamente cativado por aquilo que te responsabilizas
Tu te tornas responsável por aquilo que te eterniza e cativas
Tu te tornas eterno por aquilo que te é responsável cativando
Tu te tornas cativado por aquilo que responsavelmente te é eterno
Tu te tornas aquilo que eternamente te cativas responsável
Tu te cativas aquilo que te tornas responsável eternamente
Tu te responsabilizas por aquilo que te tornas cativado eternamente
Tu te tornas aquilo que cativas eternamente responsável
Aquitlo que te tornas, te cativas eternamente, sem responsabilidade!

Tu te cativas por eternamente aquilo que te tornas responsável
Te tornas cativas por tu responsável aquilo eternamente que
Tu te tornas aquilo que te cativas eternamente responsável
Tu te cativas por aquilo que te torna eternamente responsável
Tu tornas eternamente aquilo que te cativas responsável por
Tu te cativas eternamente por aquilo que tornas responsável
Tu te cativa por eternamente aquilo que responsável tornas
Por aquilo que te tornas cativas responsável eternamente
Tornas tu por aquilo que cativas eternamente responsável te
Que aquilo que responsável te cativas tu tornas eternamente
Tu te tornas eternamente aquilo que responsável cativas
Tu, responsável, cativas aquilo que te tornas essencialmente invisível aos olhos!

Aquilo que te cativas responsável tu te tornas eternamente
Te responsável que aquilo por eternamente tu cativado
Responsável tu te cativas eternamente por aquilo que tornas
Por cativas tu te eterno reponsável que tornas aquilo
Por tu aquilo que te tornas eterno responsável, cativas?

Cativados te tu tornas por aquilo que responsável eternamente
Eternamente tu cativas aquilo que te tornas responsável
Aquilo tu te tornas eternamente responsável por que cativas
Tu te tornas eternamente cativado por aquele que és responsável
Por responsável tu aquilo eternamente te tornas cativado que
Tu te tornas eternamente responsável por aquele que cativas
Cativas aquilo que te tornas eternamente responsável por tu!
"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Nos ares, nós somos parte 1


Nos ares, nós somos

Fui pra Minas, uai!
Em Minas comi queijo coalho.
Na ida peguei um busão, com wi fi!
Na volta iria de avião, comprei meu Apple.
Comia pastel de carne enquanto lia no meu Ipad;
Ouvia músicas ao passear na cidade com meu Ipod;
Liguei para aqueles distantes de meu Iphone;
No hotel me conectava com tudo ao meu Imac;
E no fim comia nos restaurantes o meu aipim.
Poesia fácil, piada também, simples assim.


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Tristeza não tem fim, senão a felicidade

Tristeza não tem fim, senão a felicidade

Nove horas. Acordamos. Não levantamos, mas pensamos igual. Olhamos o relógio. Antes de ela saber, anunciei: nove e três. Ela se perguntava como eu sabia que ela procurava pelo tempo. Não respondi na hora, apenas depois de momento. E foram felizes momentos. Nadamos, remamos, olhamos o topo do Frade. Estávamos a pescar com as mãos, e o tempo escorria como areia dentro d´'agua: lentamente, nos nossos cabelos.

Nossos cabelos, aliás, eram fruto de uma aposta insossa, ou imberbe. Queria-se a fúria, pois perseguia-se a mania citadina de ficar irritado. Mas não se compreende que a areia dá prazer quando escorre pelo corpo. Somente a água o sabe. A areia no corpo faz massagem, quando fina, limpa, quente, refrescante embaixo da água duma amena temperatura. E eu via em seus olhares uma busca pela temperatura não refugida. Queria-se ação para aquecer o corpo. A ação era solene. Solstícia. Ventava. Era noite.

O tempo não passava sobre os caiaques na lagoa. Ao fundo o som se fazia mudo, porque distante do mundo. Decerto foram momentos nos quais não prestávamos atenção aos batimentos dos corações cheios de relógios. Queríamos apenas um descanso, uma vista alegre e uma conversa apurada. Tínhamos na ponta da língua o sabor para cada pergunta, procurávamos deixar ela sozinha, mastigando, deglutindo a vontade de morder a verdade. A verdade pode ser mal, às vezes cruel, mas ela é crua. E quase nua. Por isso seu gosto deve ser aos poucos revelado. Ao ponto deve ser cozida. Naquela temperatura era quase banho-maria.

Viajávamos. Dormíamos. Sonhávamos com facilidade. Mas o sonho era real, porque a tristeza fora convertida plenamente com a companhia de velhos novos velhos amigos. A confiança se instaurava e reforçava. O segredo se revelava aos poucos, continuando, no entanto, turvo. Devia ser a água da lagoa, cheia de algas. Ou a água maremota, muito marota. O sal quebrava-se nas ondas e aumentava a temperatura corpórea e a condutividade elétrica, afirmava-se. A água ingerida deveria ser cautelosamente filtrada. Pois, se queria apenas passar a tranquilidade do não-pensar. Finalmente, à noitinha ela chegava.

Lá estava ela, a Lua. O satélite mas branco da Terra. Mas ela, um pouco envergonhada se demorava a surgir entre as nuvens, e na escuridão da água lacustre nascia alaranjada. Ventava. O pensamento se apensava ao tempo, num processo sorumbático e noturno ao exterior, mas reluzente e elétrico no interior. Via-se um medo. Era a Lua que se demorava apertando os lábios aos dentes, de frio. Frio fora da água. Calor em seu interior. Certamente falávamos da mente. Não do mentir, mas da ciência, da religião, do ser, do ser sociológico.

Éramos madrugada, manhã, tarde e noite. Café, janta, almoço e lanche. Sentíamos silêncio e som. Trememos. Boiamos. Pensamos em dormir, pensamos em comer peixe frito, pensamos em ler. Lemos juntos. Esperamos juntos o peixe ser frito (talvez foram os quinze minutos mais relativos desde Einstein. Porém, depois o simpático sorriso acompanhado com o peixe delicioso e um pedido de "desculpe a demora" salvaram-me a paciência. Nisso quase perdi a aposta, confessei). Dormimos no mesmo quarto, em várias camas.

No chão, era frio. No ar, era quente. No sono, quase passávamos calor, contamos com um ventilador. Por isso dormimos tarde e acordamos idem. De fato, aqui se revelou a cartada final de um jogo sem erros ou soma zero: que era a paz. A paz era sentir soninho gostoso, cansaço preguiçoso e pensamentos confortáveis. Pedíamos costas leves e massagem. Confiamos uns nos outros.

A confiança é o primeiro passo para um relacionamento infindo.

Obtivemos confiança. Eu gosto. Ela gosta. Ele gosta. Gostamos-nos, nos gostamos. Pudemos prosseguir em conjugação o verbo até o nós e o eles. Conjugamos gostar. Talvez apenas o gosto seja deglutido de forma diferente. Nossas papilas e salivas contêm as bactérias, que juntos ao olfato aproximam o gostar. Gostamos do cheiro. Do cabelo. Da pele. Do pensamento e da calma. Da irritação. De tudo gostamos. Da paisagem. Da água doce ou salgada, do caiaque flutuando contra ou a favor do vento. E só temos um desgosto: perder o tempo certo.

Mas o tempo não existe, se debatia. Apenas se conta o movimento, regido e indicado por Cronos. O verdadeiro tempo, a durée, explica outra coisa. Devemos aproveitar. E isso creio que fizemos, fazemos, faremos. E agora podemos nos ater ao momento do gosto. O apreciar o tempo outro. Sem apressar o tempo vosso. Sem apensar o termo oposto. Ouvi e vi isto: queria sentir apenas a adrenalina. Sentimos com a apreensão. Deixamos a curiosidade estatelada. À vista da pele, ao seu toque. Roçamos ideias corpóreas sem maus pensamentos.

Nosso toque vinha acompanhado de ritmos, pois. Queríamos funk, nos fantasiamos e dançamos. Queríamos samba, nos encomendamos e dançamos. Queríamos silêncio, nos silenciamos pensando. Queríamos até estar sozinhos, pois a maturação é precisa. Pouco conseguimos. Estando sozinhos, sentíamos falta. E até uma ligação preocupada efetuei. O vôlei me distanciou, por isso joguei mal, cortei pouco, recebi mais do que esperava, e mandava bolas tortas ao levantador, que me entendia perfeitamente.

Ele sintonizava também minhas ondas de pensamento. Tínhamos captado a mesma frequência, mas nossos relógios continuavam dessincronizados. Por isso insistia na premência do Aion ou de Kairos, os outros tempos, sobre o Cronos, este odioso tempo. Às vezes, tudinho, tudinho não era compreendido, e o riso era pela inocência. Pensamos em beatificação, que Deus nos perdoe! Era uma brincadeira, mas a tentativa da descoberta resultava rostos cheios de dúvida sobre o saber, maldoso saber. Um rosto lindo. Sempre sorridente.

Aqui, finalmente, encontramos a citada paz ou felicidade. Talvez Deus, o Amor. A Lua não podia refletir melhor o seu sorriso. Nem  Aldebarã, Sírius ou Canopus eram tão bonitas, notei e repito-lhe. E este brilho todo cativante apaixona até o mais frio ser. O ser sociológico. O homo sociologicus, para brincar com a terminologia de um famoso sociólogo alemão. E a sociologia continua a despertar curiosidade. Quer ser estudada. Mas o que me inspira são suas letras ou palavras, mormente as não ditas. Somente uma ajuda médica poderia me auxiliar em tal pathos. Talvez eu estivesse patético mesmo, e, sem perceber, grudei o olhar em seu sorriso.

Isto, segundo linguagem médica especializada, poderia ser uma síndrome (um conjunto de sintomas) de uma doença que acomete seres sensíveis, mesmos os frios, seres humanos. Síndrome que não tem nome mas é por todos sentida. Síndrome que se apresenta ao encontrar da beleza perfeita. A beleza espiritual, que tem a paciência e dúvida como charmes e a beleza corporal, a qual nos remete olhares maldosos. Será que apenas o olhar deve ser mal? Não! Cremos juntos.

A beleza esta na dança, sensual. A beleza está decerto no corpo, insinuante mesmo sem querer ser. A beleza está no reflexivo, pouco tímido, sempre-vivo sorriso! A beleza está na curiosidade, que nos leva a países distantes. Europeus-Americanos-Africanos. Todos maiúsculos. A beleza nela está. Na beleza de seu olhar. Não apenas nos olhos de quem vê o Mundo em cor de rosa, com seus óculos do Sol, mas em que vê o Mundo por castanhas cintilantes. Ao Sol e à Lua, com espáduas nuas. Será que nos perdemos no caminho?

Fomos dirigir. Dirigimos sem parar, não temos assistente de direção no filme da vida. Dirigimos pela estrada mais profícua. Daí deparamo-nos com a areia, vencida com um rally. Deparamo-nos com a vegetação crescente na areia, restinga escondendo insetos, espinhos e outros perigos menores. Viver é perigoso, ouvi. Mas não viver é ainda mais perigoso, retrucava em pensamento. (Por isso usemos cinto de segurança até para comprar galão de vinte litros de água na esquina. Afinal, mesmo a velocidade baixa pode causar calombos, lesões contundentes e permanentes.) À velocidade baixa também se aprisiona vidros nos calcanhares. E à velocidade baixa, porém constante, se aquece motores implosivos, imprudentes, coerentes com o calor que queima gasolina em demasia, que superaquece o que parecia metalicamente frio e seriamente forjado. Ou que ao longe parece até batido, ou abatido. Mas apenas pensa. Sociologicamente há uma explicação. Pela medicina se busca uma cura. Decerto, só se pode interpretar o caminho. E a interpretação quando falha é problemática, causa acidentes. Acidentes são sempre inesperados, por mais cautela que se tenha. O barco pode afundar quando não se vê seus furos no casco, ou quando se preenche por líquidos perigosos. O casco até se racha quando o impacto é forte. E nenhum iceberg excede a pressão se a velocidade é constante, o furor é grande, e há uma volante a guiar à descrença. Numa palavra: afoga-se.

Assim, afogados em uma direção biunívoca, que como Roma a todos caminhos leva, dirigíamos no escuro com faróis cansados. Voltamos da lagoa distante, após longa caminhada ainda mais reflexivos. Víamos-nos nus; mas estávamos cheios de casacos sobre a pele. Não passamos frio, nos aquecemos discutindo o ser religioso, o pensar amoroso. O pecado de não se saber se a desobediência originalmente nos acometia ou se pecávamos por questionar a verdade do mundo. O mundo se nos apresenta nos sonhos e nas visões. Nossas visões estão em paralaxe. Nossa rã perspectiva pode nos cegar. Mas não apenas cegou como atingiu-nos uma flecha. Fui escolhido pelo Cupido?, me perguntava. (Ele estava na festa à fantasia, poderia  ter brincado comigo. Ele estava sempre se escondendo e não percebíamos sua flechada. Quando ele me avistou, vi que estava sem flechas; o interroguei. Procurava, além do arco, a harpa. Disse-me uníssono: "não tenho harpa, era pesada demais para meu fardo, não pude trazer da Grécia, mas minhas flechas lanço para o alto ao ocaso, quem sabe quem foi atingido?, o amor não escolhe e não vê fronteiras, e meu dever é aproximar quem parecia distante, e, por isso, meu fardo incessante: não sei se minhas escolhas são as do livre-arbítrio ou se o acaso me detém, apenas quero o bem"). Achei o Cupido por demais filósofo. Em meio à música do ambiente de fantasia, detive as palavras do Cupido e só agora as compreendo. Demoro. Meu tempo é outro. Quero e espero que tenhas percebido. Nosso novo velho amigo notara, e apoiara. Porém, as entrelinhas faziam-se dificultosas. Atravessaram nosso caminho a cada multidão instantânea. A multidão me cercava, e a timidez, se nos aproximava, também nos distanciava. Estamos em paradoxo. Não estamos.

Por isso busco episódios e lembro de tudo como um todo. Busco dados e fatos, e acho contos. Remexo meu arquivo de memória repentina e penso somente no lapso. Lapso de tempo que nos rememora que não se pode perder mais tempo em escrita ou mesmo pensamentos. Precisamos agir para nos mover, pois a ação que não envolve movimentos progessivos é a desaceleração. E isso meu coração não pode mais sentir, senão para. Então me indago se o batimento é apressado pela inconfidência, pelo nervosismo ou pelo tato. De fato, o tato nos acelera, mas não nos pode faltar mais. Temos, portanto, por tanto contato, medo. Medo de algo maior. Medo de adrenalina não dispersa. Medo de serotonina desregulada.  Medo de ser a fim, de serafim. Medo de ser, enfim, descoberto. Medo de dormir num sonho. Medo de não ter medo. Medo de saber. Escondamos os medos.

Por isso, revelo, pedir a um sociólogo um conto ou uma explicação é apostar na filosofia. Pois, a sociologia é uma forma filosófica. É o amor ao saber social. É o destrinchar caminhos. Mas quando o amor no caminho social se converte em individual, ou temos uma explicação sociológica pouco marxista, pouco estrutural, mais vertente à antropologia, mas casuística, se aproximando de um individualismo metodológico ou da explicação micro, do agente, do ator, menos da concretude como sobredeterminante, a macroestrutura. Ou temos um caso. E o caso que me retém é a fixação lunática. Digo, de Lua. Desde a beca à Lua.

De fato, a Lua me lembrava da eficiência....quanto mais eficiente é algo, mais próximo do esgotamento, da morte este algo está....pois, no limite, você conhece algo mais eficiente do que a morte? Ela nunca falha...e a Lua demarca um astronômico tempo.  Mas, voltando às vacas magras, quer dizer, à natureza ontológica das coisas (-... apesar de que na natureza não existem vacas gordas ou magras, elas estão sempre em forma, como todos animais que vivem na natureza procurando algo, mormente o que comer no dia seguinte. Fechemos esse parênteses antes que nos contaminemos pelo resfriado que é a imaginação paralela...) estávamos com relógios trocados. K e O e P. E eu estava quase sempre com o relógio de O, por motivos coincidentes, talvez de personalidade, talvez inclinação astronômica. Certamente por gosto. E eis que surgia a questão em minha mente, nesses instantes de relógios altercados, de como respeitar a opinião do outro (apesar até de discordar se o outro existe) é mais fundamental se, e somente se, as vontades forem algo racionais e emocionais conjugadas. Se elas são pensamentos convertidos ou sintetizados. Se são conclusões.

Elas, então, as vontades, não podem ser circunstanciais e têm de estar associadas à personalidade (por isso disse que era por motivos de coincidência: me referia à coincidência de vontades, que associo à coincidência de personalidades, como subscrito). E nestes momentos podemos perceber como amigos são tão amigos quando conseguem se ouvir: e isto, às vezes, é fonte de problema; e, na maioria das vezes, quem ganha é a retórica do convencimento, pois se queria executar uma vontade em conjunto porque se sabia que uma postura de isolamento parcial pode ser tida como egoística.

Então, decidíamos depois de breves (geralmente - com exceção do episódio no qual se elegeu um juiz) argumentos e discursos de convencimento se íamos nadar na lagoa, andar de (a) caiaque, mergulhar no mar -sempre gelado- comer um peixe frito ou jogar totó, pebolim, fla-flu etc no clube. Durante este intervalo de pensamentos víamos a paciência se exercitar, vindo e se esvaindo; a prática sofista médica entrar em ação; argumentos que buscavam a conjugação e outros que buscavam mostrar a interação como sendo necessária, ainda que a percepção (fosse) seja tardia. A troca, a interação funda a sociedade. O ser social dela depende, depreendeu um antropólogo francês.

Porém, existem momentos nos quais o corpo e a mente pedem um espaço, um tempo (por indutiva inteligente, sabem que o tempo e o espaço são uma só coisa e esteticamente não se podem separar) para reconfiguração e readaptação às circunstâncias, para formação e reformulação de ideias, em suma, para maturação. E este precioso quarto tempo, um tempo extemporâneo ao três tempos da filosofia, a ressaber, o de Aion, o de Cronos e o de Kairós, apesar de estar margeando ou tangenciando a realidade é absolutamente real e necessário. Está sempre presente. É ele quem ora evita ora provoca o cansaço emocional numa pessoa, a depender se é ou não observado. E ele foi somente observado, em meio a agitação invariante dum local esmo.

Assim, com essa nota introdutória à sociologia dos contos, lembrei-me de destrinchar apenas um caso. O caso todo num caso solo. E conta-se um caso por vez de uma vez por todas porque se quer evitar o enfadonho do detalhe. Em verdade, um caso pôde resumir toda a história. E o caso apensado, para brincar com terminologia sociojurídica, foi justamente um no qual a reprodução das vontades foi aplainada por um evento. Foi o passeio de caiaque.

E assim foi: tudo começou como um processo, o processo de saber quantos caiaques estavam disponíveis.

Este processo resumira algo mais. De fato, havia três caiaques disponíveis: um modelo era antigo e pesava mais de 30 kg, já os outros dois eram novos e pesavam cerca de quinze quilos. Nesta diferença de massa residia também parte de meu argumento nunca falado ( o tal "não dito" que é tão ou mais fundamental do que o "dito", como se sabe linguística e antropologicamente): carregar os caiaques da garagem à lagoa exigia hercúleo esforço e risco de lesão caso um movimento brusco ocorresse. Além disso, e ainda mais importante, outro argumento interno ao pensamento para não usar o caiaque antigo era a possibilidade de ele virar, em meio a um vento forte à lagoa funda e com algas que podem agarrar alguém com seus "tentáculos"; e já que era fechado, diferente dos novos, abertos, e contendo um furo, e se enchendo com água e afundando em parte funda da lagoa... e daí a tentativa de resgate da pessoa e da embarcação poderia redundar em desgaste físico desnecessário, precedendo o risco de afogamento.

Assim, passando este processo de "busca e apreensão de caiaques", se evidenciava também um traço de minha personalidade quando no debate, na discussão argumentativa para a consecução das vontades coletivas: a ação por demais cautelosa.

 Talvez viver seja correr riscos, mas se podemos evitar os maiores riscos, os riscos de morte, ou de vida, como discutimos brevemente, é-me preferível. Por certo, viver é perigoso. Mas, repito, mais perigoso ainda é não viver. E estas duas frases são sinônimos escusos, ou seja, resumem sinônimos exclusos ou ocultos: depende apenas da conotação da palavra viver: se vive para correr riscos e para preservar a vida.

Tornando ao passeio, fomos passo a passo. Numa cessão de vontades, duas pessoas foram andar de caiaque, eu e ela. O K esperava pacientemente sua vez. E, para esperar a vez, imagino que conversou com quem mais estava na areia da lagoa, PP e mais amigos. Depois, cansou e foi ler. Lamentamos, internos.

 No entanto, no passeio pudemos aproveitar bem. Ao chegarmos a uma margem após vinte minutos de remo, deslumbramos um pedaço paradisíaco da Terra. Perdemos todos os tempos e achamos outros tempos. Submersos. Pescamos, deixamos de pescar. Pegamos o Sol sem proteção, nos protegíamos pela água desviadora de radiação. Mergulhamos. Jogamos areia. Escorremos areia pelos cabelos. Queria-se irritar com a areia. Mas a irritação vinha pela falta de irritação. A água quase irritava, hipoalergênica. As algas eram profundas, a margem afundava repentinamente. Não bem se sabia o que se passava à mente alheia. Apenas se imaginava. O tempo fora desapercebido. Ficamos horas. A fio. Perdemos alguns fios. Buscava um peixe a beliscar; fui beliscado. Cercamos peixes em armadilhas; fomos cercados por peixes. Nada disso tinha outro sentido, senão o imaginado. Imaginamos demais. Nos protegemos do Sol cobrindo nosso corpo com areia e água e corpos. Um pedido fora perdido. Um perdido fora encontrado. Vidrado, afundei na água. Estava em transe. Acho que ainda não acordei. Não pensava em nada naquele momento, apenas na Bondade, que é o Amor.


"Existe um lugar onde ninguém pode tirar você de mim. Este lugar chama-se pensamento... e nele, você me pertence." (Charles Chaplin)

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Quem sou eu (em agosto de 2012, pois quem se define se limita, dizem)

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Mais preocupado com a criatura do que com o criador. Existem perguntas muito complicadas. Existem respostas muito complicadas. Existem pessoas que não são complicadas. Existem pessoas que tentam complicar. Eu sou aquela que procura entender; complicando un peu primeiro para poder descomplicar. Quero dizer: se eu entender o problema de forma completa, poderei encontrar a solução mais correta, eu acho. Um sonhador, dizem. Mas não creio apenas em sonhos. Gosto mesmo é da realidade, empírica ou não. Gosto de estudar sociologia e biologia. Sou acima de tudo, e pretensamente, um filósofo, no sentido mais preciso da palavra: o sentido do amor a sabedoria, ao saber. Mas a vida é para ser levada com riso e seriedade. Sabendo-se separar uma coisa da outra, encontraremos nosso mundo, nosso lugar, nossa alegria. Nossa Vida, com letra maiúscula! "o infinito é meu teto, a poesia é minha pátria e o amor a minha religião." Eu. Um ídolo: Josué de Castro; um livro: A Brincadeira (Milan Kundera) ; um ideal: a vida.