A irreverente e séria política
Neste
primeiro dia de campanha irreverente no Centro, estávamos recém-chegados de um
dia cansativo, de campanha na Carioca e Av. Primeiro de Março, e muita “correria”
com as placas, que nunca ficavam de pé mesmo com os plaqueiros o dia todo a mirá-las. Em verdade, recebíamos a todo
instante uma ligação vindo de um amigo, de um bairro mais distante que o outro,
para avisar que havia uma placa caída em algum canto da cidade. Daí o
responsável pelos plaqueiros da área
tinha de ligar para os plaqueiros
para perguntar o motivo da queda da placa móvel e o não levantamento deste
importante objeto de propaganda das eleições. E, antes, a ligação sempre chegava aos
coordenadores gerais, e ao candidato, sempre muito preocupado com todos os detalhes
da legislação.
E,
a propósito, detalhes desde não colocar a coligação no material de campanha ou
a tiragem deste, até placas caindo nas ruas ou pessoas, podem incidir em multa. Multa
pesada.
Prosseguindo, então, fomos para as
ruazinhas apertadas que darão nos Arcos do Teles e que nas quintas-feiras à
noite se tornam um verdadeiro local de boemia. Lá, estando no coração da cidade,
perto das Barcas, da Praça Quinze, da Av. Primeiro de Março, da Bolsa do Rio,
do CCBB, da Candelária, a presença do público multifacetado é evidente, bem
como a quantidade de pessoas é numerosa. Ali as pessoas estão querendo fazer a
hora feliz após o trabalho e/ou estudo, o famoso happy hour, e são pessoas atentas à cidade, preocupadas com
questões pessoais e profissionais sumárias. E também um pouco cansadas da velha
ladainha política. No entanto, essas pessoas, à noite, e já calibradas com álcool, se mostravam
dispostas a conversar conosco sobre política.
Sobretudo após lerem nossos irreventes cartazes.
A estratégia com os cartazes foi simples. Avistamos as ruelas com bares, bares cheios e cheios de cadeiras e mesas nas ruas (são ruas quase fechadas, ali à noite não passam carros) e, assim, organizamos equipes de três em três. Éramos nove no total. Uma pessoa segurava o cartaz, o apontando para as pessoas sentadas ou em pé junto às mesas, e as outras duas abordavam as pessoas que se interessavam pelo cartaz – imensa maioria. A abordagem era para falar sobre a campanha, distribuindo folders, panfletos da campanha.
A estratégia com os cartazes foi simples. Avistamos as ruelas com bares, bares cheios e cheios de cadeiras e mesas nas ruas (são ruas quase fechadas, ali à noite não passam carros) e, assim, organizamos equipes de três em três. Éramos nove no total. Uma pessoa segurava o cartaz, o apontando para as pessoas sentadas ou em pé junto às mesas, e as outras duas abordavam as pessoas que se interessavam pelo cartaz – imensa maioria. A abordagem era para falar sobre a campanha, distribuindo folders, panfletos da campanha.
Ao
apontar na direção das pessoas os cartazes com dizeres como “Oi, eu sou a Copa,
finge que sou a Educação, investe em mim...”, percebíamos comentários e zum zum
zum imediatos. Podíamos ler nos lábios das pessoas a repetição da frase do
cartaz e a indicação para uma pessoa ou outra da mesa que não havia reparado
nesta irreverente propaganda política e, então, a conversa nas mesas mudava. O
assunto passava a ser aquele do cartaz. Pronto, missão cumprida. Chamamos
atenção para o nosso tema: Educação.
Amiúde,
dentro dessa equipe de nove pessoas uma delas era o próprio candidato. Em
primeiro lugar ele observava a reação das pessoas aos cartazes para, então,
vendo alguma reação positiva, intervir. Mas, como percebemos que a reação era
quase sempre positiva, passamos à pró-atividade maior, e o candidato aparecia
entregando o material de campanha, os folders,
e falava um pouco de sua intenção como candidato da Educação, lembrando que a
Educação ajuda a resolver toda sorte de problemas de uma cidade, desde à saúde
até a violência. Uma vez que uma pessoa bem educada deve conhecer bem seus
direitos e deveres.
Mas, de fato, esse conto vai abordar um momento à parte deste dia intenso de campanha.
O momento que mais me chamou atenção. Foi quando, após falar com dezenas de
pessoas, distribuir panfletos de campanha e mostrar os cartazes, o candidato
viu que duas pessoas em situação de rua, aparentemente, se interessavam pelos
cartazes e queriam saber do que se tratava. Foi aí que o candidato se mostrou
mais humanista, e parou para conversar com aquelas pessoas.
Enquanto isso, notei que os demais voluntários
daquele dia de campanha faziam cara de interrogação, não compreendiam a atitude
do candidato para com aquelas pessoas em situação de rua. No limite, deviam
pensar, “eles não têm domicílio ou podem ser analfabetos, e, provavelmente, não votam”.
Creio que este pensamento se passou na cabeça de muitas pessoas também que
estavam nos bares, assim como ouvi de uma delas por alto e cheguei por um
segundo a concordar - “aquele cara não vota”, ouvi.
Porém, conhecendo bem o candidato, sei que ele valoriza a pessoa em si, independente da condição financeira, uma vez que a condição existencial é a mesma para todos - nascemos e morremos. E compreendi que conversar com aquelas pessoas era importante para absorver um conhecimento que poucos detêm, o conhecimento do mais afastado da, e pela a, sociedade.
Porém, conhecendo bem o candidato, sei que ele valoriza a pessoa em si, independente da condição financeira, uma vez que a condição existencial é a mesma para todos - nascemos e morremos. E compreendi que conversar com aquelas pessoas era importante para absorver um conhecimento que poucos detêm, o conhecimento do mais afastado da, e pela a, sociedade.
Era
importante ouvir aquelas pessoas também porque elas provavelmente têm muito a
dizer e não tem a quem falar, quem de fora de seu pequeno círculo de
convivência. Ficando com seus assuntos e angústias sem escape. Ficando à mercê
de doenças psíquicas como a depressão. Ficando mesmo desesperançadas na
humanidade das pessoas, que parecem a cada dia perder esta condição de ser
humano. Um ser humano verdadeiramente humano.
Aquela conversa com aqueles dois jovens homens em situação de rua durou cerca de quinze minutos, e já era por volta de oito e meia da noite. E enquanto o candidato conversava, o restante da equipe continuava a apontar cartazes para as pessoas nos bares, distribuir panfletos e cumprir a agenda de campanha. Abordando pessoas, pedindo para acessar a página da internet, e sempre levantando a bandeira da educação, da importância de um candidato que preza pela melhoria de todo o sistema educacional.
Mas, de repente, todos pararam e observaram a cena inenarrável de o candidato conversando com pessoas em situação de rua, pois a conversa se estendia, e não se sabia se a campanha continuaria na mesma ordem pelos bares. E, no fim, fotos desta cena foram tiradas pela própria equipe de voluntários. Estas fotos conseguirei em breve, e as colocarei aqui, junto ao texto.
Aquela conversa com aqueles dois jovens homens em situação de rua durou cerca de quinze minutos, e já era por volta de oito e meia da noite. E enquanto o candidato conversava, o restante da equipe continuava a apontar cartazes para as pessoas nos bares, distribuir panfletos e cumprir a agenda de campanha. Abordando pessoas, pedindo para acessar a página da internet, e sempre levantando a bandeira da educação, da importância de um candidato que preza pela melhoria de todo o sistema educacional.
Mas, de repente, todos pararam e observaram a cena inenarrável de o candidato conversando com pessoas em situação de rua, pois a conversa se estendia, e não se sabia se a campanha continuaria na mesma ordem pelos bares. E, no fim, fotos desta cena foram tiradas pela própria equipe de voluntários. Estas fotos conseguirei em breve, e as colocarei aqui, junto ao texto.
Finalmente,
creio que a equipe toda da campanha teve neste dia um lampejo do que é ser um
político honesto, ou um candidato honesto. O verdadeiro animal político, o zoon politikon de Aristóteles, se
importa com todas as pessoas. Não interessando se a pessoa vota ou não, se é
perda de tempo, no sentido pragmático da expressão. Ele se interessa em como a
pessoa está, o que ela sente, ou o que ela pensa. Afinal, naquelas conversas
cotidianas nos bares, os assuntos pessoais e profissionais são discutidos por
todos, mas podemos perceber que o exercício
de falar das outras pessoas
também é uma constante.
No entanto, só se fala daquelas pessoas que vivem o sucesso ou o fracasso tentando o sucesso. Fala-se das questões amorosas e afetivas. Dos casos e causos. Contam-se piadas e se ouve filosofias de botequim. O problema é que o imperativo do egocentrismo parece ser sobressaliente, e parafraseando Nelson Gonçalves, parece que “não existe o diálogo, mas um monólogo esperando pelo outro.”
No entanto, só se fala daquelas pessoas que vivem o sucesso ou o fracasso tentando o sucesso. Fala-se das questões amorosas e afetivas. Dos casos e causos. Contam-se piadas e se ouve filosofias de botequim. O problema é que o imperativo do egocentrismo parece ser sobressaliente, e parafraseando Nelson Gonçalves, parece que “não existe o diálogo, mas um monólogo esperando pelo outro.”
Daí,
quando um candidato tem uma atitude diferente, de conversar com o outro que é
mais distante do que todos outros, o imperativo do egocentrismo é combalido
pela humanidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário