"Sonho é destino". "Dream is destiny". You do it to yourself, you do, and that's what really 'happens'. "Tudo que não invento é falso."

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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A irreverente e séria política


A irreverente e séria política

          Neste primeiro dia de campanha irreverente no Centro, estávamos recém-chegados de um dia cansativo, de campanha na Carioca e Av. Primeiro de Março, e muita “correria” com as placas, que nunca ficavam de pé mesmo com os plaqueiros o dia todo a mirá-las. Em verdade, recebíamos a todo instante uma ligação vindo de um amigo, de um bairro mais distante que o outro, para avisar que havia uma placa caída em algum canto da cidade. Daí o responsável pelos plaqueiros da área tinha de ligar para os plaqueiros para perguntar o motivo da queda da placa móvel e o não levantamento deste importante objeto de propaganda das eleições. E, antes, a ligação sempre chegava aos coordenadores gerais, e ao candidato, sempre muito preocupado com todos os detalhes da legislação.
          E, a propósito, detalhes desde não colocar a coligação no material de campanha ou a tiragem deste, até placas caindo nas ruas ou pessoas, podem incidir em multa. Multa pesada.
          Prosseguindo, então, fomos para as ruazinhas apertadas que darão nos Arcos do Teles e que nas quintas-feiras à noite se tornam um verdadeiro local de boemia. Lá, estando no coração da cidade, perto das Barcas, da Praça Quinze, da Av. Primeiro de Março, da Bolsa do Rio, do CCBB, da Candelária, a presença do público multifacetado é evidente, bem como a quantidade de pessoas é numerosa. Ali as pessoas estão querendo fazer a hora feliz após o trabalho e/ou estudo, o famoso happy hour, e são pessoas atentas à cidade, preocupadas com questões pessoais e profissionais sumárias. E também um pouco cansadas da velha ladainha política. No entanto, essas pessoas, à noite, e já calibradas com álcool, se mostravam dispostas a conversar conosco sobre política.       Sobretudo após lerem nossos irreventes cartazes.  

          A estratégia com os cartazes foi simples. Avistamos as ruelas com bares, bares cheios e cheios de cadeiras e mesas nas ruas (são ruas quase fechadas, ali à noite não passam carros) e, assim, organizamos equipes de três em três. Éramos nove no total. Uma pessoa segurava o cartaz, o apontando para as pessoas sentadas ou em pé junto às mesas, e as outras duas abordavam as pessoas que se interessavam pelo cartaz – imensa maioria. A abordagem era para falar sobre a campanha, distribuindo folders, panfletos da campanha.
          Ao apontar na direção das pessoas os cartazes com dizeres como “Oi, eu sou a Copa, finge que sou a Educação, investe em mim...”, percebíamos comentários e zum zum zum imediatos. Podíamos ler nos lábios das pessoas a repetição da frase do cartaz e a indicação para uma pessoa ou outra da mesa que não havia reparado nesta irreverente propaganda política e, então, a conversa nas mesas mudava. O assunto passava a ser aquele do cartaz. Pronto, missão cumprida. Chamamos atenção para o nosso tema: Educação.
          Amiúde, dentro dessa equipe de nove pessoas uma delas era o próprio candidato. Em primeiro lugar ele observava a reação das pessoas aos cartazes para, então, vendo alguma reação positiva, intervir. Mas, como percebemos que a reação era quase sempre positiva, passamos à pró-atividade maior, e o candidato aparecia entregando o material de campanha, os folders, e falava um pouco de sua intenção como candidato da Educação, lembrando que a Educação ajuda a resolver toda sorte de problemas de uma cidade, desde à saúde até a violência. Uma vez que uma pessoa bem educada deve conhecer bem seus direitos e deveres.
          Mas, de fato, esse conto vai abordar um momento à parte deste dia intenso de campanha. O momento que mais me chamou atenção. Foi quando, após falar com dezenas de pessoas, distribuir panfletos de campanha e mostrar os cartazes, o candidato viu que duas pessoas em situação de rua, aparentemente, se interessavam pelos cartazes e queriam saber do que se tratava. Foi aí que o candidato se mostrou mais humanista, e parou para conversar com aquelas pessoas.
             Enquanto isso, notei que os demais voluntários daquele dia de campanha faziam cara de interrogação, não compreendiam a atitude do candidato para com aquelas pessoas em situação de rua. No limite, deviam pensar, “eles não têm domicílio ou podem ser analfabetos, e, provavelmente, não votam”. Creio que este pensamento se passou na cabeça de muitas pessoas também que estavam nos bares, assim como ouvi de uma delas por alto e cheguei por um segundo a concordar - “aquele cara não vota”, ouvi.
       Porém, conhecendo bem o candidato, sei que ele valoriza a pessoa em si, independente da condição financeira, uma vez que a condição existencial é a mesma para todos - nascemos e morremos. E compreendi que conversar com aquelas pessoas era importante para absorver um conhecimento que poucos detêm, o conhecimento do mais afastado da, e pela a, sociedade.
          Era importante ouvir aquelas pessoas também porque elas provavelmente têm muito a dizer e não tem a quem falar, quem de fora de seu pequeno círculo de convivência. Ficando com seus assuntos e angústias sem escape. Ficando à mercê de doenças psíquicas como a depressão. Ficando mesmo desesperançadas na humanidade das pessoas, que parecem a cada dia perder esta condição de ser humano. Um ser humano verdadeiramente humano. 

          Aquela conversa com aqueles dois jovens homens em situação de rua durou cerca de quinze minutos, e já era por volta de oito e meia da noite. E enquanto o candidato conversava, o restante da equipe continuava a apontar cartazes para as pessoas nos bares, distribuir panfletos e cumprir a agenda de campanha. Abordando pessoas, pedindo para acessar a página da internet, e sempre levantando a bandeira da educação, da importância de um candidato que preza pela melhoria de todo o sistema educacional.
          Mas, de repente, todos pararam e observaram a cena inenarrável de o candidato conversando com pessoas em situação de rua, pois a conversa se estendia, e não se sabia se a campanha continuaria na mesma ordem pelos  bares. E, no fim, fotos desta cena foram tiradas pela própria equipe de voluntários. Estas fotos conseguirei em breve, e as colocarei aqui, junto ao texto.
          Finalmente, creio que a equipe toda da campanha teve neste dia um lampejo do que é ser um político honesto, ou um candidato honesto. O verdadeiro animal político, o zoon politikon de Aristóteles, se importa com todas as pessoas. Não interessando se a pessoa vota ou não, se é perda de tempo, no sentido pragmático da expressão. Ele se interessa em como a pessoa está, o que ela sente, ou o que ela pensa. Afinal, naquelas conversas cotidianas nos bares, os assuntos pessoais e profissionais são discutidos por todos, mas podemos perceber que o exercício de falar das outras pessoas também é uma constante.         
           No entanto, só se fala daquelas pessoas que vivem o sucesso ou o fracasso tentando o sucesso. Fala-se das questões amorosas e afetivas. Dos casos e causos. Contam-se piadas e se ouve filosofias de botequim. O problema é que o imperativo do egocentrismo parece ser sobressaliente, e parafraseando Nelson Gonçalves, parece que “não existe o diálogo, mas um monólogo esperando pelo outro.”        
          Daí, quando um candidato tem uma atitude diferente, de conversar com o outro que é mais distante do que todos outros, o imperativo do egocentrismo é combalido pela humanidade.

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Quem sou eu (em agosto de 2012, pois quem se define se limita, dizem)

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Mais preocupado com a criatura do que com o criador. Existem perguntas muito complicadas. Existem respostas muito complicadas. Existem pessoas que não são complicadas. Existem pessoas que tentam complicar. Eu sou aquela que procura entender; complicando un peu primeiro para poder descomplicar. Quero dizer: se eu entender o problema de forma completa, poderei encontrar a solução mais correta, eu acho. Um sonhador, dizem. Mas não creio apenas em sonhos. Gosto mesmo é da realidade, empírica ou não. Gosto de estudar sociologia e biologia. Sou acima de tudo, e pretensamente, um filósofo, no sentido mais preciso da palavra: o sentido do amor a sabedoria, ao saber. Mas a vida é para ser levada com riso e seriedade. Sabendo-se separar uma coisa da outra, encontraremos nosso mundo, nosso lugar, nossa alegria. Nossa Vida, com letra maiúscula! "o infinito é meu teto, a poesia é minha pátria e o amor a minha religião." Eu. Um ídolo: Josué de Castro; um livro: A Brincadeira (Milan Kundera) ; um ideal: a vida.