"Sonho é destino". "Dream is destiny". You do it to yourself, you do, and that's what really 'happens'. "Tudo que não invento é falso."

Arquivo do blog

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Omnibus; Para a Educação; Para Todos

26/10/2013
Omnibus; Para a Educação; Para Todos

(repost de 2012, atualizado/modificado)

          Teorias econômicas são importantes (afinal, não se vive sem dinheiro, diria o apedeuta), e teorias políticas também. Pois bem, este artigo rememora trechos de teorias políticas que nos auxiliam a pensar um projeto de Governo e dá base, fundamenta teoricamente os nossos pensamentos do projeto para a Educação.

      Como se sabe, para Políbio, historiador grego do século II a. C., todos Estados passariam necessariamente por uma physis (um ciclo natural de nascimento, crescimento e morte), por um anakul sis politei n em grego, ou em português, um ciclo de constituições. Isto é, todas as formas de governo assinaladas por Aristóteles (IV a.C.), a quem se refere como O Filósofo, estão neste ciclo, seja a forma Democrática, a Aristocrática ou a Monárquica de governo; ou suas deturpações em Oclocracia (ou Anarquia), Oligarquia e Tirania, respectivamente.

             Em verdade, este ciclo é necessário, mas não natural; é algo episódico, repetitivo, é, portanto, um fato observável (e também um fato não desejável, ou mesmo maligno). Com este ciclo, necessariamente, da tirania se passaria à monarquia, até haver o ordenamento no Estado com um sistema melhor de governo, como uma Democracia, ou ainda melhor com uma Politeia. De fato, o único sistema de Estado estável seria àquele que escapa desse ciclo. Seria a Politeia, para Aristóteles, que assimilaria o melhor da Democracia, da Aristocracia e da Monarquia (formas viáveis, definidas de Governo, segundo Aristóteles).

         Por outro lado, a palavra Politeia pode ser traduzida por Constituição, significando a distribuição formal de autoridade para tomar decisões com um processo de tomadas de decisões universal, no qual todos os cidadãos participam.

           Acontece que cada forma de Governo, de sistema de ordenamento do Estado, tem suas virtudes, e somente a deturpação destas virtudes acarretaria o decaimento do Estado, a sua degeneração. E esta ideia tem a ver com a corrupção dos fatos que garantem a estabilidade de um governo; tem a ver com a própria corrupção dos agentes do governo.

           Textualmente, pode-se lembrar de que nessa ideia da corrupção de um bom agente pelo excesso,  sobrevalorização de seus bens individuais sobre os bens comuns, e suas pretensas qualidades individuais, há algo da chamada hubris da Tragédia Grega. E esta hubris nos remete ao conceito de Aristóteles de que a ditadura de um bom (agente de governo) sobre outros era crucial tanto para fazer o bem prevalecer quanto para arruiná-lo; de fato, a sobreposição de um bem individual sobre um bem coletivo seria fatal tanto para aquele que governa quanto para quem é governado.

       O que estamos falando é que isso pode arruinar o governo quando isso se chama corrupção no governo; isto é, querer obter o melhor para si apenas, e ainda tirando do todo, dos outros. Pois, em qualquer forma de governo no qual um bem particular de um grupo é tratado de forma idêntica ao bem do todo, há algo de um governo despótico. Em outra análise, isto se aproxima de um pensamento utilitarista.         

          É preciso explicar que a hubris grega seria, em resumo, um embate com as forças do espírito humano, por assim dizer. Porque a tentação, a oportunidade, a boa índole, a corrupção estão sempre presentes; e algumas destas forças estão tentando confundir o bom espírito, o espírito verdadeiramente humano. Outras dessas forças querem indicar o bom caminho, a tomada de decisões acertadas, justas.

              Mas os gregos não são unânimes, e tampouco estão sozinhos nesta discussão. Por exemplo, para os Romanos do medievo esta separação entre a Fortuna e a Virtus seria normal, natural. (Com Fortuna estamos nos referindo ao sentido de sorte ou azar, chance-em inglês-, ou oportunidade, que pode decair em mau oportunismo; em verdade, o conceito de Fortuna torna-se mais claro com a leitura de Maquiavel [1469-1527]; e Virtus é referência ao conceito também medieval que degenera atualmente na palavra "virtude").

            Ademais, a Fortuna seria a adversária onipresente, em qualquer sociedade, da Virtus. Assim, somente o embate das virtutes (ou virtudes) de uns com as virtudes de outros, somando assim as virtudes de todos e achando um equilíbrio, poderia vencer, ser gloriosa, impor a ordem sobre a fortuna, sobre o oportunismo indelével, degenerado, corruptor.

              Acontece que cada virtude, para não degenerar, tem de estar correlacionada com o todo, não pode pensar apenas no individual. Ela tem de subsistir de forma autorreflexiva e com reflexividade extensiva: ela tem de existir pensando-se em relação, de forma relacional, com o(s) outro(s).

  Repito, ela tem de existir pensando-se em-relação-com os outros. E é isto o que a vida política deve proporcionar: pensar com muitas pessoas, ouvir, debater, afirmar, questionar; propor. Isto tudo para, enfim, lutar para melhorar o que não está bom, manter o que funciona, e almejar novos horizontes...
            Com isso, se percebe: a degeneração das virtudes é um problema moral: se o indivíduo pensa apenas em obter o melhor somente para si, sua ética é pouco universalista; ela é individualista. Sua moral será individualista; este indivíduo, esta pessoa será, no limite, egoísta.

            Por isso, ao se pensar o processo político, e um problema político, as questões imediatistas e individualistas devem ser deixadas para segundo plano. Já as questões que garantirão o sucesso e as estabilidades futuras, tanto econômicas quanto sociais e políticas do todo, devem ser pensadas em prioridade.

              E assim, bom é um projeto para a Educação que não está escrito no tempo da physis aqui citada, que tem um ciclo de vida; mas um projeto que pensa no universal, no acesso ao conhecimento por todos, na garantia da qualidade para todos, em todos os lugares, em todas as épocas. NÃO  um projeto eleitoreiro (com "eleitoreiro" entende-se algo inventado para um candidato se eleger e depois de eleito o projeto é descontinuado). E sim um projeto de Governo, mais ainda, de Estado. Algo que  garantirá o sucesso e a estabilidade futuras.

Yuri Cavour.




Nenhum comentário:

Quem sou eu (em agosto de 2012, pois quem se define se limita, dizem)

Minha foto
Mais preocupado com a criatura do que com o criador. Existem perguntas muito complicadas. Existem respostas muito complicadas. Existem pessoas que não são complicadas. Existem pessoas que tentam complicar. Eu sou aquela que procura entender; complicando un peu primeiro para poder descomplicar. Quero dizer: se eu entender o problema de forma completa, poderei encontrar a solução mais correta, eu acho. Um sonhador, dizem. Mas não creio apenas em sonhos. Gosto mesmo é da realidade, empírica ou não. Gosto de estudar sociologia e biologia. Sou acima de tudo, e pretensamente, um filósofo, no sentido mais preciso da palavra: o sentido do amor a sabedoria, ao saber. Mas a vida é para ser levada com riso e seriedade. Sabendo-se separar uma coisa da outra, encontraremos nosso mundo, nosso lugar, nossa alegria. Nossa Vida, com letra maiúscula! "o infinito é meu teto, a poesia é minha pátria e o amor a minha religião." Eu. Um ídolo: Josué de Castro; um livro: A Brincadeira (Milan Kundera) ; um ideal: a vida.