Sócrates
e o Fim da Era Trágica.
Apolo e Dionísio são as configurações das duas faces do Teatro Grego. Juntos, eles são sumariamente dois cultos fundidos, o pessimismo grego resumido. - Enquanto a arte moderna é uma crítica ao razoável, ao institucionalizado. Porquanto Apolo dá vida ao sonho, Dionísio se entrega à embriaguez: esta arte grega do teatro trágico é a fusão daqueles personagens, e o teatro brasileiro é fundacionado no teatro grego. Ainda, o racional fundado por Sócrates seria a decadência da sociedade ocidental.
Pois, num lado da face, Apolo representa o sonho, a forma, a estrutura e a lei; e, no outro lado, Dionísio significa a embriaguez, o informe, a música, o entusiasmo. A com-posição dessa face só pode significar - num tempo contado de maneira circular, através da medida (métron) - a frustração; e a percepção de que não há como escapar das môiras, do destino, causa o pessimismo grego.
Um fato curioso é que o elemento dionisíaco exalta a vida, com celebrações, festas, aventuras sem limites, enquanto o elemento apolíneo parece vislumbrar um mundo que não é possível, mas querido, e, no entanto, quem vence esta batalha de ânimos parece ser o pessimismo. Talvez esteja mais próximo o segundo elemento do que o primeiro da razão soberana de Sócrates. A sociedade parecia necessitar de Sócrates para ser curada.
Porém, a arte grega do Teatro é a possibilidade de transformar o pessimismo que reinava na Grécia antiga. E a figura do Heroi, o qual hoje literalmente perdeu seu acento em português, servia para valorizar a existência humana, uma vez que a vida não tem (perdera) sentido.
Ainda, a religião olímpica, na qual há antropocentrismo e os deuses são grandes humanos e há corporeificação dos desejos, é uma sinalização do pensamento grego trágico. Estes mesmos desejos, instintos, parecem ser compelidos por Sócrates, e com alguma dose de perspicácia alude-se isso devido a sua aparência: Sócrates fora chamado por um conhecido de Monstro. Mas a sua resposta cínica e genial parecia esconder algum segredo maior e alguma vitória, Sócrates simplesmente respondera ao conhecido: "você me conhece!".
Isto parece significar que Sócrates não se importava com a aparência e que ele mesmo sendo um gênio na arte de representar escondia aí seu maior segredo. Se o mundo é constrito pela beleza divina e Sócrates é chamado de monstro, a ofensa seria tamanha. No entanto, o segredo de Sócrates parece maior. E a sua razão pode ser a inversa da pensada.
No início do teatro Grego, não havia separação entre palco e plateia, e talvez a vida de Sócrates seja a mais bem elaborada figura desse aspecto: Sócrates deveria estar representando sempre, diante de todos, e sua dialética era a prova maior disso. A alternativa da dialética não deixa a verdadeira personalidade aparecer, é a atuação perfeita. É também a legítima defesa. Mas é um sintoma de uma doença de vida. Apenas a morte é a solução.
Quer dizer, apenas na morte Sócrates revela-se. Ao fim de um capítulo de um texto de Nietzsche sobre o Problema de Sócrates, em o Crepúsculo dos Ídolos, a qual assenta o caráter ludibriador de si, de Sócrates, a afirmação posposta “Sócrates queria morrer: - não Atenas, mas ele deu a si veneno, ele forçou Atenas ao veneno..."Sócrates não é um médico", disse para si em voz baixa, "apenas a morte é médico aqui... Sócrates apenas esteve doente por longo tempo..." é explanadora.
Neste trecho a resolução da morte é compreendida. Pois, no momento da morte, Sócrates sussurra para si a verdade sobre o que pensava quanto à vida e o porquê da afirmação de que vencera a todos na vida: de fato, ele afirma, elege a racionalidade contra os instintos e essa seria a sua vitória pessoal. Porque como o maior dos representadores da (na) vida, ( afinal, ele cria o mundo das ideias criando assim sombras para os humanos, que são agora plasmados pela alma e o que existe é a representação, não a realidade), ele consegue enganar a todos afirmando que a razão é igual à virtude, que é igual à felicidade; quando sabia, em contrário, que, como na primeira fala do primeiro grande ator, "eu sou Dionísio, Deus da metamorfose", a razão não é superior à representação, e a felicidade é poder seguir os instintos. Sendo belo ou monstro.
Quer dizer, Sócrates parece que seria adorador do deus Prometeu, o deus que dá a capacidade do pensamento (fogo) aos seres rastejantes, os seres humanos, quando, de fato, levou sua adoração ao último grau, usando o pensamento para criar um novo mundo, onde as ideias dão lugar ao concreto. E, decerto, a comédia está contida no início do teatro grego.
Porém, talvez esse realmente tenha sido o erro de Sócrates, como propusera Nietzsche. E a racionalidade a qualquer preço ao invés de promover a prudência e limpidez seria uma doença, que promove a decadência. Decadência da sociedade.
Em detalhe, com o pensamento dionisíaco se pensara o coletivo e com o pensamento apolíneo elevava-se o indivíduo; e a composição de ambos seria realizada no teatro grego. Até que Sócrates surge e reconfigura o mundo: com Sócrates, vem com toda a força a unidade, a razão, e conseguintemente o fim da tragédia.
Então, a sequência histórica das peças gregas de teatro são pormenorizadas. Com Ésquilo, em o Prometeu Acorrentado, os coros regem a ação; o destino das môiras agem sobre ele. Esta é a forma primitiva da tragédia, mas distante de Sócrates. A tragédia é mais livre, há menos protagonistas. O coletivo participa, é dionisíaco.
Já com Sófocles, em sua trilogia tebana, com Édipo Rei, Édipo colono e Antígona, o protagonismo é ainda uma possibilidade na primeira obra; na segunda, um rei vira mendigo, cego, e sofre com o fado do destino. Na última, há o embate entre um cidadão e o Estado. Portanto, a comédia ainda se faz presente, bem como as moiras, e há a batalha entre o coletivo e o indivíduo, Dionísio versus Apolíneo, talvez, representada no embate entre o cidadão e o Estado supracitado.
Finalmente, com Eurípedes a influência de Sócrates é arrebatadora. Em Médeia, a Bárbara, e Beantes. A personagem criada de Eurípedes tem um embate contra deus, ela é a própria representação do surgimento do Personagem. É a decadência do teatro coletivo, portanto a influência de Sócrates é supinada.
En brief, após a constatação de sua feiura por si mesmo e pelos demais, Sócrates é eleito salvador do mundo porque carrega com si uma nova forma de disputa para a competição grega. Sócrates combate a agonia (ágon) da vida que não é perene através de uma nova ágon (competição): através dos mundos das ideias e de sua dialética, a defesa pessoal pela palavra racional, quando não há mais armas para utilizar, o torna gênio. (Um advogado). De batido se torna combatente, e insuperável. Demonstra para o mundo grego que a idiotice (idios) das aparências da pessoa provoca o pessimismo a levantar-se, e a solução para essa batalha, de maior ou menor filosofia, é procurar por ciências outras. A razão descamba em todas as partes, e da matemática ao teatro, tudo pode ser representação. Meramente, a própria realidade ou realidade própria (torna-se representação).
Apolo e Dionísio são as configurações das duas faces do Teatro Grego. Juntos, eles são sumariamente dois cultos fundidos, o pessimismo grego resumido. - Enquanto a arte moderna é uma crítica ao razoável, ao institucionalizado. Porquanto Apolo dá vida ao sonho, Dionísio se entrega à embriaguez: esta arte grega do teatro trágico é a fusão daqueles personagens, e o teatro brasileiro é fundacionado no teatro grego. Ainda, o racional fundado por Sócrates seria a decadência da sociedade ocidental.
Pois, num lado da face, Apolo representa o sonho, a forma, a estrutura e a lei; e, no outro lado, Dionísio significa a embriaguez, o informe, a música, o entusiasmo. A com-posição dessa face só pode significar - num tempo contado de maneira circular, através da medida (métron) - a frustração; e a percepção de que não há como escapar das môiras, do destino, causa o pessimismo grego.
Um fato curioso é que o elemento dionisíaco exalta a vida, com celebrações, festas, aventuras sem limites, enquanto o elemento apolíneo parece vislumbrar um mundo que não é possível, mas querido, e, no entanto, quem vence esta batalha de ânimos parece ser o pessimismo. Talvez esteja mais próximo o segundo elemento do que o primeiro da razão soberana de Sócrates. A sociedade parecia necessitar de Sócrates para ser curada.
Porém, a arte grega do Teatro é a possibilidade de transformar o pessimismo que reinava na Grécia antiga. E a figura do Heroi, o qual hoje literalmente perdeu seu acento em português, servia para valorizar a existência humana, uma vez que a vida não tem (perdera) sentido.
Ainda, a religião olímpica, na qual há antropocentrismo e os deuses são grandes humanos e há corporeificação dos desejos, é uma sinalização do pensamento grego trágico. Estes mesmos desejos, instintos, parecem ser compelidos por Sócrates, e com alguma dose de perspicácia alude-se isso devido a sua aparência: Sócrates fora chamado por um conhecido de Monstro. Mas a sua resposta cínica e genial parecia esconder algum segredo maior e alguma vitória, Sócrates simplesmente respondera ao conhecido: "você me conhece!".
Isto parece significar que Sócrates não se importava com a aparência e que ele mesmo sendo um gênio na arte de representar escondia aí seu maior segredo. Se o mundo é constrito pela beleza divina e Sócrates é chamado de monstro, a ofensa seria tamanha. No entanto, o segredo de Sócrates parece maior. E a sua razão pode ser a inversa da pensada.
No início do teatro Grego, não havia separação entre palco e plateia, e talvez a vida de Sócrates seja a mais bem elaborada figura desse aspecto: Sócrates deveria estar representando sempre, diante de todos, e sua dialética era a prova maior disso. A alternativa da dialética não deixa a verdadeira personalidade aparecer, é a atuação perfeita. É também a legítima defesa. Mas é um sintoma de uma doença de vida. Apenas a morte é a solução.
Quer dizer, apenas na morte Sócrates revela-se. Ao fim de um capítulo de um texto de Nietzsche sobre o Problema de Sócrates, em o Crepúsculo dos Ídolos, a qual assenta o caráter ludibriador de si, de Sócrates, a afirmação posposta “Sócrates queria morrer: - não Atenas, mas ele deu a si veneno, ele forçou Atenas ao veneno..."Sócrates não é um médico", disse para si em voz baixa, "apenas a morte é médico aqui... Sócrates apenas esteve doente por longo tempo..." é explanadora.
Neste trecho a resolução da morte é compreendida. Pois, no momento da morte, Sócrates sussurra para si a verdade sobre o que pensava quanto à vida e o porquê da afirmação de que vencera a todos na vida: de fato, ele afirma, elege a racionalidade contra os instintos e essa seria a sua vitória pessoal. Porque como o maior dos representadores da (na) vida, ( afinal, ele cria o mundo das ideias criando assim sombras para os humanos, que são agora plasmados pela alma e o que existe é a representação, não a realidade), ele consegue enganar a todos afirmando que a razão é igual à virtude, que é igual à felicidade; quando sabia, em contrário, que, como na primeira fala do primeiro grande ator, "eu sou Dionísio, Deus da metamorfose", a razão não é superior à representação, e a felicidade é poder seguir os instintos. Sendo belo ou monstro.
Quer dizer, Sócrates parece que seria adorador do deus Prometeu, o deus que dá a capacidade do pensamento (fogo) aos seres rastejantes, os seres humanos, quando, de fato, levou sua adoração ao último grau, usando o pensamento para criar um novo mundo, onde as ideias dão lugar ao concreto. E, decerto, a comédia está contida no início do teatro grego.
Porém, talvez esse realmente tenha sido o erro de Sócrates, como propusera Nietzsche. E a racionalidade a qualquer preço ao invés de promover a prudência e limpidez seria uma doença, que promove a decadência. Decadência da sociedade.
Em detalhe, com o pensamento dionisíaco se pensara o coletivo e com o pensamento apolíneo elevava-se o indivíduo; e a composição de ambos seria realizada no teatro grego. Até que Sócrates surge e reconfigura o mundo: com Sócrates, vem com toda a força a unidade, a razão, e conseguintemente o fim da tragédia.
Então, a sequência histórica das peças gregas de teatro são pormenorizadas. Com Ésquilo, em o Prometeu Acorrentado, os coros regem a ação; o destino das môiras agem sobre ele. Esta é a forma primitiva da tragédia, mas distante de Sócrates. A tragédia é mais livre, há menos protagonistas. O coletivo participa, é dionisíaco.
Já com Sófocles, em sua trilogia tebana, com Édipo Rei, Édipo colono e Antígona, o protagonismo é ainda uma possibilidade na primeira obra; na segunda, um rei vira mendigo, cego, e sofre com o fado do destino. Na última, há o embate entre um cidadão e o Estado. Portanto, a comédia ainda se faz presente, bem como as moiras, e há a batalha entre o coletivo e o indivíduo, Dionísio versus Apolíneo, talvez, representada no embate entre o cidadão e o Estado supracitado.
Finalmente, com Eurípedes a influência de Sócrates é arrebatadora. Em Médeia, a Bárbara, e Beantes. A personagem criada de Eurípedes tem um embate contra deus, ela é a própria representação do surgimento do Personagem. É a decadência do teatro coletivo, portanto a influência de Sócrates é supinada.
En brief, após a constatação de sua feiura por si mesmo e pelos demais, Sócrates é eleito salvador do mundo porque carrega com si uma nova forma de disputa para a competição grega. Sócrates combate a agonia (ágon) da vida que não é perene através de uma nova ágon (competição): através dos mundos das ideias e de sua dialética, a defesa pessoal pela palavra racional, quando não há mais armas para utilizar, o torna gênio. (Um advogado). De batido se torna combatente, e insuperável. Demonstra para o mundo grego que a idiotice (idios) das aparências da pessoa provoca o pessimismo a levantar-se, e a solução para essa batalha, de maior ou menor filosofia, é procurar por ciências outras. A razão descamba em todas as partes, e da matemática ao teatro, tudo pode ser representação. Meramente, a própria realidade ou realidade própria (torna-se representação).
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