Uma vez lembro-me de ter chamado a inculta e bela língua portuguesa de tensa e vil. E fui mui repreendido por isso, textualmente. Acontece que, para mim, ela é tensa e vil no mesmo sentido de Olavo Bilac, a afirmando inculta e bela.
A tensão é, no caso, adjetivo que diz que as formas de flexão podem ser tantas que chegam a enganar, sendo, portanto, má, vil. A tensão é nesse sentido inculta, porque variações da flexão formam os casos de exceção, que confundem em não raras oportunidades aos mais diversos escritores. No entanto, ela traz consigo a beleza sonora multiforme, dos sotaques.
A única coisa de má na língua é que justamente a sua beleza parece cansar, às vezes. Porque demais perfeita. Onde está o erro do português? Certamente foi em chegar “em dia de chuva”, e cobrir os índios. A vileza da língua se faz presente, por outro lado, na sua expatriação. O português em Portugal é um pouco diferente do português no Brasil, apesar de ser gramatica e/ou teoricamente o mesmo. Basta uma lida breve em sítios da rede de computadores para ver a necessidade da "tradução".
A língua, ainda, é tensa porque tem pronomes reflexivos raramente bem colocados. Não se sabe puxá-los adequadamente. É comum faltar espaço após os pontos de interrogação, dois pontos, ou pontos e vírgulas. Colocar as palavras que antes possuíam hífen no plural é outra dificuldade digna de admoestação para inúmeros alfabetizados em português. No mais, esquecem-se acentos, letras maiúsculas, vírgulas são gulosamente comidas e o sentido falta.
A beleza da língua escrita é acompanhada por uma destirrostra trajetória, como já se escrevera aqui antes. O pulsar da língua é distinto. Sua sonoridade é plástica. Suas possibilidades de metáforas são irradiantes. E o infinito parece o limite, no limite do paradoxo.
Portanto, quando se fala errado, fala-se errado. Quando se fala certo, fala-se certo. E não há discussão quanto a isso. O importante é que a linguagem não se perca, e que a mensagem seja transmitida. Que haja entendimento. Se for para isso que serve a norma culta, como preconizam os gramáticos, que ela seja usada no seu último grau. E atualizada.
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