"Sonho é destino". "Dream is destiny". You do it to yourself, you do, and that's what really 'happens'. "Tudo que não invento é falso."

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segunda-feira, 6 de abril de 2015

Quem são os oportunistas?

Quem são os oportunistas? Para que(m) serve a política? E o poder? Para corromper as pessoas, aduziria um republicano Maquiável.

 O que se desvia aqui é o tiro no pé, com o perdão da expressão, da própria esquerda no caso da "re-ocupação" do Complexo do Alemão - favela no Rio de Janeiro - e os lamentáveis recentes e antigos fatos com mortes de inocentes: por um lado a esquerda acha que a maconha já é legal, e faz uso dela, - a direita, então...- por outro, acha que a polícia não se presta a proteger o status quo? Ora, a polícia detém o poder legítimo da violência, e Hobbes nos ensina que assim é porque queremos nos proteger de ação alheia contra a nossa vida.

 Em meio a isso, tem-se na democracia a sina: respeita-se o vencedor, e se o governo vencedor assume em acordo excêntrico a tal política de repressão, que tem locus, é tolice crer que a mudança de comportamento do político mudará a política. É importante ater-se ao risco do político, lembra-nos Carl Schimitt.

 Explico com uma palavra: não se pode querer o cumprimento da lei quando se discorda da lei; e o bom político segue regras, leis quando deve e as muda quando pode.

 E se política é correlação de forças, chegaremos à biopolítica de Foucault e seus sequazes. Pois, as "forças nominais de guerra" partem do establishment, e do estabelecido, e se este novo estabelecido reproduz o tal jogo de manutenção de seu poder, tende a manter as forças nominais de guerra atuantes. É jogado à regra de status quo primitivo.

 Como temos, direitos humanos são universais. E o direito à vida é dos mais importante deles. E a força da lei é para que ninguém se sinta compelido a fazer algo que não quer, numa face, e, na outra, é para orientar o devir. Se não se concorda com o descumprimento da lei, há de ser coerente e cumpri-la. Se se diz que a lei é desigual, injusta, aplicada qual fórum íntimo, é preciso saber que
forças estão se movimentando à baila do poder.

 Assim, o poder em si não corrompe, porque ele é intangível, mas aqueles que o detêm temporaria e supostamente tratarão de seguir as normas para a sua manutenção. O problema é o segundo adjetivo do poder: supostamente. O poder real está além do que se vê. Está no não-dito. No silêncio. Na ação
subreptícia. Na capacidade de mobilizar fingindo não mobilizar. Nas entranhas do poder o camaleão sobrevive, sabe-se também com a biopolitica.

 Então, o que nos resta é perceber como é escrever um paradoxo defender o cumprimento da lei e dos direitos enquanto se sustenta a contravenção e o querer o bem alheio - uma vez que o alheio é distante, e é o estabelecido pelo prato da balança dos poderes que só muda conforme os pesos sejam manipulados, no duplo aspecto da palavra, por quem pode antes do poder. E pode porque detém seus meios, está nos seus interstícios faz tanto tempo que já sabe como se comportar. Trata-se de poder simbólico. Au même temps, o novo sempre vence, pois é metamorfose e amálgama.

 Portanto, não há solução unilateral. E se a própria suposta esquerda age por fora das regras do jogo, a tendência é este golpe ser acusado e o efeito tomar o lugar da causa.

 Questiono: se não se quer mais violência, primeiro mude a própria realidade, depois haja conforme a mudança./? Não é possível o contrário./? primeiro age conforme a realidade própria, como se a lei fosse outra, e depois pede-se o seu cumprimento, a sua observação./? Tiremos as interrogações.

 Isto é Marx versus Hegel, depende da estética. Primeiro muda-se os fatos, depois observa-os, ou primeiro observa-se os fatos e depois muda-os. O exemplo é algo edificante e a coerência, fundamental.

 Então, como sustentar que os mesmos policiais que combatem o narcotráfico, ilegal, e ceifam vidas de inocentes criaturas, outro dia, tiram foto em passeatas contra o Governo Federal com inocentes criaturas?

 A inocência é a mesma: não se pode pedir a cabeça de alguém quando este alguém é seu correlato, mas sim quando a sua imagem defletida. Seu mal interior exteriorizado.

 Sobretudo, é preciso a autocrítica para que se entenda: o dirimir da culpa apenas legitima o culpado a perpetuar a ação nefasta, uma vez que ele entende estar agindo conforme a ordem. Ou às ordens. Então, o assumir da culpa conduz à ação [pela negativa.

 Num exemplo do corpo do Leviatã pós-moderno, de resultados, eficiência e aparência como sobredeterminantes, com impulsos trocados temos a ataxia da ação. Porém, atos instintivos podem ser controlados com treinamento. Logo, antes do julgamento minucioso não se pode atestar a adequação do ato. E, ao mesmo tempo, a velocidade de reação é diretamente proporcional à urgência, à iminente morte. Um coágulo no cérebro não pode esperar. Nosso cérebro comanda nosso corpo, mas, ao mesmo tempo, a dislexia, a confusão da cognição que transforma efeito em causa, pode causar desvio de movimento, e a tosse, a repulsa são os efeitos-resposta naturais/fisiológicas, para ficarmos nos termos leviatãnescos.

 Em outras palavras, apenas com o atestado da supraescrita dislexia se deduz que é possível controlar um câncer com o poder da mente, do cérebro.

 É uma falta de entendimento. A falta de entendimento de que (ou que aduz) a descentralização (necessária), a desvirtuação (inerente), o desmembramento (ético-particularista), numa palavra, a correlação perfeita de forças antagônicas, dependa sumariamente de um ente. Ou uma pessoa. Isto é império, não democracia. É preciso se ater às estâncias.

 E, então, encarnar numa figura central a detenção do erro, ou do acerto, apenas é correto quando se pode em ato-contínuo executivo mudar a realidade e a realidade histórica. A realidade deve ser histórica, com paroxismo ou marxismos.

 Evidentemente, política é influência. E quem influi são os atores políticos . E se os atores são subsumidos com os pratos da balança dos poderes, manipulados, não detendo seu biopoder, o verbo perde para a carne - que deve pesar mais.

 Porém, o pecado não está na carne, mas no pensamento, ensina Santo Agostinho. E o pensamento conduz à ação. Pensamento, como tudo que existe, precisa de tempo e espaço. Mas se se perde tempo com mudança equivocada de espaço, com desvios de rota, têm-se duas hipóteses: crise ou corrupção. Que tal as duas? Temos um voilà!

 Crise é quebra, ruptura, momento de mudança. Essa altercação do momento, este momentum, diz-nos algo: não se pode inserir novos caracteres sem alterar o padrão de comportamento adjacente. Mas se se copia o padrão antigo, tem-se a reprodução atualizada.

 Logo, a farsa.

 Para se combater a farsa é preciso retomar o nó da falácia: quem autoriza e se beneficia, se não se mobiliza, concorda ou compadece. E adoece para sempre se pré-visualisa, vislumbra o futuro como irremediável.

 Por outro lado, quem enxerga além da hipocrisia umbilical do comportamento em paradoxo como supraescrito, está tranquilo para afirmar que a única maneira de vencer o discurso alheio não é segui-lo pela tangente e copiar seu paralelo, mas propor e realizar a mudança efetiva passo-a-passo. O que leva tempo. E espaço. A educação é o passo mais importante. E primevo.

 A mudança é a de paradigma, mais a frente trataremos disto.

 Por agora, não sejamos ingênuos. Houve eleição, re-eleição e o Governo do Estado implementou a UPP(Unidade de Polícia Pacificadora) e foi aplaudido, agraciado, quando re-eleito. Não é questão de ser a favor ou contra, a questão-problema é também a autorização do sistema representativo democrático.

 Outrossim, quem disse que a nossa polícia respeita cidadania? Cidadania para quem? Todos, menos os idiotas, no sentido grego do termo.


 Sim, entendo a posição que diz a respeito da responsabilidade da Excelentíssima Dilma. Então, o entendimento é de que a opressão é maior pela parte da polícia do que dos traficantes?...Não se pode confundir o bem e o mal, diz-se. Sim, há esse maniqueísmo na sociedade.

 A pôr luz, o que foi a ocupação do Complexo do Alemão (no Rio de Janeiro)? Aquelas pessoas sendo "perseguidas " e filmadas de helicóptero? Como disse, repito, quando se está no poder luta-se com as forças que compõem, as favoráveis e as contrárias, as que ajudam no projeto de nação em vigor ou em voga, e as que corrompem a sociedade. A questão, mais uma vez, é cognitiva: combate-se a consequência porque quer-se eliminar a causa. Não faz sentido.


 E este problema cognitivo só pode ser resolvido com a educação. Mas de ambos os lados. Daquelas pessoas que estão no governo, que têm de fomentar as oportunidades iguais, o acesso, as leis inclusivas, o querer e o respeito à inclusão e transformação rumo à cidadania - combatendo para tanto aqueles que corrompem a sociedade porque marginalizados devido, é verdade, ao entendimento conservador de que drogas só são boas quando on demand - e fazendo isso no pacto político-conservador da carta de Lula, que subsiste.

 Todos sabemos, o fim da Polícia Militar como nos moldes atuais é por todos nós querido aqui no discurso; assim como a gradual descriminalização das drogas. Porém, o crime organizado, o poder paralelo continuará existindo. E deve ser combalido. A forma atualmente encontrada é essa. Então, há de se confranger o modelo, a forma dada, pois mudar o paradigma é alternativa da terceira via. Esta que, infelizmente - admito -, não foi ao segundo turno e que, estranhamente, está perdendo espaço devido ao conservantismo que o poder induz. É preciso esperança e força para a mudança, e é errado crer em soluções instantâneas.

 Mas também a educação dos que criticam o governo é necessária. É o intermediário poder da educação que vai possibilitar a mudança de paradigma, que é algo lenta. A polícia, repito, não deve combater o inimigo externo qual o exército, mas proteger do perigo interno que corrompe a sociedade.

 E se a polícia está corrompida qual um câncer que estraga o perfeito funcionamento do sistema, todos devemos criticá-la. Mas se compactuamos,...

 Devemos unir esforços com aqueles que querem realmente a mudança de paradigma, e não com aqueles que querem se beneficiar do poder, usufruir benesses.

 Por isso, a alternativa na democracia representativa é tão importante. Não se pode acostumar ao poder, pois o status quo é isso, e ele, assim como o direito consuetudinário, quer a sua manutenção. Mas se no Mar-do-Poder todos querem flutuar quando no navio que atravessa quase afundando, temeroso do Leviatã, a ideia de cooperação visa salvar primeiro os mais desprotegidos, desprovidos de poder estabelecido, detentores da presumida força que garante o existir pacífico da sociedade, os resguardadores do pacto civil: o poder emana do povo.

 Então, a emancipação deste povo depende de educação com pedagogia mais progressista. Mas se algo está no caminho do Estado que visa qualquer forma de educação e pedagogia, é preciso a conversa, o diálogo com aqueles que detém o poder legítimo: o dado via voto; no mundo moderno a là Benjamin Constant, o francês.

 A pergunta não cala: quem eram os fugitivos não identificados do Alemão? Milicianos? Em tom íntimo: já ouviram os áudios dos dias da operação? O poder paralelo existe, repito, e continuará existindo. O combate é interno, o inimigo agora não é outro e é outro, como diz o Tropa de Elite. Não é outro porque é antigo, e também porque o outro é algo excludente, e inexiste, de fato. E é outro porque trata de mudar o paradigma.

Trocando em miúdos: o debate é, sobretudo, sobre classe, preconceito, racismo, virulência, opressão, dorgas, armas. E Poder Simbólico. Capital Cultural. Bourdieu tinha razão como os suicidas de Drummond: não tem mais porque hipossuficiente, pois morto, esquecido.


Y.C.O.

06-04-15

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Quem sou eu (em agosto de 2012, pois quem se define se limita, dizem)

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Mais preocupado com a criatura do que com o criador. Existem perguntas muito complicadas. Existem respostas muito complicadas. Existem pessoas que não são complicadas. Existem pessoas que tentam complicar. Eu sou aquela que procura entender; complicando un peu primeiro para poder descomplicar. Quero dizer: se eu entender o problema de forma completa, poderei encontrar a solução mais correta, eu acho. Um sonhador, dizem. Mas não creio apenas em sonhos. Gosto mesmo é da realidade, empírica ou não. Gosto de estudar sociologia e biologia. Sou acima de tudo, e pretensamente, um filósofo, no sentido mais preciso da palavra: o sentido do amor a sabedoria, ao saber. Mas a vida é para ser levada com riso e seriedade. Sabendo-se separar uma coisa da outra, encontraremos nosso mundo, nosso lugar, nossa alegria. Nossa Vida, com letra maiúscula! "o infinito é meu teto, a poesia é minha pátria e o amor a minha religião." Eu. Um ídolo: Josué de Castro; um livro: A Brincadeira (Milan Kundera) ; um ideal: a vida.