"Sonho é destino". "Dream is destiny". You do it to yourself, you do, and that's what really 'happens'. "Tudo que não invento é falso."

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segunda-feira, 30 de março de 2015

Brasil,


 
Brasil, sabes que suas tuas montanhas azuis ao fundo são os verdes à estampa, como a flanela que fizeram de sua bandeira.
 Limpam o horizonte sujando-o lindamente. Ora, queria-te mandar mensagem em tom solene para intimamente aquiesceres: as máquinas hoje cobrindo seus teus vales fatigados,rasgando tuas suas florestas imortais, são sinas da ordem do progresso. Confundiram o homem e o seu lema flamular se reverteu.
 Pois, n
ão era pela admoestação virulenta que esparramos sua pujança, mas pela tranquila e mansa, lenta e doce, como seus rios escandalosos, ideia de esperança de futuro ao qual devemos lhe implantar.

 Porém, o caudaloso poder capitalista, hoje mais do que nunca, te assombra por todos espectros; e veja bem, nesta troca enfitêutica sais em desvantagem: secam teus seus xistos, chupam salinas, chispam suas tuas silentes águas para borrifar petróleo à bordo de monstruosas naves pós-modernas: destroem com a aparência do belo o que era, intacto, ainda mais belo.

 Então, sim, quero te ver cheio do olor da esperança, como já tens em cada flor,
em cada pedaço resguardado de mata, e mesmo extraindo às entranhas do seu dorso, causando enxaquecas em suas colunas aquáticas ou lombalgias nas cerebrais escarpas, saibas que há aqueles que lhes desejam o bem maior preservado:
desejam usufruir a bonança sem desperdício. E mesmo recolocar no ciclo natural seus gases estufantes. Apenas não sabemos bem ao certo como antes confiar, uma vez que os mesmos humanos que em si se espelham, espalhando-se à Terra, e adubando o solo, são capazes de tornar tudo tão infértil.

 Contudo, penso que suas magnitude, latitude, e longas caldas nos permitam trafegar em mares de florestas como em estradas marinhas por anos fios ainda. E assim, revertendo-nos em palavras que conferem mas não ferem, vislumbramos um ambiente onde as mesmas tonalidades das quatro estações não sejam substituídas para o sempre cinza, das de fenestradas pólvoras carvorosas, chumbentas e petrolíferas miragems em estiagem sem a fundura dos azuis horizontais.

 Todavia, se seu teu nosso horizonte tem na outra margem as mil cores do arco íris, teus seus nossos rios pouco a pouco se assoream. Se das tuas suas nossas costas vemos espinhas no horizonte, sendo de fato cidades-plataformas-flutuantes, suas tuas nossas minhas mil-folhas ainda te espirram água ao céu todo verão.

 Assim, então, como sabes por intuição e segredo auspicioso, tens reservas
e pragas a contra-atacar àqueles que por mal súbito ou ganância só correm pelas bolsas do mundo mirando o verde engano, e, ciganos, se enganam ao apostar no desenvolvimento insustentável.

 Então, quando tudo parece terrível, explana no horizonte de tua capital a capital certeza de seu horizonte: vais continuar sério e túmido, colorido e úmido, verdejante e seco, impetuoso e convidativo. Mas somente para demonstrar aos incautos que não se mexe em vespeiro sem antídoto.

 Da jararaca ao quati, da preguiça ao bem-te-vi, mantém com a vitória-régia o saber ser pororoca e por de volta em seu lugar cada mexilhão incherido. As tintas, o pau-brasil permanecem resguardados no risoma pensado aleatoriamente, mas em verdade diversificador de momento. E carregas em cada surpresa do amanhecer esta certeza que se encerra na serra de angústia do anoitecer: a beleza que deixa somente à noite, a coruja de artimanhas: quem contigo ousas ser mais do que pode, desrespeitando teu aclive, ignorando tua escala, sofrerás por falta de fôlego para a matuta caminhada. De outra miragem, quem for leve como teus seus nossos cabelos crespos, com vossas águas sãs, e vales já ditos fatigados, obterás a recompensa. Terá sempre doces à dispensa. E dispensará o desperdício, notando que o que diz ser benefício o trovador capitalista é em verdade redondo engodo.

 Pois bem, querendo-me ajeitar junto a tua calma secular, assumo comigo e meus seus leitores essa tarefa das segundas pessoas: a de não te-lhe deixar à sombra da sombra quando não pedes sombra. E também sem delimitar virtuais fronteiras, te espelhar ao pensamento do mundo: que sua tua nossa natureza seja exemplo aos exploradores. De fato, quem pensa explorar será explorado. Mas este segredo somente guarda o travesseiro.

 Por fim, não te preocupas pois conheces a justa moral da natureza. Seu teu povo inato a toca em flauta, mas os que vieram depois, ainda estão por decifrar sua partitura. Complexa que és os deixa complexados, vez com medo de sua vingança em acordes abruptos de corredeira, vez outra surpresos com as longas pausas dos amenos lagos sem vento e com figuras lunares-alucinantes. E a defletir pensamentos de corais, as marrons água dos litorais chocam-se e apavoram quem esperava o azul-esverdeado das angras reais.

 Mesmo assim, límpidos e intrépidos como a chuva, voltam os viajantes para suas casas ao te visitar. Mal no-lo percebem que a morte é bela para sua índole se perpetuar. Adoram seu ciclo sem entender seus porquês. Pois, sentem na vontade do instinto, a intuição, que o coração abarca a todos e só pode ser bondosa obra do divino. Esquecem, no entanto, que o seu valor pós-humano só é ditoso quando se jusnaturalisa. De nada adianta agradecer aos deuses solos o que o Tupã utópico obriga, se afastando de seus ensinamentos manuelinos e barrosos: há de adquirir a consciência inseto-pedra-orvalho-passarinhos.

 Para ser preciso, a omnisciência João-de-barro-bicho-folha-agulha-negra.

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Quem sou eu (em agosto de 2012, pois quem se define se limita, dizem)

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Mais preocupado com a criatura do que com o criador. Existem perguntas muito complicadas. Existem respostas muito complicadas. Existem pessoas que não são complicadas. Existem pessoas que tentam complicar. Eu sou aquela que procura entender; complicando un peu primeiro para poder descomplicar. Quero dizer: se eu entender o problema de forma completa, poderei encontrar a solução mais correta, eu acho. Um sonhador, dizem. Mas não creio apenas em sonhos. Gosto mesmo é da realidade, empírica ou não. Gosto de estudar sociologia e biologia. Sou acima de tudo, e pretensamente, um filósofo, no sentido mais preciso da palavra: o sentido do amor a sabedoria, ao saber. Mas a vida é para ser levada com riso e seriedade. Sabendo-se separar uma coisa da outra, encontraremos nosso mundo, nosso lugar, nossa alegria. Nossa Vida, com letra maiúscula! "o infinito é meu teto, a poesia é minha pátria e o amor a minha religião." Eu. Um ídolo: Josué de Castro; um livro: A Brincadeira (Milan Kundera) ; um ideal: a vida.