"Sonho é destino". "Dream is destiny". You do it to yourself, you do, and that's what really 'happens'. "Tudo que não invento é falso."

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quinta-feira, 16 de abril de 2015

Outros Espaços Foucault

Outros Espaços. Foucault.

 
Em  Espaços Outros, Foucault aduz o advento de “uma época do espaço” posterior à “grande obsessão do século dezenove(XIX), que é a História” e o tempo.  Nesta obra, Foucault verificaria e enalteceria a existência de diversos espaços heterotópicos, onde também há a coexistência de tempos.

De acordo com o texto, são tempos de  simultaneidade espaço-temporal, justaposição, e o próximo e o longínquo convivem; o lado-a-lado e o disperso. Existiria, para Foucalt, espaços utópicos e lugares onde as utopias são realizadas, lugares heterotópicos e lugares intermediários entre essas duas formas de lugar, o lugar do espelho.

 Vejamos:
"Primeiro, há as utopias. As utopias são espaços sem lugar real. São espaços que mantêm com o espaço real da sociedade uma relação geral de analogia direta ou oposta. É a própria sociedade aperfeiçoada, ou é o contrário da sociedade, mas, de qualquer forma, essas utopias formam espaços que são fundamental e essencialmente irreais. Também há, e isso provavelmente existe em todas as culturas, em todas as civilizações, lugares reais, lugares efetivos, lugares que estão inscritos exatamente na instituição da sociedade, e que são um tipo de contra-espaços, um tipo de utopias efetivamente realizadas nos quais os espaços reais, todos os outros espaços reais que podemos encontrar no seyo da cultura, são ao mesmo tempo representados, contestados e invertidos, tipos de lugares que estão fora de todos os lugares, ainda que sejam lugares efetivamente localizáveis. Esses lugares, porque são absolutamente diversos de todos os espaços que refletem e sobre os quais falam, eu os chamarei, por oposição às utopias, de heterotopias" 

  E o que é verificável com a existência de lugares que são utópicos ou heterotópicos é o que vamos analisar aqui. Foucault cita como exemplos de composição e convívio de simultaneidade lugares que chama de heterópicos, como o museu e  o teatro,  o cemitério e o jardim. Espaços estes que têm o fato em comum de representarem ora lugares utópicos, ora lugares reais. Quer dizer, "lugares que existem e que são formados no interior da sociedade - os mesmos os quais seriam algo como "contra-sítios", contra-lugares, e um tipo de utopia efetiva onde os  sítios (lugares) reais, e todos os outros estados reais de sítio (lugar), que podem ser encontrados com a cultura, são simultaneamente representados, contestados e invertidos." 
  Isto porque no início do texto Outros Espaços, Foucault descreve a passagem e a existência do espaço e do tempo medievais, ordenado, de hierarquias de lugares, inaugurado por Galileu. Aqui o infinito fora colocado e os espaços medievais se dissolveriam, cedendo lugar ao espaço infinitamente aberto. Logo, o século de Galileu (dezessete) foi aquele que viveu a passagem de "um movimento  que substituiu a localização pela extensão". Mas hoje o sítio substitui essa extensão.
   E estas substituições do sítio à extensão, e desta à disposição significam com certeza um problema demográfico. No espaço (e tempo) do sítio há essa chamada simultaneidade, convivência com outros sítios, outras elementos, pontos, e mesmo trabalhos técnicos sofrem com a sobreposição, segundo Foucault. E daí haveria por exemplo o problema do trânsito e do armazenamento de dados, surgiria a necessidade da codificação de elementos simples que fariam eles  "parte de um todo, construído de forma aleatória ou classificada, simples ou complexa". 
   E assim, ademais os problema da demografia, o do "sítio humano" ou "lugar vivo", nas palavras de Foucalt, de saber se há lugar para todas as pessoas e coisas, há a questão do ordenamento.  Segundo Foucault, a convivência dos espaços geraria mais ansiedade do que a convivência de tempos. E  atualmente  ainda se vive a sacralização dos lugares, e isto enalteceria um problema, como será explanado mais abaixo. Foucault diria que  há vários espaços que convivem e são os seus antônimos, por assim dizer. Citemos entre eles o social e o familiar, o cultural e o útil, o de lazer e o de trabalho. O externo e o interno, mormente. E Foucalt quer tratar do espaço externo neste trecho de sua obra chamado "Outros lugares".
  Foucault, com sua heterotopologia, para não chamar de ciência dos lugares, afirma então que toda cultura teria seus lugares heterotópicos, e trata amiúde desta heterotopologia a associando também a uma compressão e um continuum de tempo, o que chama de heterocronia.
   Sejam lugares sagrados ou em crise, sejam casas de psiquiatria  ou colégios internos, sempre associando estes lugares a lugares onde deveria haver a contenção das crises, sejam estas das primeiras experiências sexuais ou dos desvios como o mental; sejam também os lugares que recolheriam ambas experiência de crise e desvio, como casas geriátricas. E ainda lugares como Cemitérios e teatros, onde corpos de tempos idos e presentes convivem por pequenos espaços de tempo, ou lugares onde cenários diferentes se camuflam, se alteram em pequenos espaço de tempo e/ ou compartilham quase o mesmo espaço, havendo assim a heterocronia. Em Foucault,  a heterotopologia fora explanada por estes cinco  princípios mostrado a seguir.
   O princípio da convivência em parcelas pequenas de tempo, da convivência em espaços delimitados nos lugares, o princípios da sacralização de lugares,  o princípio da mudança do significado original do sentido do lugar, e o princípio de sistemas de abertura e encerramento.  Em tempo, Foucalut trata amplamente da sociedade de controle, aquela na qual a tecnologia e a revolução por ela causada inicia a crise de um modelo disciplinar voltado para o controle do indivíduo através da vigilância e da punição. Na nova sociedade de controle haveria a chamada massificação de informações. Aqui os conceitos de rizoma de Deleuze e Gattari parecem ter sua importância ressaltada e o homem é tido como apenas uma molécula dentro de um fluxo, sendo assim direcionado pela sociedade.
  Quer dizer, enquando na sociedade de controle o homem é manejado pelos fluxos, na anterior sociedade, a sociedade disciplinada, cada indivíduo seria moldado de modo a obedecer a uma grade ordem, deixando de ser ele mesmo. A ideia dos fluxos podem ser exemplificados como àquelas ordens cotidianas como o trânsito, a casa, e o trabalho, e dentro destes fluxos haveria um controle ainda maior da sociedade sobre o indivíduo e haveria, simultaneamente, a crença subjacente da liberdade. Liberdade esta que, de fato, não existiria nesta sociedade de controle , segundo Foucault.
  E, então, a heterotopia surge para Foucault como sendo esta possibilidade de fuga cujo sentido desaparece. É sim o concreto, o real, mas o seu significado fora alterado, o padrão agora inexiste. E assim, na literatura contemporânea, esta possibilidade de fuga, esta heterotopia de Foucault, no interior de uma sociedade de controle, apareceria como sendo (a realidade da) as mídias alternativas.
  Nelas, os escritores  junto com os poetas contemporâneos, utilizando mídias pouco usuais,  acreditando numa falsa liberdade, fazem uso destas mídias unusuais para divulgar suas obras e acabam, neste ínterim, tendo o seu conteúdo influenciado justamente por esta mídia nova na qual sua obra fora divulgada.
Nesta convivência de espaços virtuais, de tempos exíguos e prazos não-permissíveis, a torrente de bits tem de ser decodificada ao mesmo tempo em que uma conversão ou tradução é feita. Assim a própria palavra proferida por um autor pode tornar-se o seu contrário em poucos instantes.
  O sentido pode ser alterado pelas tomadas em (de) parcelas, pela ressignificação oportúnua. O real tem uma conotação e não mais uma denotação. A interpretação condizente do estruturalismo é uma explicação insuficiente, pois recai num relativismo onipresente e todo o sentido de liberdade é obliterado porque falso; a liberdade é cercada pela restrição do meio, da mídia alternativa que pode ser também deturpadora da experiência.
  Ao longo da história da sociedade, o sentido original se perde, o sagrado torna-se profano, de acordo com a vontade ou a função planejada para um fim determinado e vacilante. O espaço de lugares em heterotopia e heterocronia confunde cenários, contrai tempos, faz ser possível a co-presença do morto e do vivo nos cemitérios, e lugares antes incompatíveis entre si agora convivem, nos jardins, -inclusive os para animais, os jardins zoológicos-, teatro, cinema e literatura, ainda que afastados da cidade nos seus espaços delimitados.  E, mais ainda, toda essa realidade heterotópica ressurge no mundo virtual. 
  Destarte, o quinto princípio dos lugares heterotópicos, a do sistema de abertura e de encerramento, hermético e permeável,  é também destacado. Apesar de se referir a heterotopia como sendo um lugar que geralmente não é acessível tal qual um lugar público, em seus exemplos, Foucault pode ser alcançado contemporaneamente neste quinto princípio, com O mundo virtual.  Mas em verdade, quando trata da quinto princípio da heterotopia, Foucault se refere a lugares onde a entrada é compulsória ou através de rituais.
   Finalmente, Foucault trataria de outros exemplos, como lugares de purificação, como saunas escandinavas; de ilusão, como os bordéis; e de compensação, como as sociedade do lugar-outro, como as colonizações, feitas pelos puritanos a América do Norte no século dezessete ou colônias jesuítas na América do Sul. 
   Para ilustrar com uma citação, veremos que Foucault chega a comparar Bordéis e navios e afirma que estes têm todas as características de uma heterotopia e que apesar de serem heterotopias de opostos extremos, "um navio é um pedaço flutuante de espaço, um lugar sem lugar que existe por si só , que é fechado sobre si mesmo e que ao mesmo tempo é dado à infinitude do mar. E de porto em porto, borda em borda, bordel em bordel, um navio vai tão longe quanto como una colônia em busca dos mais preciosos tesouros que se escondem nos jardins". 
  E termina afirmando sobre a ausência de sonhos numa sociedade sem navios, pois acredita que os navios tem sido, desde o século dezesseis até os nossos dias, " o maior instrumento de desenvolvimento econômico ..., e simultaneamente, o grande escape de imaginação. O navio é a heterotopia por excelência. Em civilizações sem barcos, esgotam-se os sonhos, a aventura é substituída pela espionagem, os piratas pelas polícias."

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Quem sou eu (em agosto de 2012, pois quem se define se limita, dizem)

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Mais preocupado com a criatura do que com o criador. Existem perguntas muito complicadas. Existem respostas muito complicadas. Existem pessoas que não são complicadas. Existem pessoas que tentam complicar. Eu sou aquela que procura entender; complicando un peu primeiro para poder descomplicar. Quero dizer: se eu entender o problema de forma completa, poderei encontrar a solução mais correta, eu acho. Um sonhador, dizem. Mas não creio apenas em sonhos. Gosto mesmo é da realidade, empírica ou não. Gosto de estudar sociologia e biologia. Sou acima de tudo, e pretensamente, um filósofo, no sentido mais preciso da palavra: o sentido do amor a sabedoria, ao saber. Mas a vida é para ser levada com riso e seriedade. Sabendo-se separar uma coisa da outra, encontraremos nosso mundo, nosso lugar, nossa alegria. Nossa Vida, com letra maiúscula! "o infinito é meu teto, a poesia é minha pátria e o amor a minha religião." Eu. Um ídolo: Josué de Castro; um livro: A Brincadeira (Milan Kundera) ; um ideal: a vida.