"Sonho é destino". "Dream is destiny". You do it to yourself, you do, and that's what really 'happens'. "Tudo que não invento é falso."

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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O beija-flor - por Tobias Barreto (1839-1889)

O Beija-flor

Tobias Barreto (1839-1889)


Era um moça franzina
Bela visão matutina
     Daquelas que é raro ver,
     Corpo esbelto, colo erguido,
     Molhando o branco vestido
     No orvalho do amanhecer.


     Vede-a lá: tímida, esquiva...
     Que boca! é a flor mais viva,
     Que agora está no jardim;
     Mordendo a polpa dos lábios
     Como quem suga o ressábio
     Dos beijos de um querubim!


     Nem viu que as auras gemeram,
     E os ramos estremeceram
     Quando um pouco ali se ergueu...
     Nos alvos dentes, viçosa,
     Parte o talo de uma rosa,
     Que docemente colheu.


     E a fresca rosa orvalhada,
     Que contrasta descorada,
     Do seu rosto a nívea tez,
     Beijando as mãozinhas suas,
     Parece que diz: nós duas!...
     E a brisa emenda: nós três! ...


     Vai nesse andar descuidoso,
     Quando um beija-flor teimoso
     Brincar entre os galhos vem,
     Sente o aroma da donzela,
     Peneira na face dela,
     E quer-lhe os lábios também


     Treme a virgem de surpresa,
     Leva do braço em defesa,
     Vai com o braço a flor da mão;
     Nas asas d’ave mimosa
     Quebra-se a flor melindrosa,
     Que rola esparsa no chão.

     Não sei o que a virgem fala,
     Que abre o peito e mais trescala
     Do trescalar de uma flor:
     Voa em cima o passarinho...
     Vai já tocando o biquinho
     Nos beiços de rubra cor.


     A moça, que se envergonha
     De correr, meio risonha
     Procura se desviar;
     Neste empenho os seios ambos
     Deixa ver; inconhos jambos
     De algum celeste pomar! ...


     Forte luta, luta incrível
     Por um beijo! É impossível
     Dizer tudo o que se deu.
     Tanta coisa, que se esquece
     Na vida!  Mas me parece
     Que o passarinho venceu! ...


     Conheço a moça franzina
     Que a fronte cândida inclina
     Ao sopro de casto amor:
     Seu rosto fica mais lindo,
     Quando ela conta sorrindo
     A história do beija-flor.

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Quem sou eu (em agosto de 2012, pois quem se define se limita, dizem)

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Mais preocupado com a criatura do que com o criador. Existem perguntas muito complicadas. Existem respostas muito complicadas. Existem pessoas que não são complicadas. Existem pessoas que tentam complicar. Eu sou aquela que procura entender; complicando un peu primeiro para poder descomplicar. Quero dizer: se eu entender o problema de forma completa, poderei encontrar a solução mais correta, eu acho. Um sonhador, dizem. Mas não creio apenas em sonhos. Gosto mesmo é da realidade, empírica ou não. Gosto de estudar sociologia e biologia. Sou acima de tudo, e pretensamente, um filósofo, no sentido mais preciso da palavra: o sentido do amor a sabedoria, ao saber. Mas a vida é para ser levada com riso e seriedade. Sabendo-se separar uma coisa da outra, encontraremos nosso mundo, nosso lugar, nossa alegria. Nossa Vida, com letra maiúscula! "o infinito é meu teto, a poesia é minha pátria e o amor a minha religião." Eu. Um ídolo: Josué de Castro; um livro: A Brincadeira (Milan Kundera) ; um ideal: a vida.