Há desaparecimento da cultura com o mundo globalizado?
Textos revistos para o ppcis 2016 UERJ...aspas para palavras-chave...
" Há a alegação de que o Estado liberal perdeu sua casca étnico-particularista e emergiu em sua forma cívica, universalista e culturalmente purificada. A Grã-Bretanha, entretanto, como todos os nacionalismos cívicos, não é apenas uma entidade soberana em termos políticos e territoriais , mas é também uma comunidade imaginada: parafraseando Spivak, o fato de um norte-americano ler no café-da-manhã um jornal em língua europeia (inglês), com fontes (alfabeto arábico) do Oriente Médio, com notícias sobre a China, de um autor do Brasil, o faz se sentir orgulhoso de ser tipicamente americano e ter a cultura superior da América."
Temos que a normatividade é um problema para Habermas, assim como o não reconhecimento e não legitimidade do outro; já para Spivak a própria ideia de existência criada do outro parece um problema, pois atesta-se que o outro foi criado, inventado, a partir de um sujeito anterior, sujeito este que tem a legitimidade, tanto buscada em Habermas no Estado de Direito, como eurocêntrica, e a isso Spivak atribuiria também o problema de Foucault e da intelectualidade que subsume a ideologia, tratando apenas da instituição do outro, da normatividade via discurso: a instituição do outro o menoscaba. Há o relacionamento entre os textos de Sahlins, Ulf e Hannerz.
Simplesmente, liga-se aos textos dos antropólogos Shalins e Hannerz o de Spivak quando esta cita Marx tratando da indivisibilidade dos sujeitos como sendo algo problemático: " Meu argumento é que Marx não está trabalhando para criar um sujeito indivisível, no qual o desejo e o interesse coincidem. A consciência de classe não opera com esse objetivo. Tanto na área econômica (capitalista) quanto na política (agente histórico-mundial), Marx é compelido a construir modelos de um sujeito dividido e deslocado cujas partes não são contínuas nem coerentes entre si...". Pois, o sujeito pós-colonial, que agora busca refazer, recontar a história, atuando enquanto sujeito de fato, é ele todo globalizado (Spivak é de origem Índia e Hall Jamaica .... mas ambos migram para o centro de poder do mundo, Europa e Estados Unidos) e ainda assim resguardam(-se) em sua psiqué e (em) seu "ethos"(,) sua cultura. Portanto, a cultura, longe de desaparecer, estaria ganhando força com o mundo globalizado, que se torna transcultural, indigeneizado...
"Fluxos”, “limites” e “híbridos” são as palavras-chave. Mais ou menos como transcultura, multicultura ou teoria das culturas globalizadas, transnacionais, do texto do Sahlins, obviamente tem-se de fazer esta distinção e comparar com Spivak. E vimos semelhanças quanto ao problema atestado de Spivak do "locus" de quem discursa, e estas semelhanças haveria entre todos os autores com exceção talvez de Hall, porque ele já é um autor local, do mundo pós-colonial, e que superando, no termo hegeliano, a questão do locus de quem discursa, trata de afirmar a questão do multiculturalismo como sendo primado da globalização e, ao mesmo tempo, advindo do ninho do engalfinhamento capitalista, o qual tudo detém para si sobre a forma do domínio dos meios, seja de produção de cultura, de valores éticos e étnicos, de poder, de bens.
É possível falar também de micro à macro política em Foucault, Spivak e outros... e dos antecedentes históricos que marcam o multiculturalismo...
Ligam-se o problema da sobredeterminação econômica proto-marxista, capitalista, a questão da cultura, e do multiculturalismo... e daí Hall viria com o Estado de Direito como algo que tem de reconhecer o outro, garantir sua existência, além do problema da diáspora, que segundo os antropólogos Sahlins e Hannerz, não existe, pois o transcultural subsumiria isto, - ao meu entender, pois conecto a isto também o fato de que Hall e Spivak praticaram a diáspora rumo a Europa e EUA: falam a partir de locais de poder, e as suas críticas às diásporas são constitutivas de seus trabalhos.
Cultura é : todos os processos da vida comum: Hall no-lo afirmaria. Portanto o (seu) caráter não é mono, mas processual. Mas hall, em contrário a Sahlins, acha que há uma tendência à homogeneização das culturas com a globalização, e, ao mesmo tempo, fortalece(imento) (d)a diferenças ou elementos diferenciadores no interior das sociedades...
Daí seria falso o argumento de que a cultura estaria desaparecendo pela globalização, outrossim, ela poderia estar se reforçando, na micropolítica, nas mentes de jovens que migram mas mantém o desejo - que não é agenciado pelo colonizador- de retorno à terra de origem, aproveitando-se das vantagens do capitalismo (ganho de dinheiro e bens, poder e status, para se reforçar dentro do clã, sendo admirado como herois das lendas ao retornar à Indonésia, como no exemplo citado pelo último antropólogo, após fazer dinheiro no mundo europeu).
Hall
Hall distingue multicultural e multiculturalismo: o primeiro é usado no plural, é um termo qualificativo, descreve características sociais e problemas de governabilidade nas quais várias comunidades culturais convivem e tentam construir uma vida comum ao mesmo tempo em que tentam reter sua identidade "original". Já o multiculturalismo é algo substantivo. É usado no singular. E trata-se da doutrina ou das estratégias e filosofias e políticas específicas usadas para dirimir, governar ou administrar problemas de diversidade e multiplicidade geradas pelas sociedades multiculturais.
" Sri Lanka, frança, Nigéria... são sociedades multiculturais, EUA, GB, de forma bastantes distintas, são multiculturais. Entretanto, todos são por definição, culturalmente heterogêneos. E o paradoxo: O estado moderno tende a homogeinização cultural...organizada em em torno de valores universais, seculares e individualistas liberais..."
Sobre globalização.
De fato, entre seus efeitos inesperados estão as formações subalternas e as tendências emergentes que escapam a seu controle, mas que ela tenta homogeneizar ou atrelar a seus propósitos mais amplos (seja lá quais forem...). É um sistema de con-formação da diferença, em vez de obliteração da diferença, citando-o.
Essa formação implica a necessidade de um modelo mais discursivo para as estratégias de de resistência, ou contra-estratégias.
Da proliferação subalterna da diferença.
É um paradoxo da globalização contemporânea o fato de que, culturalmente, as coisas pareçam mais ou menos semelhantes entre si (a americanização da cultura, p.ex.) e ao mesmo tempo há a proliferação das diferenças. O eixo vertical do poder cultural, econômico e tecnológico está compensado por conexões laterais, o que cria uma visão de mundo composta por diferenças locais, as quais o globo-vertical é obrigado a considerar. Há differance e determinações em termos relacionais... Mas há o papel do Estado...
Papel do Estado.
A neutralidade do Estado funciona apenas quando se pressupõe uma homogeneidade cultural ampla entre os governados. Essa presunção fundamentou as democracias liberais ocidentais até recentemente. Sob as novas condições multiculturais, entretanto, essa premissa parece cada vez menos válida.
Repetindo, a alegação é de que o Estado liberal perdeu sua casca étnico-particularista e emergiu em sua forma cívica, universalista e culturalmente purificada. A Grã-Bretanha, entretanto, como todos os nacionalismos cívicos, não é apenas uma entidade soberana em termos políticos e territoriais, mas é também uma comunidade imaginada: parafraseando Spivak, o fato de um americano ler no café da manhã um jornal em língua europeia (inglês), com fontes (alfabeto arábico) do Oriente Médio, com notícias sobre a China, de um autor do Brasil, o faz se sentir orgulhoso de ser tipicamente americano e ter a cultura superior da América. E produzir e reproduzir "sua cultura" é a tônica invariante.
Quer dizer, de nada adianta a produção sem inter-esse dos consumidores, dotados de cultura: conhecimento próprio, significado próprio, contato. Pois, caso assim seja, há esvaziamento de sentido e não há porque produzir sequer um xampú, um café ou uma bola de futebol. Os erros devêm.
Assim, o esboço de artigo é o paradoxo intencional: sem a conexão dos conhecimentos não se produz sentido. Sem o estudo do sentido não se produz progresso. Sem o significado do progresso não se produz valor. Sem valor não há moral, ética ou interesse. Sem tais itens humanos, sem interesse, não há sentimento. Sem sentimento nos tornamos máquinas. Sendo máquinas não vivemos. Sem vida só resta a morte. Mas mesmo a morte vazia seria também inócua. Por isso o significado das ações, que criam valor, conhecimento, cultura, sentimento e interesse devem entender o organizar da produção. Do sistema de produção. As ciências sociais estudam isso. Esses valores humanos. Sem organização da produção com sentido de valores, nos tornamos autômatos presos no paradoxo supraescrito.
E assim, apenas produzir por produzir gera alienação. Alienação é não diferenciação do objeto. E o que diferencia o humano dos demais animais é este "reconhecimento no espelho", a diferenciação para com o objeto criado por ele mesmo. Isso é básico nas ciências sociais. O animal que não se diferencia do objeto produzido não tem diferença com relação a ele. E daí pode ser manipulado como ele... Como se conduz um cavalo...ou a tal manada...
A crítica das humanidades, das ciências humanas é não se tornar escravo dos desejos e tampouco do conhecimento de sentido adotado. Logo, antes de tudo é preciso produzir sentido. Quando o sentido não é dogmático(religioso) ele tem de ser adotado, produzido. Isso implica em filosofia e religião. E como foi subentendido, as ciências sociais (geografia, história, filosofia, economia, direito, antropologia, ciência política) tentam minimamente compreender o sentido que se está criando, retomando a verdade ontológica: "eu sou". Se sou, o que me diz que sou? (filosofia) Qual o sentido do e onde estou no tempo? (geografia e história) O que consumo?(economia) O que faço em contato com as pessoas?(sociologia) o que me diferencia ou iguala dos/ aos demais? (antropologia) Quem manda em mim? quem eu obedeço? (ciência política) O que posso fazer? (direito) etc etc são questões que tratam do ser. Do sentido. Pois, sem crítica, critério, sentido, ou volição chegamos ao mundo hobbesiano, onde a natureza comanda. E não há regras, ordem, poder, valor a não ser a luta de todos contra todos.
Logo, não há sociedade. Não há interesse em sociedade. Lembrando que inter-esse é amor. É o ser (essere), intermediário latino. É o amor que faz o diálogo possível, pois concilia os seres diferenciados nos níveis de existência. Que se comunicam. Que comunicam sentido. Sem comunicação de sentido, não é possivel a sociedade. Por isso tudo vejo com bons olhos que haja mais interesse em trocas de sentido. Como diria Marcel Mauss, a troca funda a sociedade. Há troca de sentido, daí valores, daí bens, e até esposas/os. Daí a sociedade organizada.
Finalmente, e para quem ainda tem paciência, a obediência é a fundição do sentido. É que em tais trocas epistêmicas a obediência prevalece. Se ainda faz algum sentido o lema positivista da bandeira, para um país como o nosso obter mais ordem e mais progresso, é preciso a dominância da obediência. Que só é conhecida na troca de conhecimento das ciências humanas, sociais. Quem não detiver este timão não pode ir à lugar algum. O tal primeiro mundo é simplesmente isso. Já alcançaram o nível da abstração. Nós parecemos que não, mas não nos diferenciamos. O parecer em escala platônica é abaixo do ser. Do existir. A luta do país não a-toa é pelo existir. Isso pode explicar nossa violência quotidiana.
palavras-chave: diferença, étnico, culturalismo, multiculturalismo, "developman", híbridos, fluxos, fronteiras, indigeneização, transcultural, globalizado, cultura, pós-colonialismo, anticolonialismo em hall, subcultura, colonialismo, normatividade, sobredeterminação econômica, minorias, afirmação histórica, outro, sujeito, monoculturalismo, epistemes, modernidade tardia, redes, transnacional, imperialismo, homogeneização, lugar, origem, ressignificado, renegociação, fragmentação, crise de identidades, termo sob rasura, tradição x tradução, hibridismo, posição hifenizada, pós-nacional, reconfiguração,
Textos revistos para o ppcis 2016 UERJ...aspas para palavras-chave...
" Há a alegação de que o Estado liberal perdeu sua casca étnico-particularista e emergiu em sua forma cívica, universalista e culturalmente purificada. A Grã-Bretanha, entretanto, como todos os nacionalismos cívicos, não é apenas uma entidade soberana em termos políticos e territoriais , mas é também uma comunidade imaginada: parafraseando Spivak, o fato de um norte-americano ler no café-da-manhã um jornal em língua europeia (inglês), com fontes (alfabeto arábico) do Oriente Médio, com notícias sobre a China, de um autor do Brasil, o faz se sentir orgulhoso de ser tipicamente americano e ter a cultura superior da América."
Temos que a normatividade é um problema para Habermas, assim como o não reconhecimento e não legitimidade do outro; já para Spivak a própria ideia de existência criada do outro parece um problema, pois atesta-se que o outro foi criado, inventado, a partir de um sujeito anterior, sujeito este que tem a legitimidade, tanto buscada em Habermas no Estado de Direito, como eurocêntrica, e a isso Spivak atribuiria também o problema de Foucault e da intelectualidade que subsume a ideologia, tratando apenas da instituição do outro, da normatividade via discurso: a instituição do outro o menoscaba. Há o relacionamento entre os textos de Sahlins, Ulf e Hannerz.
Simplesmente, liga-se aos textos dos antropólogos Shalins e Hannerz o de Spivak quando esta cita Marx tratando da indivisibilidade dos sujeitos como sendo algo problemático: " Meu argumento é que Marx não está trabalhando para criar um sujeito indivisível, no qual o desejo e o interesse coincidem. A consciência de classe não opera com esse objetivo. Tanto na área econômica (capitalista) quanto na política (agente histórico-mundial), Marx é compelido a construir modelos de um sujeito dividido e deslocado cujas partes não são contínuas nem coerentes entre si...". Pois, o sujeito pós-colonial, que agora busca refazer, recontar a história, atuando enquanto sujeito de fato, é ele todo globalizado (Spivak é de origem Índia e Hall Jamaica .... mas ambos migram para o centro de poder do mundo, Europa e Estados Unidos) e ainda assim resguardam(-se) em sua psiqué e (em) seu "ethos"(,) sua cultura. Portanto, a cultura, longe de desaparecer, estaria ganhando força com o mundo globalizado, que se torna transcultural, indigeneizado...
"Fluxos”, “limites” e “híbridos” são as palavras-chave. Mais ou menos como transcultura, multicultura ou teoria das culturas globalizadas, transnacionais, do texto do Sahlins, obviamente tem-se de fazer esta distinção e comparar com Spivak. E vimos semelhanças quanto ao problema atestado de Spivak do "locus" de quem discursa, e estas semelhanças haveria entre todos os autores com exceção talvez de Hall, porque ele já é um autor local, do mundo pós-colonial, e que superando, no termo hegeliano, a questão do locus de quem discursa, trata de afirmar a questão do multiculturalismo como sendo primado da globalização e, ao mesmo tempo, advindo do ninho do engalfinhamento capitalista, o qual tudo detém para si sobre a forma do domínio dos meios, seja de produção de cultura, de valores éticos e étnicos, de poder, de bens.
É possível falar também de micro à macro política em Foucault, Spivak e outros... e dos antecedentes históricos que marcam o multiculturalismo...
Ligam-se o problema da sobredeterminação econômica proto-marxista, capitalista, a questão da cultura, e do multiculturalismo... e daí Hall viria com o Estado de Direito como algo que tem de reconhecer o outro, garantir sua existência, além do problema da diáspora, que segundo os antropólogos Sahlins e Hannerz, não existe, pois o transcultural subsumiria isto, - ao meu entender, pois conecto a isto também o fato de que Hall e Spivak praticaram a diáspora rumo a Europa e EUA: falam a partir de locais de poder, e as suas críticas às diásporas são constitutivas de seus trabalhos.
Cultura é : todos os processos da vida comum: Hall no-lo afirmaria. Portanto o (seu) caráter não é mono, mas processual. Mas hall, em contrário a Sahlins, acha que há uma tendência à homogeneização das culturas com a globalização, e, ao mesmo tempo, fortalece(imento) (d)a diferenças ou elementos diferenciadores no interior das sociedades...
Daí seria falso o argumento de que a cultura estaria desaparecendo pela globalização, outrossim, ela poderia estar se reforçando, na micropolítica, nas mentes de jovens que migram mas mantém o desejo - que não é agenciado pelo colonizador- de retorno à terra de origem, aproveitando-se das vantagens do capitalismo (ganho de dinheiro e bens, poder e status, para se reforçar dentro do clã, sendo admirado como herois das lendas ao retornar à Indonésia, como no exemplo citado pelo último antropólogo, após fazer dinheiro no mundo europeu).
Hall
Hall distingue multicultural e multiculturalismo: o primeiro é usado no plural, é um termo qualificativo, descreve características sociais e problemas de governabilidade nas quais várias comunidades culturais convivem e tentam construir uma vida comum ao mesmo tempo em que tentam reter sua identidade "original". Já o multiculturalismo é algo substantivo. É usado no singular. E trata-se da doutrina ou das estratégias e filosofias e políticas específicas usadas para dirimir, governar ou administrar problemas de diversidade e multiplicidade geradas pelas sociedades multiculturais.
" Sri Lanka, frança, Nigéria... são sociedades multiculturais, EUA, GB, de forma bastantes distintas, são multiculturais. Entretanto, todos são por definição, culturalmente heterogêneos. E o paradoxo: O estado moderno tende a homogeinização cultural...organizada em em torno de valores universais, seculares e individualistas liberais..."
Sobre globalização.
De fato, entre seus efeitos inesperados estão as formações subalternas e as tendências emergentes que escapam a seu controle, mas que ela tenta homogeneizar ou atrelar a seus propósitos mais amplos (seja lá quais forem...). É um sistema de con-formação da diferença, em vez de obliteração da diferença, citando-o.
Essa formação implica a necessidade de um modelo mais discursivo para as estratégias de de resistência, ou contra-estratégias.
Da proliferação subalterna da diferença.
É um paradoxo da globalização contemporânea o fato de que, culturalmente, as coisas pareçam mais ou menos semelhantes entre si (a americanização da cultura, p.ex.) e ao mesmo tempo há a proliferação das diferenças. O eixo vertical do poder cultural, econômico e tecnológico está compensado por conexões laterais, o que cria uma visão de mundo composta por diferenças locais, as quais o globo-vertical é obrigado a considerar. Há differance e determinações em termos relacionais... Mas há o papel do Estado...
Papel do Estado.
A neutralidade do Estado funciona apenas quando se pressupõe uma homogeneidade cultural ampla entre os governados. Essa presunção fundamentou as democracias liberais ocidentais até recentemente. Sob as novas condições multiculturais, entretanto, essa premissa parece cada vez menos válida.
Repetindo, a alegação é de que o Estado liberal perdeu sua casca étnico-particularista e emergiu em sua forma cívica, universalista e culturalmente purificada. A Grã-Bretanha, entretanto, como todos os nacionalismos cívicos, não é apenas uma entidade soberana em termos políticos e territoriais, mas é também uma comunidade imaginada: parafraseando Spivak, o fato de um americano ler no café da manhã um jornal em língua europeia (inglês), com fontes (alfabeto arábico) do Oriente Médio, com notícias sobre a China, de um autor do Brasil, o faz se sentir orgulhoso de ser tipicamente americano e ter a cultura superior da América. E produzir e reproduzir "sua cultura" é a tônica invariante.
Quer dizer, de nada adianta a produção sem inter-esse dos consumidores, dotados de cultura: conhecimento próprio, significado próprio, contato. Pois, caso assim seja, há esvaziamento de sentido e não há porque produzir sequer um xampú, um café ou uma bola de futebol. Os erros devêm.
Assim, o esboço de artigo é o paradoxo intencional: sem a conexão dos conhecimentos não se produz sentido. Sem o estudo do sentido não se produz progresso. Sem o significado do progresso não se produz valor. Sem valor não há moral, ética ou interesse. Sem tais itens humanos, sem interesse, não há sentimento. Sem sentimento nos tornamos máquinas. Sendo máquinas não vivemos. Sem vida só resta a morte. Mas mesmo a morte vazia seria também inócua. Por isso o significado das ações, que criam valor, conhecimento, cultura, sentimento e interesse devem entender o organizar da produção. Do sistema de produção. As ciências sociais estudam isso. Esses valores humanos. Sem organização da produção com sentido de valores, nos tornamos autômatos presos no paradoxo supraescrito.
E assim, apenas produzir por produzir gera alienação. Alienação é não diferenciação do objeto. E o que diferencia o humano dos demais animais é este "reconhecimento no espelho", a diferenciação para com o objeto criado por ele mesmo. Isso é básico nas ciências sociais. O animal que não se diferencia do objeto produzido não tem diferença com relação a ele. E daí pode ser manipulado como ele... Como se conduz um cavalo...ou a tal manada...
A crítica das humanidades, das ciências humanas é não se tornar escravo dos desejos e tampouco do conhecimento de sentido adotado. Logo, antes de tudo é preciso produzir sentido. Quando o sentido não é dogmático(religioso) ele tem de ser adotado, produzido. Isso implica em filosofia e religião. E como foi subentendido, as ciências sociais (geografia, história, filosofia, economia, direito, antropologia, ciência política) tentam minimamente compreender o sentido que se está criando, retomando a verdade ontológica: "eu sou". Se sou, o que me diz que sou? (filosofia) Qual o sentido do e onde estou no tempo? (geografia e história) O que consumo?(economia) O que faço em contato com as pessoas?(sociologia) o que me diferencia ou iguala dos/ aos demais? (antropologia) Quem manda em mim? quem eu obedeço? (ciência política) O que posso fazer? (direito) etc etc são questões que tratam do ser. Do sentido. Pois, sem crítica, critério, sentido, ou volição chegamos ao mundo hobbesiano, onde a natureza comanda. E não há regras, ordem, poder, valor a não ser a luta de todos contra todos.
Logo, não há sociedade. Não há interesse em sociedade. Lembrando que inter-esse é amor. É o ser (essere), intermediário latino. É o amor que faz o diálogo possível, pois concilia os seres diferenciados nos níveis de existência. Que se comunicam. Que comunicam sentido. Sem comunicação de sentido, não é possivel a sociedade. Por isso tudo vejo com bons olhos que haja mais interesse em trocas de sentido. Como diria Marcel Mauss, a troca funda a sociedade. Há troca de sentido, daí valores, daí bens, e até esposas/os. Daí a sociedade organizada.
Finalmente, e para quem ainda tem paciência, a obediência é a fundição do sentido. É que em tais trocas epistêmicas a obediência prevalece. Se ainda faz algum sentido o lema positivista da bandeira, para um país como o nosso obter mais ordem e mais progresso, é preciso a dominância da obediência. Que só é conhecida na troca de conhecimento das ciências humanas, sociais. Quem não detiver este timão não pode ir à lugar algum. O tal primeiro mundo é simplesmente isso. Já alcançaram o nível da abstração. Nós parecemos que não, mas não nos diferenciamos. O parecer em escala platônica é abaixo do ser. Do existir. A luta do país não a-toa é pelo existir. Isso pode explicar nossa violência quotidiana.
palavras-chave: diferença, étnico, culturalismo, multiculturalismo, "developman", híbridos, fluxos, fronteiras, indigeneização, transcultural, globalizado, cultura, pós-colonialismo, anticolonialismo em hall, subcultura, colonialismo, normatividade, sobredeterminação econômica, minorias, afirmação histórica, outro, sujeito, monoculturalismo, epistemes, modernidade tardia, redes, transnacional, imperialismo, homogeneização, lugar, origem, ressignificado, renegociação, fragmentação, crise de identidades, termo sob rasura, tradição x tradução, hibridismo, posição hifenizada, pós-nacional, reconfiguração,
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