"Sonho é destino". "Dream is destiny". You do it to yourself, you do, and that's what really 'happens'. "Tudo que não invento é falso."

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segunda-feira, 11 de março de 2013

Oswald, metafísica e os quês do mundo.


 Oswald de Andrade, metafísica e os quês do mundo. Por uma antropofagia.  -Uma breve história do mundo.

         O homem é derrotado na sua existência meramente técnica. Ele se torna seu próprio escravo e só percebe que existe quando com o trabalho se aliena e se diferencia de seu objeto produzido (com sua técnica, grego tekhne, arte, habilidade). Então, mais adiante, esse homem poderá começar a fazer atribulações filosóficas que tentam justificar sua moral escravocrata... Ele passa do direito natural (jusnaturalismo) ao direito positivo (com o constitucionalismo) porque se vê apartado da realidade: a realidade que o contém tem de ser criada, no patriarcado...
     

       Enquanto isso, no antigo matriarcado havia simplificação e semelhança, aproximação à natureza (a justiça é natural, da natureza, jus naturalista! Tem-se universalmente a ideia de mãe natureza...); no mundo moderno, do direito positivo, do homem que faz o homem escravo do homem, a justiça para o homem tem de ser escolhida, tem de ser criada... Assim vem o direito positivo e até a declaração dos direitos do homem... Tudo isso porque é por uma operação filosófica, metafísica, transcendental que o homem vai se reconhecer e se questionar (Hegel até Descartes, na ordem inversa - já que Descartes é anterior) e até se igualar a Deus (mas não ainda)...


        E é nessa busca do ente supremo, até a exclusão do homem e a superação de Deus com Nietzsche afirmando haver desvalorização do homem quando se elege Deus acima de tudo, que o homem (e não a mulher, que é ainda coadjuvante, mas vai se tornando aos poucos figura patriarca também) tem de operar por uma dialética sem maiêutica: o homem quer encontrar seu termo final para poder se reconhecer e justificar perante o próprio homem a sua soberania e seu poder. 
E a alteridade faz nascer para o homem o mundo e permite de vez a razão, com Freud; mas antes, com Descartes o Eu é o superior da razão, e o próprio duvidar existir anuncia a existência do pensamento, logo do sujeito e do existir sem dúvida, mas através dela.        

          Mas com tudo isso ele (o homem) sentira uma lacuna: a lacuna somente preenchida com Deus ( Ser, na filosofia). E eis a grande questão: as igrejas que antes haviam sido negligenciadas passam a ser mais importantes e o papel de Deus muda: Deus é onipresente na vida do homem, é onisciente de seus atos, e onipotente para puni-lo. Deus encarna-se mesmo no homem. Acontece que Deus deixa de ser totem para virar tabu - e isto é uma inversão. No matriarcado se temia a Deus, no patriarcado Ele é procurado. Mas o problema é que Ele é procurado por um desejo, por um preenchimento que se torna necessário graças à técnica que supõe o homem como existente numa realidade egoísta e autônoma. O livre-arbítrio parece não existir porque a escravidão é o que dá sentido à vida moderna. Pois bem, se atravessam mais de dois milênios para ocorrer essa inversão. E agora a revolução quer o retorno a uma sociedade que venere um ser não por sua falta, mas por sua descoberta e dotação de existência necessária para coibir ou explicar o absurdo que é o mundo sensível.

          Assim, ao cúmulo e auge da revolução industrial, Marx afirmara que o trabalho dignifica o homem. No entanto, no sacerdócio era justamente o ócio que produzia algo bom para o homem. Mas se o homem trabalha para conseguir ter tempo livre, o ócio, a tendência é o retorno ao matriarcado: a sociedade que venera ao invés de escravizar-se.

          A continuação: no patriarcado se tem o direito positivo, propriedade da terra, propriedade da mulher, da família, dos bens. E transferência desses bens em linhagem paterna (mesmo o sobrenome), primogênita (sempre masculina). Há a separação do mundo pelo trabalho que, ordenado, dividido, cria o mundo de classes... as quais só podem se alternar por casamento (às vezes proibido entre castas); casamento este que pretende resguardar os bens - genéticos e materiais - que ao homem dotado de saber cabem. A riqueza egoística do homem produz sua diferenciação perante outros homem e perante os demais animais; e logo o homem se vê face a face com Deus: ele pretende se igualar a Deus o copiando. Confunde um pouco então a veneração em uma semi-esquizofrênica recriação.

        Temos, portanto, a moderna, e relativa, teoria do conhecimento dizendo que o conhecer é uma interpretação (
faínetai).( O mundo se subdivide filosoficamente entre crentes e criadores, ou esquizofrênicos, e desconfiados e perseguidos, ou paranoicos.). Por uma dificuldade elementar, ao venerar em excesso esquece-se de viver; e ao recriar o Seu (Seu, Deus) significado, cai. Peca. Para a sociedade moderna tudo se resume ao eu, ao individual, e à propriedade. Com a propriedade se tem riqueza portátil, móvel, que pode ser trocada... A troca funda a sociedade, afirmaria o antropólogo Marcel Mauss. E ele estava afirmando tanto sobre a troca de bens como sobre a troca de esposas. Esposas: irmãs; irmãs: esposas.


          Lembra-nos Oswald ainda do exemplo de Platão, para quem as crianças aos seis anos de idade deveriam pertencer ao Estado. Deixar a família nuclear para pertencer à nação. O amor platônico era favorável ao matriarcado, sociedade igual, sem classes e sem pertencimentos do ego. No entanto, seu amigo Sócrates era favorável à pederastia como técnica para aprendizagem de certos conhecimentos sobre o homem...

        Finalmente, a inversão que levaria à crise da filosofia messiânica seria elevar o homem a tal expoente que por uma suplica inversa ele é amado por Deus, e não o contrário (ama a Deus). Nesse ínterim o homem não se iguala a Deus por um triz, mas pode se colocar como seu servo, e para se tranquilizar na sua existência apartada de Deus por mera negatividade que subjaz, que é inerente, descobre seu espírito com uma carga de negatividade. Aqui a Comédia vira Tragédia. O homem antes semideus se vê errático.

         Assim, o homem que só se realiza onde há costas (fronteiras, mares para se intercambiar bens e mulheres - que se tornam bens) está de costas para consigo mesmo, procurando por Deus, que parece o abandonar. Mas como enxergar O Ser estando noutro plano? Constatando, como fez Descartes confundindo Platão, a razão, a ideia e a emoção, a sensação, estarem em planos distintos, em mundos distintos? Seria obviamente apenas possível teorizar (do grego to theon, olhar para, venerar - venerar o Ser). E com a techne grega e humana se teoriza tudo. Mesmo a hermenêutica é uma técnica para se ouvir Deus - na Bíblia, com a escolástica.

          Mais uma vez o homem, que se elegeu ser autossustentável no agora, também com a psicanálise, se vê em falta. Falta que é oriunda d'um desejo impossível de ser cumprido - a busca pela outra metade grega, que se perdeu no momento da Criação (dimiourgía ). (No passado, portanto, e que só pode ser encontrada no futuro). O homem patriarca e sacerdote solipsista percebe que sua existência só tem justificativa para consigo mesmo através da religião (latim, religare, retornar ao ser, de origem - há controvérsias sobre a tradução ou etimologia). Mas se sua religião só faz sentido numa vida civil apartada da sociedade, e do tipo comunidade (de laços mais afetivos e menos profissionais), a revolução industrial e o mundo moderno (ou pós) só o sacrificam a cada dia, literalmente e numa antropofagia inconsentida.

          O homem continuaria a procurar com suas técnicas, ciência e filosofia o sentido do mundo. Queria ordenar seu caos em forças físicas lógicas. Mas, da mecânica clássica à relatividade especial, descobriu o mundo infinito só contemporizado pela morte e aplainado pela outra vida (a)onde um apenas julgará e sub-julgara, demonstrando haver no mundo sensível igualdade material entre os seres, pois eles depreendem de uma mesma condição existencial.

          O homem definitivamente precisa ser salvo: acreditou na serpente, (e, portanto, caiu, a tal Queda), quem garantiu não haver morte e sim conhecimento infinito. (Re)Descobriu o infinito no ser - ou Deus - (via Kant) apenas. Teve de se voltar à Salvação! Elege o próprio homem como caminho à Salvação. A filosofia como religião,  a religião da humanidade como queriam os positivistas progressistas - de nossa bandeira nacional ordem e progresso está seu legado-... Estavam enganados e perceberam, antecipadamente com Lutero e a Reforma.

          E, então, a ciência e a filosofia se voltam para o ser, tentando se aproximar de sua ordem, tentando domar as forças e o caos aparente do Universo, e elegem a metafísica para geometricamente definir os contornos da verdade, da justiça e do bem; valores humanos, que deverão encontrados ser na civilização, ou ao menos cultivados.

          O que se constata é: há uma ordem a ser encontrada. O motor imóvel de Aristóteles procurava por Deus (aquela faísca inicial ou centelha que move as coisas e não é movida por nada). Acontece que a filosofia vai entrando em crise porque ela passa pela mesma ordem da phisis de Polibio (nascimento, crescimento, reprodução e morte - por revoluções)...e a própria linguagem retém, detém, contém o avançar, a evolução da filosofia, se não há neologismos...

          E se a filosofia seguir a mesma dialética da religião, ela se torna uma filosofia messiânica, que com o mundo da técnica adiara ou suspendera a própria existência para se vir refletida. Sem uma crítica crítica, a existência ao mesmo tempo que passa a ser mais importante do que a essência, com o Existencialismo de Heidegger, Sartre e outros, se vê sem pé nem cabeça, se vê sem pais, sem origens (ursprung) e, portanto, sem fins (télos). Mas não há teleologia; o homem está no mundo a sós e sendo oprimido. Por  isso, por querer sua superação, o homem existencialista é ansioso e busca a tudo consumir (ajudado pela vitória do capitalismo - cristão - mais materialista do que o comunismo derrotado - quase todo ele ateu e materialista!-)... Pois, nessa consumação, nesse consumismo ou consumerismo, há espaço para a sua superação dialética (tese, síntese e antítese: homem negativo, espírito negativo, homem e espírito positivos juntos - e de volta - (à) a natureza). Ação e fruição pela negativa, psicanálise freudiana. 

        Portanto, a superação dialética é antropofagia, é retorno em matriarcado, é consumir-se e consumir aos demais para se engrandecer e aprender com o outro que na verdade é um só. E amar ao próximo, ao outro, é verdadeiramente amar a Deus! Como na mensagem cristã que quase fora tornada sacrilégio quando houve encarnação e questionamento sobre o abandono do homem por Deus. De fato, o homem abandonara a Deus e pensara que acontecera o exato contrário. Nietzsche, ao dizer que Deus está morto, apenas estaria indicando o assassino de Deus: o próprio homem, egoísta. E cego seletivo, que só olha para si e esquece que sua existência só faz sentido de forma relacional. Mas sem submissão, pois a supracitada crise advém justamente da submissão (ir)racional 
(grego krisis, krinein, separação, divisão, julgamento, razão).    

        Então, com a psicanálise revisitada, Oswald fecharia o tomo: o "natural" (o desejo do eu) repreendido causa doença psíquica, loucura - que não é acometimento de seres divinos, como na Grécia de Dionísio e Cia,  mas desejo reprimido, e autoflagelo. Toda essa ortodoxia solipsista (só o eu existe, um outro "eu" que não o self, ou eu, ou id) dará no niilismo ou na vida contemplativa enclausurada nos conventos, por exemplo, e significam negação ao estado patriarca, repressor ou opressor em que vive a sociedade pautada na moral do escravo (o senhor e o escravo dependem mutuamente) e do trabalho (o homem só se diferencia de outro ser, de outro objeto e só reconhece existir porque trabalha:  aliena-se: se entrega, se descobre, se revela, se diferencia do outro humano causando dependência mútua, porque humana...).

         E mesmo a liberdade só é reclamada na sociedade patriarcal. Pois na matriarcal, que se pretende retornar, na há coerção, não há escravidão; há o estado de ócio e do lúdico. A morte não será mais temida porque o Estado laico não a venera e promete a redenção no céu, mas paga o enterro. A vida é celebrada não como Dionísio, mas como ética pura, universal, de vontades que coincidem. E então o messiânico se contrapõe ao antropofágico. O matriarcado ao patriarcado. E todos os itens da conclusão da tese de Oswald.

         No entanto, com uma teoria na qual a vontade de poder é um problema, e se constata o inexistir do livre-arbítrio, a discussão sobre o patriarcado e o matriarcado acima descrita vai por um outro prisma: o da coerção pura e simples da contemporânea sociedade, e a redução às escolhas racionais.

             A sociedade pós-moderna pós-humana co-aciona desde as aparências e faz confundir que sem o deter das consequências não há ação livre. Vale uma citação:

           "Admitir a teoria da plena irresponsabilidade humana perante o bem e o mal traz quase uma humilhação para o homem, pois seu maior substrato de humanidade era justamente a capacidade de realizar escolhas morais, escolhas livres.... A irresponsabilidade e a inocência é um fel que o sujeito de conhecimento tem que suportar, principalmente porque estava acostumado a enxergar na responsabilidade e no dever a credencial de nobreza e de sua humanidade." 1

           Tudo o que o homem faz é do bem, porque é da natureza, e a moralidade, que depois se elencará virtude, é algo para oprimir o homem em sua natureza livre. O homem livre é bom e inocente. Mas o homem que teoriza o conhecimento é cruel, esconde a verdade racionalizando: ao querer ser sujeito tenente de suas ações o homem se desumaniza, pois por natureza ele é bom e verdadeiro, mas com a coerção do mundo social ele aprende a respeitar regras morais que permitem a sociedade, e que o oprime a tudo. 

             Assim, uma ação má na verdade é uma ação boa alterada, embrutecida; e o livre-arbítrio se é mesmo pautado na escolha livre do sujeito, que existe em sociedade, é, portanto, uma mentira: o homem não tem decisão, responsabilidade nas suas escolhas, pois não tem escolhas a fazer: ele não é livre em sociedade a não ser por coerção; moralmente, ele sempre age conforme a sua natureza, que é boa, 
 resumiria um Nietzsche durkheminano avant la lettre e relendo Platão. Pois, os valores morais às suas escolhas, se boas ou más, são apenas julgamentos dentro de uma sociedade que elege seus próprios valores, e quais são bons ou maus. Em verdade, o homem não pode ir contra suas vontades, seus afetos. Por isso sua escolha é inocente. Não há moral na natureza.
Para contemporizar e contextualizar em certa medida:
"O que é direito escolhamos para nós; e conheçamos entre nós o que é bom" Jó 34:4.


              Por fim, há a questão do poder e da vontade: a vontade de poder não pertence ao homem em sua primeira natureza, mas com o passar do tempo, a moral, a submissão, com repetição, elege ao existir da sociedade a obediência. Daí o poder se instaura por ordem e juízo. O homem se aparta de sua natureza para ser alienado, dependente. Ganha uma segunda natureza. Quando busca liberdade, ser livre, é porque se descobre preso. Somente com as dores do parto se libertará. O homem é moralmente irresponsável, mas a sociedade o coage e condena a tudo, inclusive a ser livre (deduz Sartre) e, em seguida, ele se vê obrigado a ser responsável socialmente.



Só o eu existe. Eu: Deus. 

Com os autores pós-medievais e modernos o homem se vê forçado a ser livre, a obedecer
a si mesmo, como que parecendo que ele havia esquecido isto: que seu espírito é livre e 
sempre (o tempo do nunc stans) foi! O homem é condenado  a ser livre, afirma, num aparentado paradoxo, Sartre, provavelmente relendo os contratualistas da época de Rousseau e Hobbes...

Acontece que uma liberdade que não sabe de onde vem e para onde vai não precisa 
existir. Sequer consegue se ver exisitindo. Por isso há ditadura, ou demagogia; Estado 
laico, ou populismo. 

A democracia está longe, a república não se enxerga: o sentido dessas formas de governo
é o controle do povo pelo próprio povo, mas se ele não se detêm senão como sendo sem 
sentido, um messianismo pós-moderno, superficial e leve(light) e por isso mais perigoso, é 
um consenso. Alguém tem de ditar.

 O mundo líquido flutua em seus sentido de íons concentrados ao bel prazer do cliente 
emulador de elétrons: a virtualidade comenta, segmenta, indica e conduz. Não há moral, 
bem, mal, estética, ética e verdade que não seja configurada. E se ela não é maleável,
tende ao sumiço no meio líquido, osmótico. A tendência ao equilíbrio também tende à 
estupefação, à sublimação, ou ao blasé e à homeopatia.

A cura para a doença acerba da sociedade é talvez sair da letargia, e das pulsões mútuas, recíprocas e todas elas sem sentido definido para se encontrar num meio, se concentrar, como uma célula perigosa pro(ó) bem. Porque detendo a verdade, não estará presa (a alma, o espírito, o ser). Um paradoxo: será livre se detiver a verdade. E a verdade, que é a existência do outro, tem de ser revelada, liberta(da) no tempo certo. 

Não é só a verdade que liberta. É o libertar que se revela verdade; é preciso libertar a 
verdade. A verdade parece presa. A verdade é livre. A verdade não pode ser detida, então 
como detê-la? Um paradoxo... O problema é que ninguém precisa da verdade, já somos 
livres... Este é o mundo pós-humano.

Estou brincando com a verdade...devo ser punido?



1: http://www.recantodasletras.com.br/textosjuridicos/3330932


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Quem sou eu (em agosto de 2012, pois quem se define se limita, dizem)

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Mais preocupado com a criatura do que com o criador. Existem perguntas muito complicadas. Existem respostas muito complicadas. Existem pessoas que não são complicadas. Existem pessoas que tentam complicar. Eu sou aquela que procura entender; complicando un peu primeiro para poder descomplicar. Quero dizer: se eu entender o problema de forma completa, poderei encontrar a solução mais correta, eu acho. Um sonhador, dizem. Mas não creio apenas em sonhos. Gosto mesmo é da realidade, empírica ou não. Gosto de estudar sociologia e biologia. Sou acima de tudo, e pretensamente, um filósofo, no sentido mais preciso da palavra: o sentido do amor a sabedoria, ao saber. Mas a vida é para ser levada com riso e seriedade. Sabendo-se separar uma coisa da outra, encontraremos nosso mundo, nosso lugar, nossa alegria. Nossa Vida, com letra maiúscula! "o infinito é meu teto, a poesia é minha pátria e o amor a minha religião." Eu. Um ídolo: Josué de Castro; um livro: A Brincadeira (Milan Kundera) ; um ideal: a vida.