Pela ordem, pelo sistema
Quer dizer, quando se verifica que uma decisão está sendo tomada e obedece a certos princípios pré-configurados, pode-se falar que houve coerência e limpidez democrática. E, pelo contrário, ao se desobedecer as regras ou de forma unilateral tentar mudá-las, aparecem como evidentes princípios autocráticos subversivos.
Levando esta forma de pensamento às demais instâncias da vida que envolvem a política, mas não necessariamente à discussão de filosofia política, é possível tratar de como os governos de países do Oriente Médio sofrem pressões, externas e internas, não por serem regimes de forma z, x ou y, mas simplesmente por não estarem obedecendo a um princípio básico que é a audiência, ouvidoria ao seu povo, ou a responsividade.
O que parece estar ocorrendo tem a ver com a necessidade espalhada virtualmente, também pela rede de computadores, de haver mais ou novos direitos individuais a serem respeitados. E este “problema” só não é compreendido por qualquer organização política desconectada da realidade. Que se encastela e ignora o que ocorre no próprio país, e no mundo. Novos cidadãos têm novas necessidades e precisam ser reconhecidos.
Então, numa situação extrema, a lógica aqui explicada diz que a situação tornou-se insustentável exatamente porque o povo inscrito no atual mundo “desejante”, pulsante, quase que de pura pleonexia, não percebeu que o Estado não é o único meio para conseguir a realização dos desejos; percebeu alguma forma de descrédito nas regras que parecem ter sido criadas de forma unilateral, e, ainda, quer se reconhecer sem saber exatamente em que sentido, pois a opinião pública não existe efetivamente a não ser durante a disputa política.
E daí, desta última forma de pensamento apresentada, resulta que tudo se dá num procedimento, ou processo. O que não deixa de ser um pensamento limitado. Pois, além de ocorrer num processo, há saídas previamente pensadas nas filosofias políticas. Porém criticadas como sendo muito abstratas, até que se coloquem na prática.
Quer dizer, além da estrutura agindo, as agências as portando, é possível pensar com outros esquemas, até contrários. Estruturas estruturantes tendendo a agir como estruturas estruturadas e os agentes não estando fora da estrutura a remodelando a todo instante, diria Bourdieu, ou uma outra forma de pensar que não seja desse tipo sistema-estruturalista. Mesmo sendo evidente a existência de um sistema, nem sempre é o mesmo sistema.
E ainda, há formas de análises sociológicas e políticas não sistêmicas, mas relacionais; outras chamadas micro, outras de grupos, algumas com interações; uns sistemas sincrônicos, outros dinâmicos; algumas estruturas históricas, outras a-históricas: nestas análises o resultado pode já estar pronto, e não é o processo o determinante, mas a estrutura. Na anterior é através - ou durante o - do processo que se chegará a um resultado, um fim...
Por exemplo, é possível pensar em análises de antigos regimes, que já estavam prontos, mas não vingam mais porque desatualizados num contexto de mundo integrado, quase sem fronteiras para ideias, pensamentos, e pessoas; e pensar em análise do mundo das democracias mais avançadas que parecem funcionar, onde há prosperidade, levando-se em consideração que em ambos vigem sistemas diferentes, e fazendo uma análise de um tipo de estruturalismo, e chegar-se a conclusão que um sistema não funciona e o outro sim porque naquele que não funciona, no todo, há um preterido reconhecimento não atingido.
Ademais, pode faltar espaço para a criação e a imaginação nessas análises estruturalistas históricas ou mesmo a-históricas. Pois, se apenas no processo se cria, não há garantias de que a criação não seja uma reprodução de uma ordem da estrutura, do sistema, o qual é autoreprodutor e autogerador ou regenerador de si mesmo.
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