"Mantiqueira que Chora"
Conta a lenda que vivia uma Princesa Encantada da Brava Tribo Guerreira do Povo Tupi. Seu nome, o tempo esqueceu; seu rosto, a lembrança perdeu. Só se sabe que era linda. E era tão linda que todos a queriam, mas ela não queria ninguém. Vira homens se matarem por vê-la. Tacapes velozes triturando ossos, setas certeiras cortando as carnes. Como poderiam amá-la se não amavam a si próprios?
A bela princesa se apaixonou pelo Sol, o guerreiro de cocar de fogo e carcás de ouro que vivia lá em cima, no céu, caçando para Tupã. Mas o Sol, ao contrário de tantos príncipes, não queria saber dela. Não via sua beleza, não escutava suas palavras nem detinha para tê-la.
Mal passava, cálido, por sua pele morena, sua tez cheirando a flor, mal acariciava seus pelos negros, suas pernas esguias e, fugaz, seguia impávido a senda das horas e das sombras. Mas ela era tão bonita que senti-la nua, seus pequenos túrgidos seios, seus lábios de mel e seiva, sua virginal lascívia, acabaram também encantando o Sol. E o Guerreiro de Cocar de Fogo fazia horas de meio-dia sobre o Itaguaré...
A Lua, mal surgia sobre a serra, já sumia acolá. Logo, não havia noite. O Sol não se punha mais e não havia sono, e não havia sonho e, tão perto o Sol vinha beijar a amada, que os pastos se incendiavam, a capoeira secava e ferviam os lamaçais...
De tênues penugens de prata, plumas alvas de cegonhaçu, a Lua viu que estava ameaçada por uma simples mulher. O Sol, que na Oca do Infinito já lhe dera tantas madrugadas de prazer, tantas auroras de puro gosto, se apaixonara por uma mulher...
E tanto, de tanto que Tupã quis saber o que era, que a Lua, cheia de ódio, crescente de ciúme, minguante de dor, se fez um novo ser de noites-sem-lua e foi contar tudo para Tupã. Como uma simples mulher ousou amar o Sol? Como o Sol ousou deter o tempo para amar alguém? Que ele nunca mais a visse! Mas o Sol tudo vê!...
Tupã ergueu a maior montanha que existia e lá dentro encerrou a Princesa Encantada da Brava Tribo Guerreira do Povo Tupi. O Sol, de dor, sangrou poentes e quis se afogar no mar. A Lua, com a dor de seu amado, chorou miríades de estrelas, constelados de prantos de luz. Mas nenhum choro foi tão chorado como o da Princesinha, tão bela, que nunca mais pode ver o dia, que nunca mais sentiria o Sol...
Ela chorou rios de lágrimas, Rio Verde, Rio Passa Quatro, Rio Quilombo, Rios de águas límpidas, minas, fontes, grotas, ribeiras, enchentes, corredeiras, bicas, mananciais. Seu povo esqueceu seu nome, mas chamou de Amantigir, a “Serra que Chora”, Mantiqueira, a montanha que a cobriu.
Conta a lenda que foi assim...
( Trecho da peça “A Fantástica Lenda de Algures”)
retirado de outro blogue http://encantosprair.blogspot.com/2015/01/serra-da-mantiqueira-serra-que-chora.html
Conta a lenda que vivia uma Princesa Encantada da Brava Tribo Guerreira do Povo Tupi. Seu nome, o tempo esqueceu; seu rosto, a lembrança perdeu. Só se sabe que era linda. E era tão linda que todos a queriam, mas ela não queria ninguém. Vira homens se matarem por vê-la. Tacapes velozes triturando ossos, setas certeiras cortando as carnes. Como poderiam amá-la se não amavam a si próprios?
A bela princesa se apaixonou pelo Sol, o guerreiro de cocar de fogo e carcás de ouro que vivia lá em cima, no céu, caçando para Tupã. Mas o Sol, ao contrário de tantos príncipes, não queria saber dela. Não via sua beleza, não escutava suas palavras nem detinha para tê-la.
Mal passava, cálido, por sua pele morena, sua tez cheirando a flor, mal acariciava seus pelos negros, suas pernas esguias e, fugaz, seguia impávido a senda das horas e das sombras. Mas ela era tão bonita que senti-la nua, seus pequenos túrgidos seios, seus lábios de mel e seiva, sua virginal lascívia, acabaram também encantando o Sol. E o Guerreiro de Cocar de Fogo fazia horas de meio-dia sobre o Itaguaré...
A Lua, mal surgia sobre a serra, já sumia acolá. Logo, não havia noite. O Sol não se punha mais e não havia sono, e não havia sonho e, tão perto o Sol vinha beijar a amada, que os pastos se incendiavam, a capoeira secava e ferviam os lamaçais...
De tênues penugens de prata, plumas alvas de cegonhaçu, a Lua viu que estava ameaçada por uma simples mulher. O Sol, que na Oca do Infinito já lhe dera tantas madrugadas de prazer, tantas auroras de puro gosto, se apaixonara por uma mulher...
E tanto, de tanto que Tupã quis saber o que era, que a Lua, cheia de ódio, crescente de ciúme, minguante de dor, se fez um novo ser de noites-sem-lua e foi contar tudo para Tupã. Como uma simples mulher ousou amar o Sol? Como o Sol ousou deter o tempo para amar alguém? Que ele nunca mais a visse! Mas o Sol tudo vê!...
Tupã ergueu a maior montanha que existia e lá dentro encerrou a Princesa Encantada da Brava Tribo Guerreira do Povo Tupi. O Sol, de dor, sangrou poentes e quis se afogar no mar. A Lua, com a dor de seu amado, chorou miríades de estrelas, constelados de prantos de luz. Mas nenhum choro foi tão chorado como o da Princesinha, tão bela, que nunca mais pode ver o dia, que nunca mais sentiria o Sol...
Ela chorou rios de lágrimas, Rio Verde, Rio Passa Quatro, Rio Quilombo, Rios de águas límpidas, minas, fontes, grotas, ribeiras, enchentes, corredeiras, bicas, mananciais. Seu povo esqueceu seu nome, mas chamou de Amantigir, a “Serra que Chora”, Mantiqueira, a montanha que a cobriu.
Conta a lenda que foi assim...
( Trecho da peça “A Fantástica Lenda de Algures”)
retirado de outro blogue http://encantosprair.blogspot.com/2015/01/serra-da-mantiqueira-serra-que-chora.html
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