"Sonho é destino". "Dream is destiny". You do it to yourself, you do, and that's what really 'happens'. "Tudo que não invento é falso."

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quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Mozart é igual a MC Kevinho

Mozart é igual a MC Kevinho


Eu estava dirigindo meu carro no interior do interior desse Braszilzão, entrei numa comunidade carente quase sem querer e fui pedir informação a um grupo de crianças jogando bola na rua. Vieram sorrindo e me responderam prontamente. Com destaque, uma criança de 10 anos, com um enorme sorriso no rosto: de apenas um dente. Fiquei chocado mas mantive a cara de pôquer. Pensei se o menino já havia visto uma escova de dentes na vida, se teria alguma doença, se frequentava a escola ou tinha pais ou família. Deduzo que não. Mas tenho esperança.

 Quer dizer, quando este menino fizer 18 anos e estiver apto a trabalhar, votar, dirigir, ser eleito, ter uma conta no banco, tenho esperança de que chegará à maioridade e não será preso ou levará um headshot. Sim, porque é isso que prega o governador do Estado do Rio de Janeiro aos meninos desamparados das comunidades carentes. Pensei se tal menino hoje com 10 anos terá chance de vaga de emprego aos 18. Ou se olharão para ele e meritocraticamente escolherão o parente distante dele que mora no Leblon para trabalhar meio período no MC Donaldo. Este tem dentes.

 Sim, MC Donaldo. Quem sabe aquele menino tenha um dom para a música e faça batidas dizendo o que vive e o que o deixa tão feliz, como jogar bola com amigos no sol escaldante do verão brasileiro. Quem sabe ele tenha sorte e um olheiro de várzea o leve para o time da cidade, depois capital e ele desponte, ganhando assistência odontológica dentre outras coisas. Quem sabe o governo mude.

 Exatamente o que leu, quem sabe o governo local mude a mentalidade e mande assistentes sociais visitarem tais comunidades para checar se há crianças fora da escola, sem assistência médica, odontológica e educação de toda sorte além da sanitária ? Sim, porque a lei é para todos, e os cortes do Orçamento também. Mas uns parecem ser mais atingidos do que outros. Quem sabe o governo não pense que a cultura do funk não muda a vida das pessoas. Interrogação e exclamação. Ou a cultura do esporte. Ou a cultura da religião. Ou a cultura do diverso, do distante, do próximo.

 Mantenho a esperança de que o próximo pense no próximo, tenha o amor intermediário: interesse. Inter essere, em latim, é o ser intermediário. É o Amor, o Ser que anda entre dois mundos, dois planos e os conecta. Então, jogue a seta da sorte não na cabeça ou no dom aleatório do menino de 10 anos, feliscendente, mas na inteligência que ocupa o lugar ciente. O lugar de assistir. De conhecer o outro e evitar que o crime, que lá está organizado, o convença de que é melhor ter do que não ter dinheiro. E dentes.

Tenho esperança de que o som absurdo da ausência inebriante seja superior ao silente escândalo de não olhar para o ser humano ao lado como ser idêntico, e assim o mandatário do poder local não seja marginal e sim presente. Se as margens nos mananciais do país, nas reservas estatais, estão cada vez menos frondosas e os rios menos caudalosos, que ao menos paremos para pensar na hora de tomar decisões que atijam os menos afortunados, marginais em senso lato. Sim, o voto.

Em última instância, nosso pior governo é ainda uma democracia. Nela os deveres do Estado estão subescritos em lei. E o dinheiro que é investido em educação bucal - que seja - pode salvar almas no futuro próximo. Muito mais do que qualquer deus ausente. Não há solução mais pingente: ou se libera a sangria, ou se liberta a gente. O Ser intermediário ora exposto só faz a ponte, crente que salvará almas, mas no mundo a ação é humana. O motor de toda ação, o pai de toda a ação é a vibração, a energia, o pensamento, o santo espírito que vê, vislumbra, alumia a mente e pede o movimento não silente: o movimento que faz o filho pródigo tornar à casa feliz após dar uma informação precisa a um estranho no ninho, que fora apenas comprar um doce típico.

 Se a supraescrita Trindade for resumida, a moral da história é a inocência sendo salvaguardada pelo conhecimento bucal e pela ação humana. A boa ação: a matrícula na escola, a verba do Orçamento para escola, a escolha de um representante no governo que dará prioridade a manter as crianças vivas e sorridentes. Com dentes. Quando entendermos isso saberemos que Mozart é igual a MC kevinho. A revolta dos cabelos austríacos é tão estridente quando a sonoplástica linguagem favelizante: somente a arte salva mediante a sociedade ignóbil. Somente o dia de feriado de um novo ano dá diversão praieira fora dos santos domingos às crianças regularmente matriculadas nas escolas. E com dentes.


" Quando você olha para o abismo ele olha de volta para você"


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Quem sou eu (em agosto de 2012, pois quem se define se limita, dizem)

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Mais preocupado com a criatura do que com o criador. Existem perguntas muito complicadas. Existem respostas muito complicadas. Existem pessoas que não são complicadas. Existem pessoas que tentam complicar. Eu sou aquela que procura entender; complicando un peu primeiro para poder descomplicar. Quero dizer: se eu entender o problema de forma completa, poderei encontrar a solução mais correta, eu acho. Um sonhador, dizem. Mas não creio apenas em sonhos. Gosto mesmo é da realidade, empírica ou não. Gosto de estudar sociologia e biologia. Sou acima de tudo, e pretensamente, um filósofo, no sentido mais preciso da palavra: o sentido do amor a sabedoria, ao saber. Mas a vida é para ser levada com riso e seriedade. Sabendo-se separar uma coisa da outra, encontraremos nosso mundo, nosso lugar, nossa alegria. Nossa Vida, com letra maiúscula! "o infinito é meu teto, a poesia é minha pátria e o amor a minha religião." Eu. Um ídolo: Josué de Castro; um livro: A Brincadeira (Milan Kundera) ; um ideal: a vida.