Lagoinha
Lagoa
Lagoinha
Lagoa nossa
Lagoa de todos os anos
Foste cheia, foste vazia
Foste como nunca esperamos
Tivesse secado totalmente nos assustaria,
E, ao mesmo tempo, facilitaria o caminho à praia.
Mas a queremos sempre cheia, refletindo nossas ideias...
Ou melhor, as ideias do poder do tempo, do poder dos ventos;
Os raios solares, o cheiro das águas salúbres e doces, das marés lunares.
Contigo sabemos da chuva, e da força do mar!
Sabemos se na temporada vai ter banho na barra,
Ou se poderemos remar!...
Sabemos sentir seu cheiro como registro histórico:
Indicador ambiental, lar de vaga-lumes, cobras e carapebas perdidas,
Sem conexão com a lagoa vizinha, gigante esquecida por todos menos algumas algas.
Lagoinha: és inconstante.
Passaste a mudar com o tempo, com a frequência não imaginada de enchente;
Mudaste de posição com a deposição da areia do cômoro tornando-se o caminho de Bugres;
Jeeps, Fuscas turbinados ou sem capô, aranhas metálicas, esqueletos de carros modificados!
Atolaste carros vários e, no entanto, resististe às intempéries naturais, e humanas, com sua força.
Retornaste a seu devido tamanho após ressacas, e viste a ponte desaparecer em cotocos movediços.
Então, modificada com o tempo soube se manter, e com a chuva-após-chuva enchia e esvaziava
Às marés vazantes, ao Sol escaldante e ao calor escabroso.
Tais elementos não pareciam lhe afetar de imediato
Tal como o mar é presente, omnipresente,
Presente para todos os que acompanham seu devir. Sua variação de tamanho e formas -
Não de conteúdo - lhe perturbavam a natureza.
Rasinha, com a chuva do sul cardeal, de ventos invernais, com sua temperatura arrepiante
Impressionava-nos em pleno verão...
Implácida, apesar de sumida, úmida mantém-se: presente e tácita; humilde e reflexiva.
Não tão constante como a Ilha de Santa'Ana como lembra vovó no dizer:
"- ...Nesta Praia já vi de tudo. Todo ano há uma mudança, apenas uma coisa não muda, a Ilha...
Mantém-se temporada após temporada."
É a Lagoinha,
E nós praianos, eu ousaria acrescentar, como a ti, insistentes, retornamos quase todo ano
Para o mesmo lugar. Ou quase o mesmo lugar, pois se não tomamos banho duas vezes no mesmo rio
Na mesma lagoinha também não o faríamos, pois apesar de bonita contém lodo em demasia...
Matéria orgânica natural, fortuita, sacos plásticos e garrafas PETs, devidamente colhidas
Por François, por primos com consciência ecológica e pela prefeitura por ocasião.
Por ocasião do Verão, o qual traz Sol a pino e chuva a tira-gosto
Ventos alísios não tocam o seu chão mas parecem fazer a curva
Em seu seio, em seu meio
Vêm e vão surgindo
Nordeste-sudoeste
Molhando-te e
Secando-te.
Dissecando-te tento te fazer um elogio, modificando o tamanho das estrofes
A seguir o ritmo de tua vertente, tais versos mal cabem na formatação do Praiano...
E sigo singrando com os ventos errantes, alegres, passantes, presentes, passados, pensantes...
Que ajudam você a variar de tamanho em apenas um dia, com a predominância do mar
Qual, se de ressaca, em apenas doze horas pode te modificar como quem bebe demais até se afogar...
Porém, fica o registro de que apesar dos caiaques, nunca foste vilã, apenas amiga dos mares e primos.
E portanto fica o pedido para que nunca te esgotes, porque esgotar sem tratamento... não cabe na sua Palavra Maiúscula: Lagoinha, em paradoxal nomenclatura, pois, és minúscula...
Tanto que o aplicativo Waze te chama de poça. Português lusitano...
Ri quando li este nome pois, sabia que de poça não tens nada.
Tens sim a variação do tempo. Constante como soe.
Mutante como só ele: és minúscula no mapa, na geografia, mas gigante na lembrança, na poesia.
Pássaros que o digam: uma andorinha só, não faz verão, disse uma vez um filósofo grego.
Comprovamos que não, pois além de andorinhas é lar para garças, quero-queros, patos e marrecos;
Corujas, sapos e gafanhotos; girinos e carapebas; camarões-zinhos e siris-zinhos; cães-do-mato - e soltos - em ti se refrescam.
Caiaques praianos e botes te atravessam. E nós te lembramos como quem lembra de um amigo que está longe mas presente... que sempre te visitava e apreciava sua irmã maior e se foi cedo demais... que foi o primo mais cantante e a quem dedico estas linhas finais.
Yuri Cavour Oliveira
20/02/2018
Lagoa
Lagoinha
Lagoa nossa
Lagoa de todos os anos
Foste cheia, foste vazia
Foste como nunca esperamos
27 de janeiro 2018. Foto por Claudinha. |
Tivesse secado totalmente nos assustaria,
E, ao mesmo tempo, facilitaria o caminho à praia.
Mas a queremos sempre cheia, refletindo nossas ideias...
Ou melhor, as ideias do poder do tempo, do poder dos ventos;
Os raios solares, o cheiro das águas salúbres e doces, das marés lunares.
Contigo sabemos da chuva, e da força do mar!
Sabemos se na temporada vai ter banho na barra,
Ou se poderemos remar!...
Sabemos sentir seu cheiro como registro histórico:
Indicador ambiental, lar de vaga-lumes, cobras e carapebas perdidas,
Sem conexão com a lagoa vizinha, gigante esquecida por todos menos algumas algas.
27 de janeiro 2018. Foto por Claudinha. |
Lagoinha: és inconstante.
Passaste a mudar com o tempo, com a frequência não imaginada de enchente;
Mudaste de posição com a deposição da areia do cômoro tornando-se o caminho de Bugres;
Jeeps, Fuscas turbinados ou sem capô, aranhas metálicas, esqueletos de carros modificados!
Atolaste carros vários e, no entanto, resististe às intempéries naturais, e humanas, com sua força.
Retornaste a seu devido tamanho após ressacas, e viste a ponte desaparecer em cotocos movediços.
Então, modificada com o tempo soube se manter, e com a chuva-após-chuva enchia e esvaziava
Às marés vazantes, ao Sol escaldante e ao calor escabroso.
Tais elementos não pareciam lhe afetar de imediato
Tal como o mar é presente, omnipresente,
Presente para todos os que acompanham seu devir. Sua variação de tamanho e formas -
Não de conteúdo - lhe perturbavam a natureza.
5 de janeiro 2018. |
Rasinha, com a chuva do sul cardeal, de ventos invernais, com sua temperatura arrepiante
Impressionava-nos em pleno verão...
Implácida, apesar de sumida, úmida mantém-se: presente e tácita; humilde e reflexiva.
Não tão constante como a Ilha de Santa'Ana como lembra vovó no dizer:
"- ...Nesta Praia já vi de tudo. Todo ano há uma mudança, apenas uma coisa não muda, a Ilha...
Mantém-se temporada após temporada."
É a Lagoinha,
E nós praianos, eu ousaria acrescentar, como a ti, insistentes, retornamos quase todo ano
Para o mesmo lugar. Ou quase o mesmo lugar, pois se não tomamos banho duas vezes no mesmo rio
Na mesma lagoinha também não o faríamos, pois apesar de bonita contém lodo em demasia...
Matéria orgânica natural, fortuita, sacos plásticos e garrafas PETs, devidamente colhidas
Por François, por primos com consciência ecológica e pela prefeitura por ocasião.
Por ocasião do Verão, o qual traz Sol a pino e chuva a tira-gosto
Ventos alísios não tocam o seu chão mas parecem fazer a curva
Em seu seio, em seu meio
Vêm e vão surgindo
Nordeste-sudoeste
Molhando-te e
Secando-te.
Dissecando-te tento te fazer um elogio, modificando o tamanho das estrofes
A seguir o ritmo de tua vertente, tais versos mal cabem na formatação do Praiano...
E sigo singrando com os ventos errantes, alegres, passantes, presentes, passados, pensantes...
Que ajudam você a variar de tamanho em apenas um dia, com a predominância do mar
Qual, se de ressaca, em apenas doze horas pode te modificar como quem bebe demais até se afogar...
Porém, fica o registro de que apesar dos caiaques, nunca foste vilã, apenas amiga dos mares e primos.
E portanto fica o pedido para que nunca te esgotes, porque esgotar sem tratamento... não cabe na sua Palavra Maiúscula: Lagoinha, em paradoxal nomenclatura, pois, és minúscula...
Tanto que o aplicativo Waze te chama de poça. Português lusitano...
Ri quando li este nome pois, sabia que de poça não tens nada.
Tens sim a variação do tempo. Constante como soe.
Mutante como só ele: és minúscula no mapa, na geografia, mas gigante na lembrança, na poesia.
CLique para ampliar: 3 de fevereiro 2018. |
Pássaros que o digam: uma andorinha só, não faz verão, disse uma vez um filósofo grego.
Comprovamos que não, pois além de andorinhas é lar para garças, quero-queros, patos e marrecos;
Corujas, sapos e gafanhotos; girinos e carapebas; camarões-zinhos e siris-zinhos; cães-do-mato - e soltos - em ti se refrescam.
Caiaques praianos e botes te atravessam. E nós te lembramos como quem lembra de um amigo que está longe mas presente... que sempre te visitava e apreciava sua irmã maior e se foi cedo demais... que foi o primo mais cantante e a quem dedico estas linhas finais.
Yuri Cavour Oliveira
20/02/2018
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