Da Filosofia Política no tomo 3 de Mil Platôs, de Gilles Deleuze e Felix Guattari.
Sem dúvida na morfoanálise da vida um rizoma prevalece sobre a árvore, como veremos na filosofia política deste texto de Deleuze e Guattari. Parece não haver caminho até que se entrecortam raízes conflituosas, criando um novo caminho. Talvez comum, talvez estranho, mas novo porque incipiente.
Os segmentos nos cercam indicados pela bússola errante da vida. A todo instante formas de segmentaridades nos cercam, as lineares, as binárias, as circulares. E no fim parece haver uma dicotomia essencial: segmentos constituídos apenas de máquinas binárias. Decerto que não, isto não é verdade e será aqui demonstrado. Todas segmentaridades têm sua parcela e parecem existir sob duas formas, a saber, a moderna e dura, e a primitiva e flexível. Mas isso também não é correto, pois uma superposição, ou concomitância, será indicada.
Ainda, a segmentaridade é tanto molar quanto molecular, e a que mais incidiria seria a molecular, pois penetrante quando menos esperada e, portanto, causadora de maior vertigem. Isto é, tanto na atual sociedade, dita moderna, quanto nas ditas primitivas incide o rizoma, criador das possibilidades de transmutação.
No entanto, por um lado, parece que em sociedades primitivas a segmentariedade, a da máquina binária, se é mais atuante, real ou presente, é menos fortuita: há mais flexibilização na segmentariedade e essas resultariam de máquinas e de agenciamentos que não seriam eles mesmos binários. Por outro lado, nas sociedades modernas as segmentaridades binárias são mais presentes, e isso não é difícil de ser indicado: até o próprio Estado exerce sua segmentaridade nesta sociedade, além de se exercer sobre segmentos que ele mantém. E as máquinas duais erigem-se: ocorrem relações biunívocas e escolhas binarizadas, simultânea e sucessivamente.
É preciso lembrar que esta segmentariedade não é dissociada da chamada centralidade, assim chamada pelos sociólogos, na política do Estado (na sociedade moderna), a que tudo reparte ao mesmo tempo que detém unívoco poder. Quer dizer, as subdivisões do poder do Estado atêm-se a um comum, central diretório e, no entanto, esse próprio diretório seria ele mesmo todo segmentarizado. A confusão desses compartimentos do Estado contraposicionados cria processos vários defasados ou deslocados, mas ordenados.
Assim funciona a burocracia do Estado moderno: por suas repartições, deslocadas. Assim a vida moderna é sinônimo não de univocidade verdadeira, mas de autêntica segmentaridade.
No entanto, o centro está em toda parte, e a circunferência em parte alguma: há segmentaridade circular. A circularidade está presente apenas nas sociedades de Estado, as modernas, e ausente nas primitivas. Porque nas sociedades primitivas mesmo existindo o centro, ele não é concêntrico ou não funciona como um buraco-negro, o qual no fim das contas a tudo suga. Esse buraco-negro existe nas sociedades modernas, e estão assim ressonâncias nascendo e se fixando, a partir do centro. A sociedade moderna seria mais reprodutora do que criadora, salvo o rizoma; as sociedades primitivas inibiriam a ressonância, porque flexíveis.
E também existe outra forma de segmentaridade, a linear. Nesta, cada segmento é, ou torna-se, uma retificação, mas não linha reta; é realçado, homogeneizado e sobrecodificado. E nesta segmentaridade há tradução possível nas distintas existentes unidades de medida: o olho central da segmentaridade circular, representada pelo buraco-negro - o qual tudo suga no fim das contas -, tem para se deslocar um espaço, o qual é seu correlato, sendo que o próprio olho permanece estático, ignorando seus próprios deslocamentos. E se isso faz com que pareça impossível brotar novos segmentos, o centro continua a ser o denominador comum, há mais lugar para ressonâncias.
Assim, neste espaço protogeométrico, onde as figuras são inseparáveis de sua afecção, as linhas do seu devir, os segmentos de sua segmentação, o Estado liga-se à geometria de tal modo que as ideias, fixas, não dão lugar aos espaços morfológicos flexíveis, e sobrecodificações são possíveis, arredondamentos, alinhamentos, mas não linha reta orientadora. A praça pública central romana continua a inspirar o formato da vida ressonado, isto é a substituição da territorialidade pelo espaço (o geométrico e sobrecodificado, ou a reterritorialização) e o nascer das cidades é a real possibilidade por esta dura segmentação.
A segmentaridade é, sobremaneira, o resultado de uma máquina abstrata, mas diferente em sociedades primitivas e sociedades modernas, as quais existem embaralhadas umas nas outras num mundo literalmente complexo. Portanto, as suposições acima de que a segmentaridade flexível seria típica de sociedades primitivas não é de todo verdadeira.
Afinal, existe os dois tipos de segmentaridade supracitados, a saber, a molar e a molecular. E isto é válido não apenas para sociedades como também para indivíduos, os quais compõe as sociedades. Ainda, as segmentaridade são inseparáveis, se entrecortam, se imiscuem e uma pressupõe a outra. Assim sendo, o político resume tudo.
Na sequência lógica, toda política seria ao mesmo tempo macropolítica e micropolítica. O molecular consubstancia o molar, o atravessa, pode até o transformar. E todas as questões da vida pessoal, particular ou societal, estatal, se compõe pelo engolfamento molecular e molar.
Quer dizer, o molecular pode até ser menor do que o molar, inferindo no detalhe, mas pode atuar em campo social mais amplo; e a organização molar precisa se molecularizar para ser mais forte. E se os desejos, sempre agenciados, desejam a sua repressão (numa sociedade moderna do medo incidindo sobre os indivíduos e as sociedades), as repartições moleculares agem, reforçam as estruturas molares, as compõem, e há espaços vácuos a serem preenchidos sempre, as linhas de fuga aparecem, fogem da máquina binária.
Finalmente, a definição da sociedade é apresentada: as linhas de fuga. Mas esta definição analisa a micropolítica; a macropolítica pode ser analisada pelo fluxo da molaridade, mas tornar-se-á incompleta. É preciso então a composição nas análises das sociedades, compreender no mesmo tomo analítico a segmentaridade molar e a molecular, já que uma não subsiste sem a outra: a linha de segmentos se aprofundando, imergindo num fluxo de quanta.
E os fluxos e seus quanta (forças materiais e psíquicas, disponibilidades nominais de guerra) e as linha de segmentos são: o primeiro algo que tende a escapar dos códigos quando não capturado e que evade dos códigos, quando capturado, e o quanta são signos ou graus de desterritorialização no fluxo descodificado; enquanto o segundo, a linha dura, é a que implica uma sobrecodificação, substituindo os códigos desgastados, e o segmento é um reterritorialização nesta linha sobrecodificada ou sobrecodificante. O segundo tenta a todo instante capturar o primeiro, e este muda a todo instante.
Quer dizer, no campo do político, do social, a todo instante movimentos de descodificação e desterritorialização transpassam a vida das massas. Mas ao mesmo tempo, e de forma indissociável, ocorrem as sobrecodificações e reterritorializações.
Então, movimentos de massa, com seus quanta de desterritorialização e descodificação, se revezam , se precipitam a todo instante, mas é sempre o fluxo mais desterritorializado que opera a conjugação dos processos, determina a sobrecodificação e serve de base à reterritorialização a qual incide sobre as organizações binárias, de ressonância, sobre as classes.
Assim movimentos de massa podem saltar de classes a classes, mas sempre sendo diferentes (como novos quanta), modificando também as relações de classe, criando novas linhas de fuga. E a política no entanto opera por macrodecisões e escolhas binárias, molares, procurando avaliar e respeitar interesses e desejos, moleculares. Portanto o que são afetados verdadeiramente são as massas, o todo, e não as classes exclusivamente.
Então, verificamos a política obedecendo as descritas linhas: a linha de fuga, a linha dura e também a linha flexível, da composição, entrelaçamento de códigos e territorialidades. Em suma, a máquina abstrata da sobrecodificação, a qual define a segmentaridade dura, e a máquina abstrata da mutação, a qual traça as linhas de fuga, compõe o chamado estado simultâneo da máquina abstrata.
No fim, encontramos focos ou centros de poder. Encontramos em organizações tais como a Igreja, ou o Exército. São chamados focos ou centros de poder os segmentos duros; seria um ponto não necessariamente convergente, ou confuso (confundível) de outros centros de poder, mas um ponto de ressonância no horizonte, atrás dos outros centros de poder.
O Estado seria assim considerado uma caixa de ressonância para todos os outros centros de poder. E mesmo num Estado totalitário isso é verdade, com inclusive uma ressonância redobrada. Mas mesmo esses centros são compostos pelas molaridades, instáveis por si só.
E por fim, a função destes centros de poder, e eles têm limite de atuação, é a de traduzir os quanta de fluxo em segmentos de linha. E ainda que daí advenha a potência do poder, advém também a sua impotência, pois ambos se contrapõem e se equilibram, por assim dizer.
Mas não há Poder que se controle, e os próprios segmentos dependem assim de uma máquina abstrata. E quem depende do centro de poder são os agenciamentos, os mesmos, donos entre outros dos desejos, efetuam as máquinas abstratas. E os agenciamentos, finalmente, não param de adaptar as variações de massa e de fluxo aos segmentos de linha dura, em função do segmento dominante e dos segmentos dominados.
- Ainda que a esquizoanálise apresentada não se proponha fazer (por) juízos de valor, ouso eu,Yuri, fazer uma breve análise, suplementar, do entendimento das máquinas abstratas e de guerra.
Um perigo, um próximo ao do texto, o da Clareza, é o mais importante a meu ver: é de que segmentos moleculares se tornem cada vez maiores, e que o mau individualismo - entendido como tentativa incessante de viver em sintonia com um poder advindo do ego humano alimentado, de si e para si - tome conta de tal forma que centros de poder sejam formados por microfascimos, ou desejos insólitos, não reprimidos por outras formas molares de segmentaridade e até conjugados por outras formas moleculares de segmentaridades, e assumam papéis importantes, assumam lideranças talvez carismáticas, influenciadoras de massas, as quais se moveriam sem saber para centralidades destoantes em seus pontos elementares. Os quais estariam compondo na verdade centros vários, gerando assim um caos impossibilitando uma vida em sociedade, porque vontades individuais prevaleceriam de tal modo que não se admitiria uma forma de poder vigente, rumando talvez a separatismos quando não à anarquia, em última instância, ou o retorno de fascismos, com massas hipnotizadas. Interação sem ressonância não é o perigo, o perigo é não haver interação.
E como o homem no Poder adquiri poderes de sua impotência, a tendência é este homem fascista e individualista se prolongar no poder, porque se ele quer deter as linhas de fuga das massas é sim corroborado com a sociedade que “não está nem aí” para o poder, porque só pensa individualmente, querendo expandir suas capacidades individuais e esquecendo-se que para isso é preciso que trocas de informações sejam feitas, mediações, e afinal concessões, porque não existe poder verdadeiro em apenas uma ilha, a ilha da consciência própria. Apesar de que a consciência própria seja importante.
Yuri Cavour Oliveira
Sem dúvida na morfoanálise da vida um rizoma prevalece sobre a árvore, como veremos na filosofia política deste texto de Deleuze e Guattari. Parece não haver caminho até que se entrecortam raízes conflituosas, criando um novo caminho. Talvez comum, talvez estranho, mas novo porque incipiente.
Os segmentos nos cercam indicados pela bússola errante da vida. A todo instante formas de segmentaridades nos cercam, as lineares, as binárias, as circulares. E no fim parece haver uma dicotomia essencial: segmentos constituídos apenas de máquinas binárias. Decerto que não, isto não é verdade e será aqui demonstrado. Todas segmentaridades têm sua parcela e parecem existir sob duas formas, a saber, a moderna e dura, e a primitiva e flexível. Mas isso também não é correto, pois uma superposição, ou concomitância, será indicada.
Ainda, a segmentaridade é tanto molar quanto molecular, e a que mais incidiria seria a molecular, pois penetrante quando menos esperada e, portanto, causadora de maior vertigem. Isto é, tanto na atual sociedade, dita moderna, quanto nas ditas primitivas incide o rizoma, criador das possibilidades de transmutação.
No entanto, por um lado, parece que em sociedades primitivas a segmentariedade, a da máquina binária, se é mais atuante, real ou presente, é menos fortuita: há mais flexibilização na segmentariedade e essas resultariam de máquinas e de agenciamentos que não seriam eles mesmos binários. Por outro lado, nas sociedades modernas as segmentaridades binárias são mais presentes, e isso não é difícil de ser indicado: até o próprio Estado exerce sua segmentaridade nesta sociedade, além de se exercer sobre segmentos que ele mantém. E as máquinas duais erigem-se: ocorrem relações biunívocas e escolhas binarizadas, simultânea e sucessivamente.
É preciso lembrar que esta segmentariedade não é dissociada da chamada centralidade, assim chamada pelos sociólogos, na política do Estado (na sociedade moderna), a que tudo reparte ao mesmo tempo que detém unívoco poder. Quer dizer, as subdivisões do poder do Estado atêm-se a um comum, central diretório e, no entanto, esse próprio diretório seria ele mesmo todo segmentarizado. A confusão desses compartimentos do Estado contraposicionados cria processos vários defasados ou deslocados, mas ordenados.
Assim funciona a burocracia do Estado moderno: por suas repartições, deslocadas. Assim a vida moderna é sinônimo não de univocidade verdadeira, mas de autêntica segmentaridade.
No entanto, o centro está em toda parte, e a circunferência em parte alguma: há segmentaridade circular. A circularidade está presente apenas nas sociedades de Estado, as modernas, e ausente nas primitivas. Porque nas sociedades primitivas mesmo existindo o centro, ele não é concêntrico ou não funciona como um buraco-negro, o qual no fim das contas a tudo suga. Esse buraco-negro existe nas sociedades modernas, e estão assim ressonâncias nascendo e se fixando, a partir do centro. A sociedade moderna seria mais reprodutora do que criadora, salvo o rizoma; as sociedades primitivas inibiriam a ressonância, porque flexíveis.
E também existe outra forma de segmentaridade, a linear. Nesta, cada segmento é, ou torna-se, uma retificação, mas não linha reta; é realçado, homogeneizado e sobrecodificado. E nesta segmentaridade há tradução possível nas distintas existentes unidades de medida: o olho central da segmentaridade circular, representada pelo buraco-negro - o qual tudo suga no fim das contas -, tem para se deslocar um espaço, o qual é seu correlato, sendo que o próprio olho permanece estático, ignorando seus próprios deslocamentos. E se isso faz com que pareça impossível brotar novos segmentos, o centro continua a ser o denominador comum, há mais lugar para ressonâncias.
Assim, neste espaço protogeométrico, onde as figuras são inseparáveis de sua afecção, as linhas do seu devir, os segmentos de sua segmentação, o Estado liga-se à geometria de tal modo que as ideias, fixas, não dão lugar aos espaços morfológicos flexíveis, e sobrecodificações são possíveis, arredondamentos, alinhamentos, mas não linha reta orientadora. A praça pública central romana continua a inspirar o formato da vida ressonado, isto é a substituição da territorialidade pelo espaço (o geométrico e sobrecodificado, ou a reterritorialização) e o nascer das cidades é a real possibilidade por esta dura segmentação.
A segmentaridade é, sobremaneira, o resultado de uma máquina abstrata, mas diferente em sociedades primitivas e sociedades modernas, as quais existem embaralhadas umas nas outras num mundo literalmente complexo. Portanto, as suposições acima de que a segmentaridade flexível seria típica de sociedades primitivas não é de todo verdadeira.
Afinal, existe os dois tipos de segmentaridade supracitados, a saber, a molar e a molecular. E isto é válido não apenas para sociedades como também para indivíduos, os quais compõe as sociedades. Ainda, as segmentaridade são inseparáveis, se entrecortam, se imiscuem e uma pressupõe a outra. Assim sendo, o político resume tudo.
Na sequência lógica, toda política seria ao mesmo tempo macropolítica e micropolítica. O molecular consubstancia o molar, o atravessa, pode até o transformar. E todas as questões da vida pessoal, particular ou societal, estatal, se compõe pelo engolfamento molecular e molar.
Quer dizer, o molecular pode até ser menor do que o molar, inferindo no detalhe, mas pode atuar em campo social mais amplo; e a organização molar precisa se molecularizar para ser mais forte. E se os desejos, sempre agenciados, desejam a sua repressão (numa sociedade moderna do medo incidindo sobre os indivíduos e as sociedades), as repartições moleculares agem, reforçam as estruturas molares, as compõem, e há espaços vácuos a serem preenchidos sempre, as linhas de fuga aparecem, fogem da máquina binária.
Finalmente, a definição da sociedade é apresentada: as linhas de fuga. Mas esta definição analisa a micropolítica; a macropolítica pode ser analisada pelo fluxo da molaridade, mas tornar-se-á incompleta. É preciso então a composição nas análises das sociedades, compreender no mesmo tomo analítico a segmentaridade molar e a molecular, já que uma não subsiste sem a outra: a linha de segmentos se aprofundando, imergindo num fluxo de quanta.
E os fluxos e seus quanta (forças materiais e psíquicas, disponibilidades nominais de guerra) e as linha de segmentos são: o primeiro algo que tende a escapar dos códigos quando não capturado e que evade dos códigos, quando capturado, e o quanta são signos ou graus de desterritorialização no fluxo descodificado; enquanto o segundo, a linha dura, é a que implica uma sobrecodificação, substituindo os códigos desgastados, e o segmento é um reterritorialização nesta linha sobrecodificada ou sobrecodificante. O segundo tenta a todo instante capturar o primeiro, e este muda a todo instante.
Quer dizer, no campo do político, do social, a todo instante movimentos de descodificação e desterritorialização transpassam a vida das massas. Mas ao mesmo tempo, e de forma indissociável, ocorrem as sobrecodificações e reterritorializações.
Então, movimentos de massa, com seus quanta de desterritorialização e descodificação, se revezam , se precipitam a todo instante, mas é sempre o fluxo mais desterritorializado que opera a conjugação dos processos, determina a sobrecodificação e serve de base à reterritorialização a qual incide sobre as organizações binárias, de ressonância, sobre as classes.
Assim movimentos de massa podem saltar de classes a classes, mas sempre sendo diferentes (como novos quanta), modificando também as relações de classe, criando novas linhas de fuga. E a política no entanto opera por macrodecisões e escolhas binárias, molares, procurando avaliar e respeitar interesses e desejos, moleculares. Portanto o que são afetados verdadeiramente são as massas, o todo, e não as classes exclusivamente.
Então, verificamos a política obedecendo as descritas linhas: a linha de fuga, a linha dura e também a linha flexível, da composição, entrelaçamento de códigos e territorialidades. Em suma, a máquina abstrata da sobrecodificação, a qual define a segmentaridade dura, e a máquina abstrata da mutação, a qual traça as linhas de fuga, compõe o chamado estado simultâneo da máquina abstrata.
No fim, encontramos focos ou centros de poder. Encontramos em organizações tais como a Igreja, ou o Exército. São chamados focos ou centros de poder os segmentos duros; seria um ponto não necessariamente convergente, ou confuso (confundível) de outros centros de poder, mas um ponto de ressonância no horizonte, atrás dos outros centros de poder.
O Estado seria assim considerado uma caixa de ressonância para todos os outros centros de poder. E mesmo num Estado totalitário isso é verdade, com inclusive uma ressonância redobrada. Mas mesmo esses centros são compostos pelas molaridades, instáveis por si só.
E por fim, a função destes centros de poder, e eles têm limite de atuação, é a de traduzir os quanta de fluxo em segmentos de linha. E ainda que daí advenha a potência do poder, advém também a sua impotência, pois ambos se contrapõem e se equilibram, por assim dizer.
Mas não há Poder que se controle, e os próprios segmentos dependem assim de uma máquina abstrata. E quem depende do centro de poder são os agenciamentos, os mesmos, donos entre outros dos desejos, efetuam as máquinas abstratas. E os agenciamentos, finalmente, não param de adaptar as variações de massa e de fluxo aos segmentos de linha dura, em função do segmento dominante e dos segmentos dominados.
- Ainda que a esquizoanálise apresentada não se proponha fazer (por) juízos de valor, ouso eu,Yuri, fazer uma breve análise, suplementar, do entendimento das máquinas abstratas e de guerra.
Um perigo, um próximo ao do texto, o da Clareza, é o mais importante a meu ver: é de que segmentos moleculares se tornem cada vez maiores, e que o mau individualismo - entendido como tentativa incessante de viver em sintonia com um poder advindo do ego humano alimentado, de si e para si - tome conta de tal forma que centros de poder sejam formados por microfascimos, ou desejos insólitos, não reprimidos por outras formas molares de segmentaridade e até conjugados por outras formas moleculares de segmentaridades, e assumam papéis importantes, assumam lideranças talvez carismáticas, influenciadoras de massas, as quais se moveriam sem saber para centralidades destoantes em seus pontos elementares. Os quais estariam compondo na verdade centros vários, gerando assim um caos impossibilitando uma vida em sociedade, porque vontades individuais prevaleceriam de tal modo que não se admitiria uma forma de poder vigente, rumando talvez a separatismos quando não à anarquia, em última instância, ou o retorno de fascismos, com massas hipnotizadas. Interação sem ressonância não é o perigo, o perigo é não haver interação.
E como o homem no Poder adquiri poderes de sua impotência, a tendência é este homem fascista e individualista se prolongar no poder, porque se ele quer deter as linhas de fuga das massas é sim corroborado com a sociedade que “não está nem aí” para o poder, porque só pensa individualmente, querendo expandir suas capacidades individuais e esquecendo-se que para isso é preciso que trocas de informações sejam feitas, mediações, e afinal concessões, porque não existe poder verdadeiro em apenas uma ilha, a ilha da consciência própria. Apesar de que a consciência própria seja importante.
Yuri Cavour Oliveira
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