Banco dos Brics- Que são bancos e para que servem?
Bancos são a espinha dorsal do sistema econômico (que não existe, pois tudo é política), e o vigente é o sistema capitalista. A partir de um banco o dinheiro se multiplica - com empréstimos a juros, embutidos ou não -, circula ; há possibilidade de investimentos; o crédito é criado, há financiamento, para bens móveis e imóveis, para o crédito pessoal, da pessoa jurídica e empresarial. Um mundo sem bancos gera menos riqueza, pois menos endividamento, o qual advém dos já citados créditos à financiamentos.
Isto posto, temos de pensar em três tipos básicos de bancos como existindo: o mais conveniente às pessoas físicas, aquele dedicado às pessoas jurídicas e os bancos de desenvolvimento. Excluiremos os Bancos Centrais, pois sua função é basicamente arbitrar: emitir moeda ou retirá-la de circulação, controlar as taxas de juros, atuar menos ou mais no mercado financeiro para fins de equilíbrio de moeda estrangeira e outros, criar índices e metas artificiais, governamentais. Dentre os três restantes supracitados, o que nos interessa no momento é um tipo de banco de desenvolvimento.
Trata-se de um banco internacional, criado recentemente justamente por países ditos em desenvolvimento. Trata-se de um banco a competir com o Banco Mundial - não é essa a regra do livre-mercado?- e com um fundo monetário internacional. F.M.I. Tal Fundo é um consensuado da capital do capitalismo. Qual fundo, com suas metas e regras ao financiamento, ao longo da década de 1990 contribuiu para acordos (e açodamentos), endividamentos, abertura ao livre-mercado, à livre-concorrência, de/ e entre países em desenvolvimento. Na América Latina, temos dois casos emblemáticos: Argentina e Brasil. Deixemos (e deixamos) os
hermanos de lado, esta vez.
Então, temos o "case" brasileiro: sujeitando-se às regras do Fundo, consensuadas em Washington (em 1989), o país tentou seu salto quântico ao desenvolvimento. E, no meio do caminho, sofreu uma década com qual emaranhamento: a crise no México, na Espanha ou Argentina (em 2001) robotiza o mercado e todos perdem. Quase todos. Acentuemos à exceção aos credores do F.M.I. ! Para eles, quanto mais os países em desenvolvimento se endividassem, melhor, pois haveria garantias de dependência, F.H.C. previu tal fato, excluindo da análise o pensamento ou a premissa ingênuo(a) de que bom para os credores é o pagamento em dia, ou seja, a co-dependência. Pois, eis que os juros a espera da celebração .
Pois bem, o Brasil ao longo da década de 1990, mudou de moeda mais uma vez, pareando-a ao dólar, erradicou a acerba doença da hiperinflação + juros à estratosfera e se arrochou às metas do F.M.I., também privatizando, concedendo à iniciativa privada os ônus e bônus dos mercados automotivo, de telecomunicações, infraestrutura (portos, estradas e aeroportos). O país teve de se vender ao capital externo porque se afundara em dívidas, em parte devido ao descrédito de suas instituições financeiras (antes de 1999), em outra parte devido à ineficiência em termos de lucro das grandes, ou das maiores, empresas estatais. E em grande parte devido à paridade do Real com o Dólar; exportando
commodities e importando manufaturados a balança comercial tendia ao déficit: pois, em termos absolutos de riqueza à quantidades e valores, havia brutal desigualdade: a cada 10 toneladas de minério de ferro exportado, um aparelho de celular era importado. Na década de 2000 a história mudou seu prumo e tino.
A partir de 2003, as taxas básicas de juros (a selic) viram-se em queda-livre. E a poupança passou a ser menos rentável, menos interessante do que ações nas bolsas. O saldo da balança comercial ficou positivado por anos a fio, e o país honrou finalmente sua dívida externa; após uma década naufragado em dívidas por contratação de empréstimos junto ao FMI, o país chegou mesmo a lhe oferecer dinheiro. Aquele banco de socorro ao investimento, que para países sem crédito, em desenvolvimento, concedia dinheiro sob auspícios de arrocho -ortodoxia econômica- se via em apuros.
De fato, mais do que pagar os juros da dívida externa, já em valores exosféricos mas ainda assim miraculosamente quitáveis, o país acumulou reservas em Dólar, que atualmente (julho 2014) estão em cerca de
800 bilhões de reais. Este lastro possibilita, por exemplo, controlar o valor do Dólar, ajustando o câmbio à mercê do Banco Central e seu entendimento sobre o que é melhor para induzir o bom comportamento do mercado; perdão às dívidas de países africanos, empréstimos a juros amigos para países em desenvolvimento ou com vantajosa política bilateral, e financiamentos e parcerias comerciais novas, entre empresas e governos. Em suma, financiamentos internacionais que levam o país a se tornar um
player global: um país com capacidade de influência econômica (política) internacional. Até, financiando na década atual, a construção de portos em países historicamente cerceados. Tudo isto contribui para eventos de magnitude se instalarem aqui, como os mega-eventos esportivos que são a Copa do Mundo de futebol masculino e as Olímpíadas de verão.
Em resumo, no mundo capitalista em que nos instalamos, o dinheiro co-manda. E se um país consegue financiar outros, em parcerias políticas (ou como dizem, politico-econômicas), ele é bem-quisto globalmente. Assim sendo, sua eficiência diplomática também é atestada: novas parcerias politicas, repetindo, nos diversos continentes, surgem com os países em desenvolvimento mais importantes (significantes e significativos), aqueles que compõem o chamado BRICS ( Brasil , Rússia, Índia, China e África do Sul, na sigla em inglês). Com o finalmente destes
players globais fundando um banco de investimento para, quem sabe, nunca mais depender do F.M.I ou do Banco Mundial.
Não somos anões, e espelhos fazem bem.
Y.C.O.
01/08/2014